Investigadores da Universidade do Algarve (UAlg) instalaram, pela primeira vez em águas portuguesas, um dispositivo de extração de energia das correntes de maré, nas imediações da barra de Faro-Olhão, numa operação que decorreu de 6 a 8 de Junho.
Na condução desta iniciativa esteve a equipa de investigação do projeto SCORE – Sustentabilidade de Produção de Energia das Correntes de Maré da Ria Formosa, coordenada pelo investigador André Pacheco, do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA).
Este projeto, além de integrar investigadores do CIMA, é composto por investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e do Centro de Investigação sobre o Espaço e Organizações (CIEO) da Universidade do Algarve.
O objetivo deste dispositivo de extração é «avaliar a viabilidade de produção de energia das marés na Ria Formosa», explica a UAlg. Na operação de instalação houve a colaboração da empresa SOFAREIA S.A e foi supervisionada pela Capitania do Porto de Faro.
Em concreto, com este teste real pretende obter-se dados de desempenho do dispositivo, de forma a poder validar modelos hidrodinâmicos para estimar a capacidade de produção de energia à escala comercial.
A isto junta-se o poder prever o potencial impacto de extração de energia das marés em meios estuarinos e avaliar o custo-benefício de projetos desta natureza, utilizando o caso de estudo da Ilha da Culatra para avaliar as necessidades energéticas desta ilha e estimar a percentagem de contribuição que podia ser provida por dispositivos deste género.
É a primeira vez que um centro de investigação em Portugal está a liderar um projeto que envolve diretamente o teste de um protótipo. Mas qual é a utilidade desde protótipo?
André Pacheco, explica que «o Evopod™ 1kW da OceanFlow Energy é um dispositivo à escala experimental de 1:10. O teste decorrerá durante um período de 4 meses, o que permitirá avaliar a operação em ambiente estuarino, nomeadamente a eficiência e eventuais impactos que a extração de energia das correntes poderá ter sobre as comunidades ecológicas, padrões de transporte de sedimentos e circulação de água».
É que «as energias renováveis marinhas são uma prioridade da Estratégia Nacional para o Mar. De todas as fontes de energia renováveis marinhas, a energia das marés pode ter um papel primordial para a produção de energia global no futuro próximo», diz a academia algarvia.
«A energia de marés pode ser prevista durante séculos, quer do ponto de vista de tempo de ocorrência, quer de magnitude, é limpa e não se esgota, em contraste com a imprevisibilidade de outras energias renováveis, como a eólica, solar, das ondas», acrescenta.
Na opinião do coordenador do projeto, «para atingir este objetivo, a indústria tem de desenvolver uma nova geração de equipamentos de extração eficientes, económicos e amigos do ambiente».
No entanto, acrescenta ainda o investigador, «um dos principais obstáculos à instalação de dispositivos de extração de energia das marés à escala comercial, e seus processos de licenciamento, são os potenciais impactes negativos nas comunidades ecológicas induzidos pela alteração da hidrodinâmica e morfologia do ambiente marinho».
O SCORE foi pensado para contribuir para a abertura de novas linhas de investigação em energias renováveis marinhas na Universidade do Algarve, nomeadamente promovendo a Ria Formosa como local de teste de dispositivos de extração de energia marinha, como uma fonte de energia sustentável e alternativa para o fornecimento energético regional/local.
Este projeto baseia-se no conhecimento já existente na UAlg, aliado à capacidade de inovação e otimização do capital humano dentro dos centros da Academia, num esforço conjunto para desenvolver investigação de ponta em energias marinhas.
Para André Pacheco, «a recolha e processamento destes dados permitirá otimizar a capacidade de extração dos dispositivos, propor procedimentos de mitigação face a potenciais impactes ambientais e desenvolver medidas para uma efetiva avaliação ambiental estratégica, analisando o custo/benefício de implementação, operação e desmantelamento de parques de energia de marés, com base nas necessidades energéticas atuais».