A Universidade do Algarve (UAlg) é a única instituição portuguesa a participar no projeto internacional Computing with Infinite Data (CID), iniciado a 1 de Abril, cujo objetivo é melhorar as aplicações de software em engenharia.
Financiado pelo programa “Horizonte 2020” em cerca de 1 milhão de euros, o projeto dura quatro anos e envolve cientistas de mais de 20 universidade e institutos de todo o mundo.
«O piloto automático de um avião deve funcionar perfeitamente. O mesmo também deve acontecer com o software dos sistemas de controlo e de monitorização do trânsito ferroviário. Mesmo nos carros autónomos, a segurança dos ocupantes da viatura depende do correto funcionamento dos seus sistemas em todos os instantes. Na Universidade do Algarve estes problemas são estudados por investigadores que trabalham na melhoria da tecnologia existente para tais aplicações», explica a UAlg.
«Os computadores são utilizados num número cada vez maior de aplicações, mas em muitas situações os programas podem apresentar imprecisões devido, por exemplo, a erros de arredondamento», explica Daniel Graça, professor e investigador da Universidade do Algarve, que participa neste projeto.
«No entanto estas imprecisões podem criar vulnerabilidades que podem ter consequências inesperadas. Por exemplo, o primeiro lançamento do Ariane 5 pela Agência Espacial Europeia falhou devido a esse tipo de imprecisões. Gostaríamos de desenvolver ferramentas que possam ajudar a resolver estas limitações. O problema é que há uma dissociação entre a teoria matemática e a sua implementação em programas de computador», concretiza o investigador.
Ao mesmo tempo, dentro do projeto CID, os investigadores pretendem também desenvolver ferramentas que possam provar formalmente o correto funcionamento do software em aplicações de engenharia.
«O software é geralmente testado em vários cenários possíveis. Mas isso, muitas vezes não garante que seja completamente seguro, pois ainda assim podem existir vulnerabilidades não detetadas, que podem levar a consequências indesejáveis, quer devido a acidentes, quer devido a atividades maliciosas», explica Daniel Graça.
Utilizando dados de precisão infinita, pretende-se no futuro desenvolver ferramentas que possam ajudar a comprovar, então, que o software funciona de acordo com os seus respetivos requisitos. Para o investigador, «isso eliminaria a necessidade de testes, já que teríamos a certeza de que funciona corretamente».
Neste projeto, os investigadores pretendem também estudar diferentes algoritmos com aplicações em engenharia.
«Gostaríamos de compreender que problemas são intrinsecamente difíceis ou mesmo impossíveis de resolver com a ajuda dos computadores, e como é que eles diferem fundamentalmente dos problemas mais fáceis». Para alguns problemas não há procedimentos simples para os resolver, por causa da sua complexidade.
«Esta informação é valiosa para quem desenvolve software, já que assim não precisa de desperdiçar tempo procurando alternativas», diz a Universidade do Algarve.
Coordenado pela Universidade de Siegen (Alemanha), além da UAlg e de várias universidades e instituições de investigação de vários países membros da União Europeia conta ainda com a participação de países como o Japão, a Coreia do Sul, os Estados Unidos, a África do Sul e o Chile.
«O financiamento será utilizado para visitas de longa duração entre os parceiros do projeto, para partilhar conhecimentos e desenvolver investigação conjunta. Além disso, estão previstas conferências anuais, que são abertas à participação de outros elementos da comunidade», conclui a UAlg.