Qualquer teoria científica precisa de ser validada por resultados, factos experimentais. Sem estes, as teorias científicas não podem ser confirmadas, nem rejeitadas, pela comunidade científica internacional.
É como se as teorias científicas navegassem no mar das incertezas em naus feitas de factos: só as teorias com naus de factos robustos navegam; as outras afundam-se.
E os resultados experimentais são tanto mais robustos quanto maior for a sua reprodutibilidade. Nas mesmas condições experimentais, qualquer cientista deve conseguir obter os mesmos resultados.
Vem isto a propósito da deteção, pela terceira vez, de ondas gravitacionais pela experiência LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observator – dois detetores duplos instalados nos EUA, em Livingston e Hanford), na qual trabalham mais de mil cientistas de todo o mundo.
A deteção foi efetuada a 4 de Janeiro deste ano de 2017 e publicada no passado dia 1 de Junho, na revista Physical Review Letters.
É a terceira vez que se confirma a passagem de ondas gravitacionais pela Terra, robustecendo a previsão teórica feita pelo físico Albert Einstein há pouco mais de 100 anos.
Einstein previu que certos fenómenos não só deformariam o espaço-tempo, como dariam origem a ondulações, a ondas gravitacionais, que se propagariam nesse “tecido” cósmico.
Assim como o choque de uma pedra com a superfície de um lago gera ondas que podemos sentir na margem, acontecimentos envolvendo grandes massas em movimento acelerado provocam ondulações que se propagam no espaço-tempo à velocidade da luz.
No caso desta terceira deteção, a origem das ondas deveu-se à colisão de dois buracos negros, que giravam sobre si mesmos, há cerca de 3 mil milhões de anos, dando origem a um só com uma massa estimada em 49 vezes a do Sol!
A teoria prevê que as ondas gravitacionais resultantes destes eventos cósmicos muito distantes, no tempo e no espaço, sejam muito ténues.
A sua deteção só tem sido possível graças à grande sensibilidade dos instrumentos usados nesta experiência LIGO. E os cientistas anunciam que a sensibilidade destes instrumentos irá aumentar ainda mais nos próximos tempos, através de melhorias técnicas previstas para o final de 2018.
Entretanto, espera-se que os detetores europeus instalados na Alemanha (GEO600) e na Itália (VIRGO), comecem a funcionar neste Verão, o que irá permitir robustecer as observações experimentais e aumentar a sensibilidade da deteção.
Recorde-se que a primeira deteção ocorreu no dia 14 de Setembro de 2015 e a segunda a 15 de Junho de 2016. Com esta terceira que agora se divulgou confirma-se ainda mais que Einstein está correto e que temos uma nova janela para observar e compreender melhor o Universo em que existimos.
Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva