As belas noites primaveris, caracterizadas habitualmente por uma atmosfera tépida e perfumada, são propícias à observação do céu. A descoberta das constelações pode servir-nos como fonte de fascínio ou recurso de orientação. E para melhor referenciar no céu as posições dos planetas e de outros objectos interessantes. Veja como:
Consideram-se estrelas da Primavera as que são visíveis (das nossas latitudes), aproximadamente entre as 22 h e as 24 h, numa qualquer noite a meio desta estação florida.
Devido à rotação da Terra, todos os dias desfilam heróis, mitologias e aventuras sobre as nossas cabeças, fruto da imaginação dos nossos antepassados para melhor recordar e conhecer o céu.
Hoje tais histórias têm apenas o sabor da tradição, mas podem ser ainda usadas como orientação. À medida que a noite avança, mais estrelas se elevam a nascente enquanto outras se escondem a poente.
Olhando para o céu muito mais tarde, digamos às 4 h, estaremos já a ver as estrelas que anunciam o Verão, e que poderemos observar a horas mais cómodas na estação quente.
Logo que a escuridão se instala, veremos a Ursa Maior por cima da estrela Polar (Figura 1), com a cauda a desenhar-se para a nossa direita.
A Cassiopeia encontra-se muito baixa, orientada como um “W”, quase a roçar o horizonte norte desimpedido, não sendo por isso de fácil localização nesta época do ano.
Logo ao cair da noite, descobrem-se, a oeste, as constelações de Inverno a despedirem-se do observador, algumas quase a mergulhar no horizonte ocidental, como o Orionte, o Cão Maior, o Cão Menor e o Touro (Figura 2).
Bem acima do horizonte sul, destaca-se a magnífica constelação do Leão, a mais característica da Primavera. Régulo é a sua estrela mais notável. O leitor localizará facilmente o Leão, utilizando as Guardas da Ursa Maior, mas prolongando o seu alinhamento no sentido oposto àquele que nos leva à estrela Polar.
Voltando à Ursa Maior, prolonguemos a sua cauda, seguindo a curvatura em arco que ela evidencia: encontraremos uma estrela muito brilhante e alaranjada (Arcturo), a mais notável da constelação do Boieiro.
Continuando a seguir esse arco imaginário, depois de passar por Arcturo chegaremos a Espiga, a estrela mais brilhante na constelação da Virgem, de brilho branco-azulado.
A partir da Espiga encontram-se facilmente outras referências no céu que nos permitirão localizar as outras constelações da Primavera: o Corvo, a Sul da Virgem. A Coroa Boreal, a este do Boieiro. E a Balança, na faixa do Zodíaco, a este da Espiga.
Se o entusiasmo nos levar a prolongar a noite, começaremos a ver surgir as constelações do Verão, como o Escorpião, a Lira e o Cisne.
Outras constelações são menos evidentes, mas existem técnicas simples e práticas para localizar facilmente todas as constelações e identificar imensas estrelas (ver caixa “Para saber mais”).
E os planetas? Eles mudam de posição em relação às constelações, mas as suas posições podem ser obtidas em http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595 , acionando o link “Localização dos planetas”.
Para saber mais
Guilherme de Almeida — “O Céu nas Pontas dos Dedos”, Plátano Editora, Lisboa, 2013.
http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595
Guilherme de Almeida — “Roteiro do Céu”, Plátano Editora, Lisboa, 5.ª Edição, 2010.
http://www.platanoeditora.pt/index.php?q=C/BOOKSSHOW/17
Guilherme de Almeida e Pedro Ré — “Observar o Céu Profundo”, Plátano Editora, Lisboa, 2.ª Edição, 2004.
http://www.platanoeditora.pt/index.php?q=C/BOOKSSHOW/18
LEGENDAS DAS FIGURAS
Figura 1 – (clique aqui para ver a imagem em tamanho maior) Aspeto simplificado do céu da Primavera, olhando acima do horizonte norte. Evidenciam-se as guardas da Ursa Maior, que definem o alinhamento que nos conduz até à estrela Polar.
Figura 2 – (clique aqui para ver a imagem em tamanho maior) O céu visível na Primavera, acima do horizonte sul (centro do mapa).
À direita mostram-se as estrelas e constelações que mergulham no horizonte logo ao início das primeiras noites primaveris.
À esquerda vêem-se as que aparecem, do lado nascente, a horas já muito tardias.
A linha vermelha marca as estrelas que passam sucessivamente pelo zénite (ponto imaginário do céu na vertical acima do observador).
Texto e mapas de Guilherme de Almeida
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva