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Guilherme de Almeida(2)O Livro “O Céu nas Pontas dos Dedos”, do divulgador de astronomia Guilherme de Almeida, foi recentemente incluído no programa Ler+ do Plano Nacional de Leitura. António Piedade, coordenador do projeto «Ciência na Imprensa Regional», entrevistou aquele astrónomo amador.

Ciência na Imprensa Regional – Porque é que escreveu este livro?

Guilherme de Almeida – Depois de quatro livros publicados sobre o tema, com diversas abordagens e diferentes níveis de profundidade, não fiquei por aí, e, ao longo dos anos, fui tomando o pulso aos leitores e aos seus interesses e necessidades de apoio no conhecimento do céu noturno.
Verifiquei que havia espaço e oportunidade para um livro de primeira abordagem, com figuras apelativas para os mais jovens, munido de uma ferramenta multifuncional interativa que fosse facilmente ajustável pelo leitor, de modo a mostrar o céu visível em cada data e em cada hora, para qualquer noite do ano e válido para mais de 100 anos.
Surgiu assim “O Céu nas Pontas dos Dedos”. O público precisava de um livro com estas novas características e com capacidade para fazer previsões do aspeto do céu no dia e hora desejados.
A ferramenta multifuncional que refiro é precisamente o planisfério celeste multifuncional, que já vem com o livro e constitui uma forma de acesso ao céu muito simples de utilizar, com 24 modos de utilização, todos explicados no livro.
“O Céu nas Pontas dos Dedos” passou a ser o novo livro de entrada. É por ele que se deve começar, abrindo caminho para os outros livros acima referidos que o desenvolvem e complementam.
Os livros anteriores foram “Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas”, em colaboração com Máximo Ferreira, “Roteiro do Céu”, “Observar o Céu Profundo”, em colaboração com Pedro Ré, e finalmente “Telescópios”. Todos estes livros são publicados pela Plátano Editora, de Lisboa.

CIR – Que tipo de leitores é que tinha em mente quando o escreveu?

Guilherme de Almeida – Pode dizer-se que é um livro para todos, dos 9 aos 90 anos. Numa primeira fase, “O Céu nas Pontas dos Dedos” é destinado ao público leigo, onde se incluem os jovens e também os adultos com curiosidade pelo céu.
Mas não se limita só a esse público. Afinal, quem é que nunca desejou saber o nome de uma estrela? Ou apontar, a dedo, uma estrela brilhante de nome conhecido? Como fazer para encontrar Régulo, no Leão? Onde fica a constelação do Escorpião? Como localizar Orionte e o Touro, numa noite de Inverno? E a galáxia de Andrómeda?
Com os seus diagramas de orientação celeste, este livro dispensa o uso ou a ajuda de qualquer instrumento óptico, pelo que todos o podem utilizar sem necessidade de equipamento especial, ganhando familiaridade com o céu noturno. E também não requer conhecimentos prévios.
O livro e o planisfério celeste são especificamente concebidos para o território nacional e o planisfério foi pensado para uma grande versatilidade (tem 274 mm de diâmetro).

“Comandar o céu” com os próprios dedos, rodando o planisfério celeste, é fascinante e foi essa vertente que deu origem ao título da obra

Se o leitor quer realmente participar nestas “jornadas nas estrelas”, eis aqui o convite para essa grande aventura.
No entanto, não ficamos por aqui! A obra foi concebida de modo a permitir a acompanhar a progressão do leitor, em diferentes níveis de utilização de acordo com o perfil, a idade e a experiência gradualmente adquirida por cada pessoa.
À medida que se vai sabendo mais, encontram-se outras formas de utilização do livro e do planisfério celeste que o acompanha. Do principiante ao observador experiente, seja qual for a idade, desde que se possa ler, todos encontrarão utilidade nesta obra.
Isto também se aplica às pessoas que dizem nada conhecer do céu noturno: em pouco tempo isso mudará. Porém, quem já conhece o céu noturno pode usar as capacidades do planisfério celeste para planear as suas oportunidades de observação, fazer previsões e determinar os melhores tempos de visibilidade de cada parte do céu que pretenda explorar — a olho nu ou com instrumentos de observação, complementando os atlas celestes..

CIR – Este livro pode ajudar-nos a compreender melhor a astronomia? Como?

Guilherme de Almeida – Em conjunto com o planisfério celeste que o acompanha, “O Céu nas Pontas dos Dedos” vai ajudar o leitor a localizar e identificar facilmente as principais estrelas e a reconhecer as constelações que povoaram o imaginário dos nossos antepassados e que ainda hoje nos servem como referência para localizar os planetas e outros astros no céu.
Trata-se de uma obra para acompanhar as observações do céu a olho nu, o que à primeira vista parece pouco ambicioso. Muitos dirão: “observar a olho nu para quê, quando existem telescópios?”
Mas, note-se, conhecer o céu a olho nu é um requisito importantíssimo para depois utilizar proveitosamente binóculos e telescópios, sabendo para onde os apontar e tendo a capacidade para se orientar no céu noturno.
Na verdade há muitos — demasiados — armários e arrecadações pelo país fora, com telescópios abandonados ao pó e ao esquecimento, apenas porque foram comprados numa fase em que o interessado não conhecia o céu a olho nu. Conhecendo o céu, a exploração de um telescópio é muito mais produtiva e interessante.
Conhecer como é que o céu “funciona”, ao longo das horas de cada noite e ao longo dos meses e das estações do ano, é uma aprendizagem interessante e útil, que abre a porta para as observações seguintes e para novos horizontes de compreensão.
Seguindo “O Céu nas Pontas dos Dedos”, o leitor encontrará um guia prático e fácil de usar, informações simples e concretas, conselhos úteis e sem rodeios desnecessários e desmotivantes, a par com soluções eficazes para conhecer o céu e iniciar “com o pé direito” as suas observações celestes. É como ter ao lado um amigo que nos apoia constantemente.
“Comandar o céu” com os próprios dedos, rodando o planisfério celeste, é fascinante e foi essa vertente que deu origem ao título da obra.
Em suma, o leitor é convidado a praticar e a aventurar-se no conhecimento progressivo do firmamento. As posições mensais dos planetas, variáveis no tempo, são disponibilizadas online pelo autor, até ao ano 2024, no website da Editora, segundo as indicações dadas na página 21 do livro.
Pode ver-se aqui mais informação sobre o livro: http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595

capaCIR – Agora que “O Céu nas Pontas dos Dedos” está no programa Ler+ do Plano Nacional de Leitura, espera que chegue a outros públicos?

Guilherme de Almeida – Penso que sim. Através do Plano Nacional de Leitura (PNL), o livro vai mais diretamente ao encontro do público juvenil, tradicionalmente curioso por estes assuntos.
A inclusão do livro no PNL dará a conhecer o livro a esse outro público numa extensão muito maior do que as estantes das livrarias.
E também aos professores desses jovens e crianças, que o poderão utilizar para explicar conceitos, fenómenos e exemplificações de uma forma direta e interativa. Mimificar o movimento aparente do céu com os próprios dedos dá uma sensação indescritível que todos apreciarão..

CIR – Como caracteriza a evolução da divulgação da astronomia em Portugal nas últimas décadas?

Guilherme de Almeida – Na minha opinião, desde os anos 50 que esse interesse tem vindo a crescer. Com a entrada de tópicos de Astronomia no ensino básico (8º ano), em 1993, esse interesse cresceu ainda mais.
Nesse ano, eu e o Máximo Ferreira publicámos a primeira edição da nossa “Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas”, que desde aí conheceu sete edições, todas esgotadas.
Sem falsas modéstias, este livro contribuiu para um incremento desse interesse, fazendo luz sobre vários assuntos que o cidadão interessado pelo céu gostaria de ver explicados em linguagem clara.
Esse livro mostra como é que o leitor pode fazer observações astronómicas por si mesmo, em vez de ler apenas sobre elas, como usualmente costumava ser, o que deu um novo alento ao tema.
O interesse pela observação do céu foi também potenciado pela visibilidade de dois cometas excecionalmente brilhantes e bem visíveis até a olho nu: o Hyakutake (1996) e o Hale-Bopp (1997).

Guilherme de Almeida: «este livro contribuiu para um incremento desse interesse, fazendo luz sobre vários assuntos que o cidadão interessado pelo céu gostaria de ver explicados em linguagem clara»

Um importante factor de expansão foram os eventos e encontros de divulgação das observações astronómicas, como a Astrofesta e outros, que deram ao público acesso à observação com telescópios, em locais com pouca poluição luminosa, mostrando às pessoas que podiam ver com os seus próprios olhos muito mais do que alguma vez imaginaram que seria possível.
Outros fatores de expansão do interesse pela observação do céu foram os programas oficiais de divulgação, promovidos Ministério da Educação e pela Agência Ciência Viva: “Astronomia na Praia” e mais tarde a “Astronomia no Verão”, cuja implementação contou com a colaboração de centenas de astrónomos amadores e muitas dezenas de telescópios colocados por todo o território português, possibilitando a qualquer um a observação dos céus (gratuita) e explicações em direto. Chegou a haver mais de cinco ou seis eventos de divulgação de Astronomia por ano. Atingiu-se um pico por volta de 1998-2004.
Desde aí houve algum decréscimo no número de interessados, com uma clivagem curiosa. Por um lado, o número de pessoas interessadas por simples curiosidade reduziu-se, embora o céu continue a estar à nossa disposição para que o observemos, mesmo que seja apenas por prazer.
Por outro lado, embora o número de astrónomos amadores tenha também decrescido, a sua especialização aumentou.
Há atualmente astrónomos amadores a fazer trabalhos de excelente nível e qualidade em termos de fotografia lunar e planetária, fotografia do céu profundo, observação e fotografia solar em diversos comprimentos de onda específicos.
Outros ainda colaboram com astrónomos profissionais na deteção de planetas extra-solares, registo automático de meteoros, etc. Estas últimas atividades são usualmente designadas como colaboração PROAM (colaboração entre PROfissionais e AMadores).
O avanço dos equipamentos, a maior disponibilidade de telescópios e o acesso a software de apoio a todas estas atividades foram outros tantos fatores no despoletar desta especialização.

 

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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