Pela janela do meu planeta, entra a luz que o enche de vida.
É uma janela admirável, debruada com pores do sol, alvoradas e outros fenómenos luminosos.
Por ela, entra a Luz Solar com que “retino” e admiro os dias terrestres. Por ela, vejo outros pontos irradiadores e refletores de luz, quando, por ausência ou diminuição da primeira, me encho de noite, me tapo com ócio, ou me deslumbro com o que estava ofuscado. De noite, reflete no solo Lunar, mostrando-o diferente de quarto em quarto.
Luz é também a parte visível ao meu olho de toda a radiação eletromagnética que as estrelas, como o Sol, irradiam para o espaço. Luz é energia que aquece o meu planeta e que as plantas usam para “juntar” átomos de carbono na forma de açúcares.
A janela do meu planeta não está sempre com a mesma abertura ao longo da sua viagem de translação solar. O trilho elíptico e o eixo inclinado do meu pião planetário fazem com que, ao longo do ano, a luz passe pela janela com intensidades e periodicidades diferentes. Como resultado, o meu planeta veste-se com estações de vida, composições e estados físico-químicos diferentes, de quarto em quarto, por estas latitudes.
É como se a janela do meu planeta tivesse uma portada e uma persiana. A luz que por ela entra depende da posição combinada dos dois obliteradores.
A persiana sobe e desce com uma periodicidade diária. Ao subir, enche o dia de Luz. Quando desce, apaga as sombras, deixando breu.
A portada abre e fecha com uma frequência e amplitude que depende da latitude em que estou no meu planeta. No equador, está sempre aberta. Nos trópicos, oscila a um ritmo quaternário, mas nunca está totalmente aberta ou fechada. Nos pólos, é binário: seis meses aberta, seis meses encerrada.
Nesta altura natalícia, mais precisamente no dia 21 de Dezembro, àss 22h23 min (hora continental), a portada da janela do meu planeta recomeçou a abrir-se, para semear, dia a dia, a noite de luz.
Dizem os antigos que é a vitória da luz sobre as trevas. Diz a ciência que ocorreu o solstício de Inverno.
Dizemos todos que, por estas latitudes, os dias vão ter cada vez mais horas de luz, até que a janela do meu planeta fique o mais aberta que lhe é possível por alturas do solstício de Verão.
Mas isso é só para o Ano Novo que, por estes dias de festa, também começa.
Luz crescente, renovada esperança, acordam as sementes adormecidas, florescem os botões de fertilidade. Maior exposição solar e com maior intensidade, maior a fotossíntese. Maior também a temperatura e os cristais de gelo, refulgentes estrelas de natal, recompõem-se na água líquida, fluido de vida, de viagem, de mudança.
Bom Natal!
Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva