Foram encontrados ovos fossilizados de um possível ancestral comum às aves e aos dinossauros.
Quem é que nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Não querendo esgravatar esta pergunta redundante, um facto é que a observação e análise de um dado ovo permite hoje identificar a espécie que o gerou. Essa identificação baseia-se na observação da postura de determinado tipo de ovo por parte de indivíduos do género feminino de uma certa espécie.
Diga-se, a propósito, que se designam por ovíparas as espécies cujo “embrião se desenvolve dentro de um ovo em ambiente externo e sem ligação com o corpo da mãe”. Aves, répteis, peixes, insetos, são exemplos de animais ovíparos.
Em relação às espécies extintas que se descobriu também serem ovíparas, a identificação do tipo de ovos com uma dada espécie é paleontologicamente efetuada a partir da correspondência entre ovos fossilizados encontrados junto de espécimes embrionários, juvenis ou adultos também fossilizados. Ou pelo menos por aqueles terem sido encontrados no mesmos períodos e estratos geológicos que as espécies que a eles ficaram associadas.
Como em muitas outras áreas do conhecimento, esta não está isenta de muitas questões por responder, dúvidas, fósseis que faltam para completar o grande puzzle da evolução. Há inúmeros elos “perdidos”, ou melhor e neste caso, “ovos perdidos”, necessários para robustecer as hipóteses em cima da mesa do paleontólogo. E uma dessas questões tem a ver com a identificação da espécie ancestral e comum às aves e aos dinossauros terópodes. Estes últimos incluem os dinossauros bípedes do Cretácico superior, como os hoje “populares e mediáticos” tiranossauros e Velociraptor.
O fóssil dessa espécie comum continua a permanecer incógnito entre algum sedimento, estrato geológico ainda não explorado. Contudo, o seu ovo poderá já ter sido encontrado.
É essa a conclusão de um estudo publicado em março deste ano na revista Palaeontology. Nesse artigo, paleontólogos espanhóis da Universidade Autónoma de Barcelona e da Universidade Complutense de Madrid, apresentam as conclusões das análises de um conjunto de ovos fósseis encontrados na região de Montsec, perto de Lérida, na Catalunha. Todos os ovos são pertencentes a uma mesma espécie desconhecida de dinossauro terópode que terá vivido entre 70 e 83 milhões de anos atrás.
E o que é que isto tem de novo? É que estes ovos têm uma forma ovoide assimétrica, ao contrário de outros encontrados para dinossáurios terópodes do mesmo período que apresentam uma forma simétrica!
Ou seja: encontraram-se ovos que se assemelham aos das aves (do tamanho dos ovos das galinhas) mas que foram gerados por uma espécie ainda desconhecida de dinossauros terópodes.
E como é que os cientistas sabem que a postura foi efetuada por terópodes e não por aves? A análise da estrutura cristalina da casca aparenta-os mais à dos ovos de dinossauros do que aos dos das aves. Uma nova espécie de ovo com a casca do tipo da dos ovos dos dinossauros terópodes do mesmo período, mas com a forma ovóide assimétrica como a dos ovos das aves.
Assim, na falta do fóssil da espécie que os gerou, os ovos serviram aos cientistas para identificar a nova ooespécie*, a que deram o nome de Sankofa pyrenaica, candidata a ser o elo ancestral comum a aves e dinossauros.
Neste caso, bem se pode dizer que foi o ovo que “apareceu” primeiro!
*classificação dos ovos
Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional
Referência do artigo
Nieves López-Martínez, Enric Vicens. A new peculiar dinosaur egg, Sankofa pyrenaica oogen. nov. oosp. nov. from the Upper Cretaceous coastal deposits of the Aren Formation, south-central Pyrenees, Lleida, Catalonia, Spain. Palaeontology, 2012; 55 (2): 325 DOI:10.1111/j.1475-4983.2011.01114.x