Um grupo de investigadores do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a desenvolver soluções para reduzir os impactos ambientais causados pelos dejetos das vacas.
Estes animais, segundo um estudo do Worldwatch Institute, são responsáveis pela emissão de 51% de todos os gases com efeito de estufa (GEE), e estão na origem de alterações climáticas, como o aumento da temperatura.
“A utilização das técnicas que otimizámos permite uma redução de até 50% da emissão de GEE, como o dióxido de carbono e o metano, e de quase 100% da emissão de outros gases prejudiciais, como o amoníaco”, elucida o investigador do CITAB Henrique Trindade.
A equipa está a tratar chorume (dejetos animais misturados com água) através de processos de separação das frações sólida e líquida e utilizando aditivos químicos e biológicos que permitem a redução dos gases.
“Os bovinos são responsáveis pela emissão de GEE em dois momentos distintos, no interior do animal: durante o processo digestivo e durante a transformação dos efluentes [dejetos] produzidos.” Cada uma destas etapas corresponde, “em sistemas de produção intensiva, respetivamente, a cerca de 60% e de 40% do total das emissões de gás metano”, revela o também docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
O processo de tratamento “é relativamente barato e tem viabilidade económica”, segundo Henrique Trindade, mas vai obrigar à formação dos produtores para a otimização dos resultados. Por isso, o projeto ReUseWaste, que engloba oito unidades de investigação e ensino e oito empresas de sete países europeus, prevê a realização de sessões de formação e de esclarecimento.
Além disso, o grupo do CITAB já está a desenvolver estudos semelhantes na área da suinicultura e vai avançar ainda este ano com um projeto idêntico com aves.
Cowspiracy e as emissões de gases estufa das vacas
Segundo Henrique Trindade, uma vaca emite, em média, 115 quilos de gás metano por ano, o que equivale a quase 3 mil quilos de dióxido de carbono, “pois, considerando o efeito de estufa num intervalo de 100 anos, um quilo de gás metano equivale a 25 quilos de dióxido de carbono. Este é um dos principais contributos destes animais e outros ruminantes para as alterações climáticas.”
Contudo, e apesar do documentário Cowspiracy, recentemente exibido em Portugal, que aponta a produção animal como a causa número um da emissão de GEE e de outros problemas ambientais, o investigador do CITAB realça a importância da pecuária.
“Os animais têm um papel importante no equilíbrio dos ecossistemas agrícolas, na estabilidade económica e ajudam a valorizar muitos recursos vegetais, como a erva, que não são adequados para utilização direta na alimentação humana.”
Além disso, o setor animal permite obter matérias-primas e produtos essenciais como as peles, a lã e os fertilizantes orgânicos (estrumes).
Legenda da imagem: Câmaras estáticas utilizadas na medição de gases de estufa emitidos pelo solo tratado com chorume