Um novo estudo demonstra que, para os morcegos, o sexo importa: machos e fêmeas respondem de forma diferente à fragmentação e degradação dos seus habitats, uma das mais sérias ameaças à biodiversidade. É o primeiro estudo do género realizado com morcegos, e as suas conclusões permitirão o desenvolvimento de planos de conservação mais específicos e eficazes.
As florestas tropicais estão entre os ecossistemas mais ameaçados do mundo. A pressão causada por atividades humanas como a agricultura ou a indústria causa a degradação e fragmentação dos seus habitats.
Os morcegos desempenham um papel fundamental na manutenção destes ecossistemas ao dispersarem sementes, polinizarem plantas e reduzirem as populações de várias espécies de invertebrados dos quais se alimentam. Embora vários estudos abordem o impacto para os morcegos da fragmentação e degradação dos seus habitats, nenhum havia investigado as suas respostas específicas em função do sexo. Até agora.
Este estudo, publicado na revista Biotropica, usou como ponto de partida mais de 2000 capturas de duas das espécies de morcego mais comuns na Amazónia, Carollia perspicillata e Rhinophylla pumilio.
“As fêmeas das duas espécies que estudámos têm o seu período de maior atividade reprodutiva durante a estação seca. Se as fêmeas estiverem grávidas ou a amamentar, a forma como respondem aos diferentes tipos de vegetação que existem na paisagem e à sua disposição – que medimos através daquilo a que chamamos as métricas da composição e configuração do habitat – será diferente. Isto porque as fêmeas estarão mais dependentes da disponibilidade de fruta, ou não poderão viajar tão longe quanto os machos para buscar alimento, por exemplo”, explica Diogo Ferreira, um dos coordenadores do estudo, investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais. Este estudo sugere assim mais um nível de complexidade na forma como os morcegos tropicais respondem a alterações desta escala nos seus habitats.
A taxa de fragmentação das florestas tropicais deve aumentar nas próximas décadas. A capacidade de conservarmos os vertebrados das florestas tropicais dependerá da nossa compreensão da resposta destas espécies à fragmentação.
“Neste contexto é importante perceber se os machos e fêmeas respondem de forma diferente. Especialmente porque as modificações na estrutura da população – como por exemplo a proporção entre machos e fêmeas – pode contribuir para reduzir ou ampliar os impactos generalizados da perda de floresta e fragmentação do habitat”, conclui Ricardo Rocha, primeiro autor do estudo e, à data de realização do estudo, investigador no cE3c.
Atualmente Ricardo Rocha é investigador na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Referência do artigo:
Rocha R, Ferreira DF, López-Baucells A, Farneda FZ, Carreiras JMB, Palmeirim, J and Meyer C (2017) Does sex matter? Gender-specific responses to forest fragmentation in Neotropical bats. Biotropica. DOI: 10.1111/btp.12474 http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/btp.12474/abstract
Autor: Gabinete de Comunicação do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais
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