Este domingo, dia 3 de novembro, quem olhar para o céu (com os olhos devidamente protegidos) por volta do meio dia, vai ver um eclipse parcial do sol. Será uma pequena penumbra que vai cair sobre Portugal Continental, bem mais visível nos Açores e na Madeira. Em Lisboa, o pico do eclipse será às 12h23, com 14% do Sol ocultado.
Mas em São Tomé vai haver um eclipse quase completo: 98% do Sol vai ficar escondido às 13h44. E isso faz recordar uma história de 1919.
Em 1915, Albert Einstein formulou a sua Teoria da Relatividade Geral, que descreve o movimento de objetos na presença de campos gravíticos. Mas tal como sucede com todas as teorias, esta tinha de ser demonstrada.
Uma boa maneira de testar qualquer teoria consiste em verificar se as suas previsões são corretas. Por exemplo, de acordo com Teoria da Relatividade Geral, o desvio induzido nos raios de luz que passam perto do Sol ronda os 1,7 segundos de arco (o tamanho de um CD visto a 24 km de distância), o dobro do previsto pela teoria de Newton.
Mas, devido ao brilho do Sol, normalmente não podemos ver as estrelas que estão na sua direção. Tal deixa de ser problema durante um eclipse solar total.
Com base nesta ideia, o astrónomo Arthur Eddington liderou uma expedição à ilha do Príncipe (em São Tomé e Príncipe) com o objetivo de assistir ao eclipse de 29 de maio de 1919 e testar assim a teoria de Einstein.
Outra expedição idêntica foi enviada ao Sobral (Brasil). O sucesso desta experiência teve impacto mundial com repercussões que chegam até aos nossos dias.
Um novo eclipse terá lugar nas proximidades do arquipélago de São Tomé e Príncipe amanhã, dia 3 de novembro, e, embora desta vez a faixa de totalidade (região onde se pode ver o eclipse total) passe 25 km a sul da ilha de São Tomé, mesmo assim nesta ilha ainda será possível ver a Lua cobrir cerca de 99% do disco solar.
Estes dois eclipses serviram de pretexto a um evento a decorrer na ilha do Príncipe até ao dia 12 de novembro: “ECLIPSE 2013: História e Ciência no Príncipe“.
Este é organizado pelo Governo da Região Autónoma do Príncipe, Unesco, a empresa HBD e pelo projeto “Matemática do Planeta Terra”, contando com o apoio da União Astronómica Internacional e diversas entidades portuguesas tais como o Programa Ciência Viva, Universidade de Coimbra e o Observatório Astronómico de Lisboa.
Deste modo, durante três semanas estão a decorrer várias atividades que vão para além da observação deste eclipse, incluindo palestras com investigadores, cursos de formação, oficinas, exposições e exibição de filmes.
Se a meteorologia o permitir, este eclipse será parcialmente visível em Portugal. Assim, no nosso território, será possível ver a Lua a cobrir cerca de 5% ou 20% do disco solar, dependendo dos observadores se encontrarem no continente ou nas regiões autónomas.
De notar que os eclipses não se iniciam simultaneamente em todo o lado. Assim, enquanto em Lisboa tal fenómeno ocorre entre as 11h36 e as 13h11, no Funchal ele irá começar um pouco mais cedo e dura algo mais (entre as 10h59 e as 13h17). Já em Ponta Delgada este evento tem lugar das 9h47 até às 11h52.
Nunca é demais recordar os perigos decorrentes da observação direta do Sol. Por este motivo, quem quiser observar o eclipse deve fazê-lo projetando a luz do Sol contra um ecrã ou através de filtros adequados para o efeito (radiografias, vidros fumados ou negativos sobre-expostos não servem).
Autor: Fernando J.G. Pinheiro
(Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra)
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
Figura 1: Esquema representando a deflexão de raios de luz provocada pelo Sol. (imagem: Fernando J.G. Pinheiro)
Figura 2: Atividade de divulgação científica levada a cabo na ilha do Príncipe ao abrigo do projeto “ECLIPSE 2013: História e Ciência no Príncipe”. (imagem: projeto “ECLIPSE 2013: História e Ciência no Príncipe”)