Desde a Antiguidade e até, pelo menos, ao século XVIII, acreditou-se convictamente que os cristais de quartzo hialino, isto é, incolor e transparente, eram ocorrências de água no estado sólido, num grau de congelação tão intenso que era impossível fazê-los voltar ao estado líquido.
Os gregos chamavam cristal ao gelo (krystallos) e foi sob este nome que esta espécie mineral na sua variedade hialina passou aos domínios da alquimia, primeiro, e da mineralogia, depois. Teofrasto (372-287 a. C) distinguia o cristal-água (o gelo) do cristal-pedra (o quartzo hialino).
No século I a. C., Diodoro da Sicília reafirmava esta convicção e Séneca, no séc. I d. C., precisava que esta variedade era água celeste congelada durante um período de grandes frios. Os romanos mantiveram este entendimento, latinizando o nome para cristallus, como se pode ler num dos 38 volumes da “História Natural”, de Plínio, o Velho, (23-79 d. C.).
Foi o carácter transparente e incolor do cristal-pedra que acabou por dar o nome ao vidro industrial de alta qualidade, a que hoje chamamos simplesmente “cristal”.
A expressão cristal-de-rocha, aplicada ao quartzo hialino, surgiu muito mais tarde, no séc. XIX, para distinguir o mineral do produto manufaturado.
A palavra cristal acabou, depois, por se generalizar aos corpos poliédricos minerais ou orgânicos, naturais e artificiais, tendo sido, por isso, usada como étimo do nome da disciplina que os estuda – a Cristalografia – afirmada como ciência no início do século XIX com René-Just Haüy, em França (1743-1822).
O termo quartzo atribuído a um mineral surge só no século XVI, com Agricola (nome do médico e alquimista alemão Georg Baüer).
No seu livro “Bermannus de re metallica” (1530), descreve o mineral a que deu o nome de quartzum, por latinização de Quartz ou Quarz, jargão utilizado pelos mineiros alemães para referir o mineral filoniano maciço, branco, a que hoje chamamos quartzo leitoso, então visto como material desaproveitado (ganga) associado ao minério.
As inclusões fluidas (água, dióxido de carbono, etc.) são uma constante nesta variedade de quartzo e as responsáveis pelo caráter leitoso (branco e translúcido) quer ocorra como quartzo maciço, quer como macrocristais com idêntico aspeto.
Existe em português o termo quarço, do alemão Quarz, mais correto no entender dos especialistas da língua. Todavia, foi a forma quartzo, que nos chegou através do francês quartz, que fez vencimento.
Agricola não assimilava o quartzum ao cristal-de-rocha, mineral que continuava a designar por cristallus, ou pela expressão mais erudita, cristallus montanus (cristal da montanha), equivalente ao termo alemão Bergkrystal.
Em Inglaterra, no século XVII, o quartzo hialino era referido por “pedra de Bristol” ou “diamante de Bristol” e também por pedra ou “diamante da Cornualha”.
No século seguinte já ali se usava o termo quartz para a variedade filoniana, maciça e leitosa, e crystal para a variedade hialina. Crystal foi ainda o termo utilizado por Lineu (1707-1778), ao descrever esta variedade, no seu Systema Naturæ.
Os mais espetaculares exemplares de cristal-de-rocha, alguns gigantescos, provêm de Madagáscar, Brasil, Suíça, França, Áustria, EUA, Sri Lanka e Índia.
Um exemplar bipiramidado, com mais de 5 toneladas, foi referenciado em Diamantina (Minas Gerais).
Em Portugal, esta variedade hialina é conhecida em pegmatitos, nas regiões de Aguiar da Beira, Belmonte, Cabeceiras de Basto, Fafe, Felgueiras Fronteira, Mangualde, Paços de Ferreira, Penalva do Castelo, Ponte da Barca, Sabugal, Sátão, Terras de Bouro, Trancoso e Vidago.
As múltiplas indústrias baseadas no quartzo hialino dependem da grande pureza, transparência, ausência de cor, dureza e da sua acentuada resistência à meteorização.
O “vidro ótico” utiliza quartzo hialino com um teor de impurezas (ferro) mínimo. O chamado “quartzo fundido” é um vidro especial obtido por fusão de quartzo hialino muito puro usado em espelhos de telescópios e em lasers de grande potência.
A joalharia e a bijuteria são dois domínios da atividade económica que utilizam o quartzo hialino como material gemológico, o que encorajou, mas sem sucesso, a sua utilização com substituto do diamante.
Alguns exemplares, particularmente límpidos, foram divulgados, como se disse atrás, sob o nome de diamantes. Esta variedade é a mais comum nas chamadas “minas novas” vindas do Brasil, muito utilizadas na joalharia do século XIX, engastadas em prata.
Autor: A. M. Galopim de Carvalho
Geólogo
(Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva)