Os ecossistemas da Bacia do Mediterrâneo estão em risco devido às alterações climáticas e à poluição atmosférica. O alerta é uma equipa europeia de investigadores, que refere ser urgente estabelecer redes de monitorização mais robustas e de larga escala nesta região.
As consequências das alterações climáticas e da poluição atmosférica não podem ser dissociadas, já que interagem entre si agravando-se mutuamente. Os investigadores frisam a necessidade de estudos mais aprofundados e uma abordagem conjunta nas políticas de preservação ambiental.
Uma equipa de mais de trinta investigadores europeus alerta que a Bacia do Mediterrâneo, uma das regiões com maior biodiversidade do mundo, está em risco por ser também uma das mais vulneráveis à poluição atmosférica e às alterações climáticas.
O alerta surge na sequência de um trabalho de revisão de vários resultados obtidos em Portugal (Parque do Alambre, Azeitão; Herdade da Coitadinha, Barrancos; Companhia das Lezírias, Samora Correia), França, Itália e Espanha, para identificar os impactos atuais e potenciais da poluição atmosférica, alterações climáticas e as suas interações em ecossistemas naturais e semi-naturais.
“As consequências da poluição e das alterações climáticas não podem ser dissociadas, mas esta interação ainda não é tida em conta no desenvolvimento de novas políticas de preservação ambiental.”, explica Silvana Munzi, co-primeira autora do estudo e investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.
“A poluição atmosférica na Bacia do Mediterrâneo ocorre sobretudo na forma de partículas, deposição de azoto e ozono troposférico, que têm origem em atividades industriais, construção, emissões de veículos e práticas agrícolas. No contexto Europeu, esta poluição é exacerbada pelas secas mais frequentes e pela estabilidade típica de massas de ar na região, com consequências importantes para a saúde humana e para os ecossistemas. Infelizmente, os efeitos desta interação sobre a estrutura e função dos ecossistemas Mediterrânicos ainda não foram adequadamente quantificados e, portanto, as suas consequências são mal compreendidas”.
O alerta parte do CAPERmed (Comité para Investigação sobre os Efeitos da Poluição Atmosférica sobre os Ecossistemas Mediterrânicos). Trata-se de um grupo de trabalho de especialistas em ecossistemas mediterrânicos que se reuniu pela primeira vez em 2014 na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Desde então, tem trabalhado com o objetivo de criar uma plataforma de trabalho comum para coordenar estudos sobre a poluição do ar e as suas interações com as alterações climáticas na Bacia Mediterrânica.
Embora existam vários grupos de investigação a dedicar-se ao estudo dos ecossistemas mediterrânicos, a investigação é dificultada pela baixa resolução espacial dos dados de emissões nesta região, em comparação com outras partes da Europa.
“É evidente a urgência de implementar plataformas experimentais comuns e redes de investigação coordenadas na Região do Mediterrâneo, juntamente com redes de monitorização ambiental mais amplas e mais representativas. Pretendemos que o CAPERmed seja um catalisador para que isto aconteça, reunindo a comunidade científica focada em ecossistemas do Mediterrâneo neste esforço”, conclui Silvana Munzi.
Referência do artigo:
Ochoa-Hueso R., Munzi S., Alonso R., et al. 2017. Ecological impacts of atmospheric pollution and interactions with climate change in terrestrial ecosystems of the Mediterranean Basin: Current research and future directions. Environmental Pollution 227:194-206. https://doi.org/10.1016/j.envpol.2017.04.062
Autor: Gabinete de Comunicação do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais
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