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Uma equipa de cinco investigadores do Centro de Neurociências (CNC) e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu uma vacina oral para a Hepatite B, a mais perigosa das hepatites que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), é responsável pela morte de 600.000 pessoas, anualmente, em todo o mundo.

Já testada in vivo (em ratinhos) com sucesso, a nova vacina oral apresenta claras vantagens em relação às atuais vacinas injetáveis. Para além do conforto que representa para o doente, «terá um grande impacto social e económico nos países em desenvolvimento. Por um lado, porque dispensa pessoal técnico para a administração da vacina. Por outro, considerando que esses países não conseguem estabelecer as cadeias de frio necessárias para manter as propriedades da vacina – muitas, quando vão ser administradas já estão deterioradas, gerando prejuízos avultados – as vacinas orais são, teoricamente, mais estáveis, permitindo, por isso, uma vacinação mais efetiva», realça a coordenadora do projeto, Olga Borges.

Outra mais-valia, sustenta a docente da Faculdade de Farmácia, «ao contrário da vacina injetável que não é capaz de produzir anticorpos específicos ao nível das mucosas, a vacina oral induz a produção de uma elevada concentração de anticorpos que travam a entrada do vírus. É uma grande vantagem, dado que a hepatite B é uma doença sexualmente transmitida (entra pela mucosa ligada aos órgãos reprodutores), sendo, aliás, a principal forma de contágio em países desenvolvidos. Neste caso o vírus será combatido na porta de entrada do nosso organismo, impedindo a sua introdução na corrente sanguínea».

Finalmente, os investigadores estão convictos que esta nova vacina poderia trazer benefícios também a quem já está infetado com o vírus da hepatite B.

A nova vacina oral resulta de quase uma década de trabalho científico, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela GlaxoSmithKline.

Recorrendo à nanotecnologia, os investigadores desenharam e produziram, integralmente, nanopartículas semelhantes ao próprio vírus, com o objetivo de proteger e transportar o antigénio (proteína da superfície do vírus com capacidade para estimular o sistema imunitário a produzir anticorpos específicos) de forma segura, até aos órgãos do sistema imunitário que vão desencadear toda a resposta imunológica.

Numa linguagem muito simplista, pode dizer-se que a equipa construiu um “vírus artificial” contendo o antigénio e adjuvantes (os denominados imunopotenciadores ou imunomodeladores) que assegura o transporte eficaz ao longo de todo o percurso na mucosa oral, protegendo o antigénio dos vários ambientes adversos que contém enzimas e ácidos capazes de o destruírem.

As nanopartículas desenvolvidas possuem «um núcleo formado por quitosano, um derivado da quitina, polímero natural encontrado na parede celular dos fungos e do exosqueleto dos artrópodes, onde são associados o antigénio e o imunomodulador. Estas nanoparticulas são depois revestidas com um segundo polímero, o alginato de sódio, permitindo a sua passagem no tubo digestivo sem serem degradadas», observa Olga Borges.

Neste momento, o grupo da Faculdade de Farmácia tem em curso o desenvolvimento de nanopartículas que possibilitem, também, a administração da vacina através da mucosa nasal, a qual pode ser mais eficaz no que diz respeito à indução de anticorpos ao nível das mucosas nos órgãos reprodutores.

À questão “Quando é que esta vacina oral poderá entrar no mercado?”, a também investigadora do grupo de Vetores e Terapia Génica do CNC responde que «do ponto de vista científico, o trabalho está concluído, mas a comercialização da vacina oral depende do interesse da indústria porque o próximo passo será a transposição para os ensaios clínicos».

A investigação da equipa de Coimbra vai ao encontro dos objetivos da OMS: a aposta no desenvolvimento de vacinas mais eficazes, mais baratas, mais estáveis e de mais fácil administração.

 

Autora: Cristina Pinto
Assessoria de Imprensa da Universidade de Coimbra

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