Os dinossáurios não passaram de moda… nem estão em hibernação. O que, em meu entender, acontece, é que tem havido menos acções de qualidade científica e pedagógica viradas ao grande público e um menor número de interessados a falarem deles nos media. Pelo contrário, no recato da investigação científica nunca houve entre nós tanta produção e isso alegra-me bastante.
Sem falsa modéstia, devo dizer que a semente que ajudei a lançar à terra, não como especialista (que toda a gente sabe que nunca fui nem sou) mas como divulgador pela palavra escrita e falada e como responsável de mais de uma dezena de grandes exposições levadas a efeito no Museu Nacional de História Natural e noutras instituições, germinou e é hoje uma “árvore” a dar frutos.
Não obstante a tradicional escassez de financiamentos, nunca tivemos tanta gente a trabalhar, a tempo inteiro, em paleontologia e paleobiologia dos dinossáurios. Nunca, como nos últimos anos, conduzimos ou participámos em tantas escavações no país e no estrangeiro. Nunca se publicou tanto sobre este tema.
Na continuação de uma linha que iniciámos em 1992, com “Dinossáurios regressam em Lisboa“, vai ter lugar no próximo mês de Outubro, no Pavilhão do Conhecimento, da Agência Ciência Viva, nesta cidade, na qual estou envolvido, uma exposição sobre o celebérrimo Tyrannosaurus rex, na qual se discute se este grande carnívoro foi um necrófago ou um predador activo, apoiada no saber científico de profissionais nas áreas da geologia e da paleontologia.
O que está, na verdade, em hibernação, é a vontade política dos responsáveis das administrações central e local em levar a cabo, concluir ou prestar assistência de manutenção ou de conclusão de importantes projectos que lhes entreguei, alguns deles há mais de uma vintena de anos.
São, nomeadamente, os casos das seguintes jazidas:
• “Pego Longo” do Cretácico superior, com cerca de 95 milhões de anos, perto de Carenque, com projecto de arquitectura aprovado pela Câmara Municipal de Sintra, em 2001, completamente deixado ao abandono;
• “Pedreira do Avelino“, “Pedra da Mua” e “Lagosteiros“, as duas primeiras com pegadas de herbívoros (saurópodes) do Jurássico, com cerca de 150 milhões de anos, e a última do Cretácico inferior, com cerca de 120 milhões de anos, cujos projectos continuam perdidos em uma ou mais gavetas da autarquia de Sesimbra;
• “Pedreira do Galinha“, com pegadas de herbívoros do Jurássico médio, com cerca de 175 milhões de anos, a única visitável, cuja musealização não foi concluída e que, por falta de manutenção, se encontra num estado de degradação preocupante;
•”Vale de Meios” (Alcanede, Santarém), uma importante jazida com pegadas de terópodes (carnívoros) do Jurássico médio, com cerca de 175 milhões de anos, à espera de melhores dias.
O alto valor científico, o correspondente interesse pedagógico e a monumentalidade destas jazidas justificam o investimento que nelas se possa fazer (algo insignificante face ao que já foi feito), na certeza de que o seu potencial interesse turístico o compensará amplamente.
Se a incúria por parte das administrações, “em tempos de vacas gordas”, foi a que está à vista, não é difícil imaginar o destino deste valiosíssimo Património Natural, nos tempos que correm.
Autor: António Galopim de Carvalho
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva