Há 94 anos, numa expedição conjunta à Ilha do Príncipe e a Sobral (na região brasileira do Ceará), foi dado um dos mais importantes passos da Ciência moderna: Albert Einstein tinha razão quanto ao desvio dos raios luminosos, nas vizinhanças de um corpo de grande massa.
Nesses idos de 29 de Maio, as equipas lideradas pelo astrónomo inglês Arthur Eddington observaram um grupo de estrelas (nomeadamente, pertencentes ao enxame das Híades na constelação do Touro) durante um eclipse total do Sol.
Durante um eclipse total, a Lua ofusca o brilho solar permitindo a observação de estrelas. A faixa estreita em que o eclipse foi total atravessava a América do Sul e o continente africano, passando exactamente na Ilha do Príncipe.
Numa das fotografias tiradas durante a fase de eclipse total, no Príncipe (onde estava Eddington), para além da coroa solar (zona branca) podem ver-se uns traços brancos que identificam as estrelas observadas.
Os resultados da expedição foram apresentados num artigo chamado “A Determination of the Deflection of Light by the Sun’s Gravitational Field, from Observations Made at the Total Eclipse of May 29, 1919” escrito por F. W. Dyson, A. S. Eddington e C. Davidson, publicado em 1 de Janeiro de 1920 na revista inglesa Philosophical Transactions of the Royal Society.
Os cálculos confirmaram a previsão de Einstein, baseada na Teoria da Relatividade Geral, de que o desvio dos raios luminosos das estrelas era o dobro do que era previsto pela Teoria da Gravitação Universal de Isaac Newton.
O impacto destas notícias foi grande e passou para o grande público. Exemplo disso são dois jornais da época (publicados em Novembro de 1919): o Illustrated London News explica, com um esquema, a observação; o New York Times diz que … não há razão para alarme.
Tal como em outras ocasiões as dimensões e grandezas do Universo tinham sido usadas para testar teorias, tal como se faz num qualquer laboratório. O Universo é um laboratório.
Este tema foi alvo de celebrações especiais durante o Ano Internacional da Astronomia, em 2009, por ocasião do nonagésimo aniversário das observações, e volta a ter
atenção por parte do ano da Matemática do Planeta Terra 2013, reforçando que o progresso da Ciência se faz (também) pelo cruzamento de vários saberes: matemáticos, astrónomos, físicos, geólogos, biólogos, etc, etc …
Autor: João Fernandes
(CGUC, Dep. de Matemática e Observatório Astronómico da U. Coimbra)
* Adaptado do post no blog De Rerum Natura, de 29 de Maio de 2013