Pela primeira vez em Portugal, uma equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra (UC) aplicou em contexto clínico um teste de memória desenvolvido nos EUA que permite verificar se as pessoas com Défice Cognitivo Ligeiro (DCL) – patologia muito associada ao período de transição entre o envelhecimento normal e a demência – correm risco de evoluir para a doença de Alzheimer, a demência mais comum na população idosa.
Antes de ser experimentado em doentes com DCL (100) e com doença de Alzheimer (70), seguidos na consulta de demências, coordenada pela neurologista Isabel Santana, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), e ainda num grupo controlo (pessoas saudáveis), o Teste de Recordação Seletiva Livre e Guiada (TRSLG), desenvolvido nos anos 80 pelo especialista norte-americano Buschke, foi adaptado para a população portuguesa por investigadores das Faculdades de Psicologia (FPCEUC), de Medicina (FMUC) e de Letras (FLUC) da Universidade de Coimbra (UC).
Os resultados do estudo financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) revelaram «sensibilidade e precisão elevada na diferenciação entre os doentes com DCL com mais riscos de desenvolver Alzheimer e os que apenas manterão a memória diminuída. Posteriormente, correlacionámos a informação obtida no Teste com o alelo APOE 4 (marcador genético associado à doença de Alzheimer) e confirmámos as nossas conclusões», explica Raquel Lemos, primeira autora do artigo científico acabado de publicar no britânico Journal of Neuropsychology.
Considerando a complexidade da Doença de Alzheimer, o Teste «mostra ser um instrumento útil no diagnóstico precoce desta demência. A informação fornecida pelo TRSLG, de prever se um indivíduo com DCL pode ou não desenvolver Alzheimer, permite orientar os clínicos na adoção de medidas profiláticas e terapêuticas» realça a investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da UC.
O TRSLG, instrumento de avaliação neuropsicológica recomendado pelo Grupo Internacional da Doença de Alzheimer (International Working Group on Alzheimer’s Disease) e já utilizado em vários países da Europa, foca-se na utilização de um novo paradigma na avaliação da memória porque admite uma medida de memória não confundível com a do envelhecimento normal, ao controlar as condições de aprendizagem e de evocação por meio de codificação semântica, recorrendo a categorias semânticas, como por exemplo, profissões ou instrumentos musicais.
Autora: Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa – Universidade de Coimbra)
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