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O divulgador de ciência deve restringir-se à sua área de especialidade, para que a sua comunicação seja eficaz com o grande público. Foi mais ou menos por estas palavras que Jorge Buescu, Professor Associado de Matemática na Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, abordou o assunto sobre quem e como deve ser efetuada a comunicação de ciência, numa palestra dirigida a jovens muito interessados pela ciência, no último (29º) Encontro Juvenil da Ciência, no dia 3 de setembro, em Castelo Branco.

Jorge Buescu sabe muito do que fala e do que escreve. Não me refiro só à eloquência com que cativa os seus ouvintes, mas também ao magnetismo com que prende os seus leitores ao caminho feito pela sua escrita enxuta de acessórios, movida pelo passeio seguro por trilhos que conhece como as mãos com que os escreve.

Escrita rigorosa na informação que flui sem esforço, talhada pelo trabalho com que semeia o seu talento de cientista, matemático genuíno que, paciente, aguarda a estação da frutificação para oferecer ao leitor o fruto da sua sementeira, descontaminado de enganos. Jorge Buescu permite-nos compreender, sem abismos, o quanto a matemática está presente nas coisas de que não prescindimos no nosso dia-a-dia.

Depois de outras sementeiras (“O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias”, 2001; “Da Falsificação dos Euros aos Pequenos Mundos”, 2003; “O Fim do Mundo Está Próximo?”, 2007) que alicerçaram a crescente qualidade da divulgação de ciência em Portugal e em português, Jorge Buescu apresenta-nos neste seu novo livro intitulado “Casamentos e Outros Desencontros” o melhor da sua lavra. De realçar um denominador comum na editora que aprendemos a conhecer como sinónimo de qualidade e de excelência na divulgação de conhecimento científico: a Gradiva.

De capítulo em capítulo (que se podem ler pela ordem indicada no índice, ou por qualquer uma outra escolhida pela curiosidade ou interesse momentâneo do leitor, sem que este corra o risco de se sentir impreparado), é-nos desvendada a matemática presente em casos, histórias e problemas de sempre e de agora que nos preocupam sem que eventualmente desconfiemos que esteja na matemática a sua possível solução.

Como o professor Carlos Fiolhais escreve no seu prefácio ao livro, a matemática “tem fama de mulher difícil”, mas “não tem maneira de resistir ao Jorge Buescu”. E é com essa mesma capacidade de sedução que Buescu no-la apresenta de vários ângulos, sem qualquer pudor, e sem recear afastar leitores ao incluir números, matrizes, expressões, equações, figuras geométricas.

Jorge Buescu demonstra com este seu novo livro que respeita quem o lê e apresenta a ciência matemática tal qual ela é. Sem rodeios, escreve logo no início da sua introdução que aquilo que mais atormenta e causa frustração a um matemático é o de não lhe fazerem perguntas depois de apresentar os seus resultados, por exemplo, numa reunião científica ou numa aula.

Isto porque é até através da ação espoletada pela pergunta que pode surgir, inclusive, a resposta que o matemático não possuía, ou se abrirem outros e novos horizontes de descoberta. É assim que a ciência avança.

Por fim e se chegou até aqui, pergunto-lhe: que perguntas poderá fazer ao ler “Casamentos e Outros Desencontros”?

 

António Piedade

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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