As aranhas são seres vivos que continuam a ser considerados inferiores e até repulsivos, facilmente menosprezadas e varridas para debaixo do tapete.
Isso poderá dever-se ao desconhecimento sobre os seus ciclos de vida, a partir dos quais se compreenderia a sua importância no equilíbrio da vida no nosso Planeta.
Depois de vencido o preconceito, as aranhas podem ser vistas e admiradas não só pelas suas cores e comportamentos fascinantes, assim como pelo papel essencial que desempenham nos ecossistemas terrestres. Sendo carnívoras, as várias espécies de aranhas contribuem de forma importante para a manutenção, em níveis controlados, das populações de insetos e outros invertebrados, onde se incluem muitos indesejáveis como pragas agrícolas ou propagadores de doenças.
A destruição e perda de habitat, assim como o uso excessivo de pesticidas e outros químicos, constituem as maiores ameaças ao seu futuro.
A ausência de dados não permite saber qual o impacto exato das alterações climáticas nas espécies de aranhas portuguesas, mas podemos extrapolar a partir de impactos identificados noutros grupos de animais que existirão consequências negativas.
E, no entanto, as aranhas são muito importantes num futuro em que se prevê uma maior abundância e propagação de vectores de doenças, como mosquitos, os quais constituem alimento para muitas espécies de aranhas, elementos imprescindíveis da Biodiversidade da Terra.
Uma característica importante que separa os insetos dos aracnídeos é o facto de os insetos terem 6 patas, enquanto os aracnídeos, como as aranhas e os escorpiões, possuem 8 patas.
As aranhas estão incluídas na Classe Arachnida, que inclui também os ácaros, opiliões, pseudoescorpiões e escorpiões, sendo um dos grupos mais diversos dos artrópodes.
As aranhas têm o corpo dividido em duas partes – o cefalotórax (a cabeça junta com o tórax) e o abdómen.
São caracterizadas pelos seus quatro pares de patas, oito olhos (algumas espécies podem ter seis ou quatro olhos ou ser cegas), um par de pedipalpos para manusear o alimento e um par de quelíceras que inoculam veneno nas presas.
As aranhas podem ser encontradas em quase todos os habitats terrestres e, apesar da sua má fama, as aranhas são um dos grupos de invertebrados mais importantes nas cadeias tróficas, sendo em muitas delas consideradas como predadores de topo.
Neste momento, conhecem-se mais de 45 mil espécies em todo o mundo e continuam a ser adicionadas, quase todos os anos.
Em Portugal (cerca de 1000 espécies), poucas são perigosas para o Homem, e apenas duas podem causar algum tipo de problemas médicos: a viúva-negra Mediterrânica (Latrodectus tredecimguttatus) e a aranha-violino (Loxosceles rufescens).
Todas as aranhas têm veneno que inoculam nas suas presas através de quelíceras, embora algumas aranhas tenham perdido essa capacidade ao longo do processo evolutivo.
O veneno serve para paralisar, pois, como não têm pinças para deter as presas, nem têm dentes, digerem-nas externamente, através de enzimas, transformando-as numa sopa que depois sugam.
O veneno das aranhas destina-se às presas, principalmente insetos, que, apesar de terem seis patas, são animais minúsculos, comparados connosco.
Só em algumas exceções (em particular, nos continentes americano e australiano) é que o seu veneno pode ser fatal ou muito doloroso para o homem.
É por isso que a maior parte das aranhas são inofensivas e até nos fazem bem. Por exemplo, comem insetos que causam pragas ou comem as melgas e os mosquitos que nos picam nas noites de Verão.
Todas as aranhas produzem seda, a partir de glândulas no abdómen – as fieiras, à qual dão uma variedade de usos.
Muitas espécies fabricam teias de seda para capturar presas. Estas podem ter o formato orbicular a que estamos habituados, mas muitas outras espécies produzem armadilhas de fios irregulares. Outras aranhas utilizam seda para fabricar tocas no solo onde aguardam pacientemente por uma presa que passe para a capturar.
E, ainda que todas as aranhas usem seda nalgum momento das suas vidas, muitas espécies caçam livremente o seu alimento, sem o uso da seda. Podem esperar emboscadas ou perseguir ativamente algum inseto. As aranhas podem utilizar a seda para produzir armadilhas de caça, abrigos para passar o dia ou efetuarem as mudas de que necessitam para crescer, tal como os répteis por exemplo.
E são também essenciais na proteção dos ovos, revestindo-os de diversas camadas de seda, com diferentes propriedades.
Com alguma curiosidade e paciência, qualquer pessoa pode observar uma aranha de jardim a construir a sua teia.
Este processo pode demorar cerca de uma hora a terminar, embora isso dependa do tamanho final da teia. Alguns destes tipos de seda são mesmo a fibra natural mais resistente que se conhece.
No que diz respeito à reprodução, e tal como em muitos outros grupos de animais, as fêmeas são quase sempre maiores do que os machos.
Há inclusive espécies em que os machos têm um tamanho insignificante quando comparados com as fêmeas.
Também por este facto, e porque têm de transferir o esperma para as fêmeas numa postura que os deixa vulneráveis, cada espécie possui um ritual de acasalamento próprio, que pode ir de toques ritmados na teia da fêmea a danças elaboradas que acalmam a fêmea e evitam que sejam confundidos com presas e comidos por engano.
A mãe aranha protege os seus ovos com muito cuidado, envolvendo-os em seda. Mas em muitas espécies esse cuidado não termina aí, pois as fêmeas guardam o saco de ovos até à eclosão das pequenas aranhas, beneficiando estas de proteção até serem capazes de abandonar o ninho.
De entre as maiores aranhas, a aranha Golias-comedora-de-pássaros pode atingir os 30 cm de envergadura, mas o seu veneno não é mais perigoso do que uma picada de vespa ou abelha.
Por outro lado, a viúva-negra-americana, que não se apresenta maior que um berlinde, já pode matar um adulto humano com uma só picada.
Exemplares vivos de ambas estas espécies, e mais de vinte outras, podem ser observados na exposição temporária da Araneus, “O mundo fascinante das aranhas e escorpiões”, no Centro Ciência Viva do Algarve, em Faro, até dia 30 de Setembro.
Autor: Rui Monteiro (Centro Ciência Viva do Algarve)
Fotos: João Silveira e Ruben Ribeiro