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mexilhãoNão se comerá auroque, nem sequer cavalo, como o faziam os homens que, há mais de 20 mil anos, viveram no Vale de Boi, hoje concelho de Vila do Bispo. Mas os mexilhões farão parte da ementa.

O Abrigo Paleolítico de Vale de Boi, o mais antigo local povoado pelo Homem alguma vez descoberto no Algarve e uma das mais significativas jazidas paleolíticas do Sul Peninsular, é o pano de fundo para mais uma ação performativa «Cozinhando na Paisagem».

A ação, que terá o artista e cozinheiro Jorge Rocha como mestre de cerimónias e contará ainda com a participação de Nuno Ferreira Bicho (arqueólogo e investigador da Universidade do Algarve) e Ana Carla Cabrita (guia de natureza e investigadora da flora local), está marcada para domingo, 16 de Agosto, às 18h30, no adro da Igreja de São Lourenço, na pequena aldeia de Vale de Boi.

Antes, às 17h30, como sempre acontece nestas sessões, haverá uma visita guiada à zona em escavações arqueológicas, orientada pelo arqueólogo Nuno Ferreira Bicho, e com partida da igrejinha.

Segundo Jorge Rocha, o menu será «inspirado no Período Paleolítico investigado no local».

Só na altura se saberá quais as iguarias a confecionar pelo artista Jorge Rocha, mas, desde já, pode adiantar-se que «muito terá a ver com as investigações realizadas no local, desde 1998, sobre os hábitos alimentares das gentes que há milhares de anos passaram temporadas nesta zona».

Igreja de S. Lourenço, em Vale de Boi
Igreja de S. Lourenço, em Vale de Boi

Nuno Ferreira Bicho será o arqueólogo investigador que acompanha e comenta a ação gastronómica, não fosse ele o responsável pela coordenação das equipas que têm desenvolvido as campanhas arqueológicas neste local.

Além de investigador dos mais remotos grupos humanos da Pré-História, é professor na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.

Em 1992, realizou doutoramento em Antropologia, especialidade de Arqueologia, na Southern Methodist University, Dallas, Texas, EUA.

Desde então, tem coordenado diversos projetos de investigação arqueológica nos EUA, Equador, Portugal e Moçambique.

Em Portugal, coordenou investigações internacionais na Estremadura e no Algarve.

Iniciou recentemente um projeto no Sul de Moçambique, em colaboração com a University of Louisville, EUA, e com a Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, sobre o aparecimento do Homo sapiens sapiens na África Austral.

Ana Carla Cabrita será também uma convidada participante, tendo em conta o seu profundo conhecimento da região, particularmente no que toca à flora local, tendo editado recentemente, em coautoria com Ana Luísa Simões, o guia de flora bilingue (Português e Inglês) intitulado “200 Plantas do SW Alentejano & Costa Vicentina”.

Este livro é o resultado de dois anos de investigação e é constituído por fichas de identificação, fotografias, nomes científicos, famílias botânicas, características, ciclos vegetativos, habitats, etc.

Ana Carla Cabrita desenvolve trabalho como guia da natureza na Costa Vicentina através da sua empresa Walkin’Sagres, proporcionando diversificados passeios pedestres guiados.

Pelo reconhecimento das boas práticas empresariais, ambientais e sociais do seu projeto, foi distinguida recentemente com o 1º Prémio no Concurso Natural.PT 2015.

 

Porquê no Abrigo Paleolítico de Vale de Boi?

vale de boi_1Trata-se da mais extensa e uma das mais significativas jazidas paleolíticas conhecidas em todo o sul peninsular, situada precisamente no concelho de Vila do Bispo, num abrigo rochoso em Vale de Boi, Budens.

Identificado em 1998, foi, desde então, objeto de regulares campanhas arqueológicas realizadas por equipas de arqueologia da Universidade do Algarve, coordenadas pelo professor Nuno Ferreira Bicho.

Numa uma área de dispersão superior a 10 hectares, a investigação na jazida arqueológica de Vale de Boi foi assim desvendando uma importantíssima sequência crono-estratigráfica, com registos que remetem para uma praticamente contínua presença humana, entre o Paleolítico Superior e o Neolítico Antigo – entre os 33.000 e os 6.000 anos antes do presente.

 

O projeto «Cozinhando na Paisagem»

cozinhando na paisagemCozinhando na Paisagem integra-se no projeto PALATO e é uma ação performativa sobre sítios históricos e arqueológicos, um espetáculo gastronómico que decorre nos locais com uma paisagem em pano de fundo, abordando temáticas que colocam a Gastronomia de cada época em cruzamento com os hábitos alimentares da sociedade contemporânea.

Em cada sítio histórico, é montada uma infraestrutura improvisada, que inclui sempre uma mesa para os cozinhados, onde o artista, em conjunto com os investigadores de cada monumento, desenvolve uma ação performativa num formato talk show, cozinhando ao vivo e transmitindo em direto na Internet, assumindo os públicos físicos e virtuais como participantes no processo de criação artística.

O menu, é «inspirado nas entrelinhas da História e da Arqueologia» e por isso considera «as características únicas de cada local» e valoriza «os fatores paisagísticos, patrimoniais e sociais».

Todas as sessões são transmitidas em direto, em www.palato.org/transmissao, resultando num conjunto de paisagens virtuais armazenadas no Canal PALATO do site www.palato.org, sendo estas o foco da investigação artística em curso.

Entretanto, depois do Castelo de Tavira, a 5 de Julho, e desta performance de domingo próximo, há já uma série de outras ações confirmadas: Castelo de Salir (Loulé), a 22 de Agosto, Monte Molião (Lagos), a 26 de Agosto, Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa (Crato, Alentejo), a 29 de Agosto, Mercados de Olhão, a 6 de Setembro, e Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (Vila do Bispo), a 18 de Outubro.

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