As alterações climáticas estão a provocar implicações cada vez mais graves no ecossistema marinho, sendo fundamental repensar a Gestão Pesqueira para se evitar a rutura de “stocks” marinhos (peixe), revela um estudo realizado por uma equipa de investigadores do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra (IMAR), do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e da Universidade de Kiel (Alemanha).
Para avaliar e melhor compreender as implicações das alterações climáticas na saúde dos oceanos, os investigadores usaram como modelo de estudo as Cagarras, predadores marinhos de topo muito abundantes nas ilhas dos Açores e da Madeira.
Ao longo dos últimos anos, através de pequenos dispositivos de seguimento remoto (GPS) colocados num conjunto alargado de Cagarras, a equipa identificou e analisou com detalhe os movimentos destas aves no mar e os fatores que provocam alterações no seu comportamento.
De acordo com o estudo, nos anos de 2010 e 2011, «as alterações climáticas tiveram fortes implicações nos recursos marinhos. As Cagarras, que habitualmente têm uma distribuição próxima da costa, foram forçadas a percorrer todo o Atlântico, até ao Canadá, para conseguirem alimento. Isto revela que ouve alterações profundas que provocaram a ausência de peixe na costa portuguesa», observa Vítor Paiva, coordenador do estudo.
Devido à posição de topo que as Cagarras ocupam, a observação contínua dos seus movimentos e comportamentos, «fornece informação que permite avaliar as implicações das alterações climáticas em toda a cadeia trófica. Verificámos mutações significativas no ecossistema marinho que indicam a necessidade de tomar medidas para garantir uma exploração sustentável do mar. Caso contrário, corre-se o risco de, no futuro, se registar uma quebra na disponibilidade de algumas espécies de valor comercial (p.e. sardinha)», realça o investigador do Instituto do Mar da UC.
A investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pretende também auxiliar na definição de zonas marinhas protegidas na costa portuguesa.
Autora: Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa – Universidade de Coimbra)
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