A investigação agora publicada na revista Science Advances mostra que um colapso pré-histórico súbito de uma das mais altas e ativas ilhas oceânicas – a ilha do Fogo, em Cabo Verde – produziu um tsunami gigante com consequências catastróficas.
As provas, que documentam o impacto destas ondas até pelo menos 220 metros acima do nível do mar atual, foram encontradas na ilha de Santiago, 55 quilómetros a leste da ilha do Fogo.
Este estudo reacende o debate que dura há algumas décadas sobre se os colapsos gravíticos de ilhas vulcânicas ocorrem subitamente e de um modo catastrófico, e se são capazes de gerar tsunamis de grandes dimensões. Este trabalho confirma essa capacidade de gerar tsunamis de proporções gigantescas.
As provas encontradas na ilha de Santiago incluem campos de blocos rochosos, alguns da dimensão de autocaravanas, assim como sedimentos marinhos cobrindo a superfície topográfica da ilha, depositados a grande altura acima do nível do mar.
Estes depósitos implicam a ocorrência de uma inundação marinha catastrófica apenas compatível com o impacto de um tsunami gigantesco proveniente de oeste, isto é da ilha do Fogo.
Através da utilização de técnicas de ponta para a datação de rochas estima-se que o tsunami ocorreu há cerca de 73.000 anos, uma idade compatível com a datação pré-existente do colapso do flanco oriental da vizinha ilha do Fogo.
Este estudo estabelece, assim, a ligação causal entre os depósitos encontrados em Santiago e o colapso do Fogo, indicando que o colapso terá ocorrido de um modo catastrófico e produzido um tsunami gigante.
Uma vez que o nível do mar se encontrava então cerca de 50 metros mais baixo que o atual, pode inferir-se que o tsunami inundou o litoral da ilha de Santiago, nalguns locais até altitudes de 270 metros ou mais.
A ilha do Fogo eleva-se atualmente 2.829 metros acima do nível do mar e entra em erupção a cada 20 anos em média, a mais recente das quais foi a erupção que decorreu entre Novembro de 2014 e Fevereiro deste ano.
O vulcão ativo que se observa atualmente foi edificado dentro da cicatriz deste colapso, sendo tão alto e íngreme como o vulcão anterior ao colapso.
A energia potencial para novo colapso de grandes dimensões continua, portanto, a existir. Não se sabe, contudo, se ou quando tal voltará a acontecer. O que se sabe é que é necessário manter a vigilância.
Este estudo foi liderado por Ricardo Ramalho, atualmente na Universidade de Bristol, e contou com a participação dos investigadores portugueses José Madeira, da Universidade de Lisboa, Rui Quartau, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, e Ana Hipólito, da Universidade dos Açores.