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Postal ilustrado do Aeroporto de Faro
Postal ilustrado do Aeroporto de Faro

Há 50 anos, o Algarve viveu dias de alegria. Um sonho de vinte anos era concretizado, a região inaugurava, a 11 de Julho de 1965, o seu aeroporto internacional. Eram volvidos 76 anos da abertura à exploração do caminho de ferro do Algarve e 33 sobre a inauguração da primeira ligação por estrada, digna desse nome, ao resto do país (EN2).

Mas, se estas infraestruturas se delongaram pelo tempo até à sua materialização, o aeroporto de Faro também não foi exceção.

A ideia da construção de um grande aeródromo de caráter internacional em Faro remonta a 1945. Segundo José Vilhena Mesquita, foi em janeiro daquele ano que o Governador Civil de Faro, Antero Cabral, em reunião, em Lisboa, com o diretor do Secretariado de Aeronáutica Civil, o então tenente coronel Humberto Delgado, foi informado que se encontravam a decorrer estudos para dotar o Algarve de um aeródromo.

Um mês depois, recebia Antero Cabral um telegrama de Delgado comunicando-lhe a aprovação da construção de um campo de aviação no sítio da Arábia, imediações de Montenegro, local utilizado, à data, por alguns aviões para aterragem.

Era ainda comunicado ao Governador Civil que a elaboração do projeto já havia sido solicitada ao Ministério das Obras Públicas e Comunicações, com o objetivo de ser concretizado com brevidade.

A questão da localização não deixou, todavia, de gerar alguma discussão, pois havia quem defendesse a Carreira de Tiro ou a Quinta da Senhora da Saúde. Locais cujos terrenos apresentavam valor económico assinalável, além de que condicionariam o crescimento urbano da cidade.

A escolha recaiu sobre a Arábia, três quilómetros a poente de Faro, uma área de terrenos de baixo valor, de reduzido movimento de terras e de terraplanagem fácil, não sem, ainda assim, levantar algumas hesitações, essencialmente de nível técnico, por se tratar de uma zona de sapal.

Decreto 36067Em fevereiro de 1946, o Gabinete Técnico dos Aeródromos Civis desenvolvia os últimos trabalhos na conclusão do projeto. Por sua vez, a 30 de dezembro do mesmo ano, o governo, através do Decreto-lei 36067, determinava que as câmaras do Algarve comparticipassem as despesas da construção do aeródromo, assumindo o encargo com o valor dos terrenos e eventualmente com as indemnizações a ter lugar. Encargos que seriam distribuídos pelas 16 autarquias na proporção média das suas receitas ordinárias nos últimos três anos.

Para o efeito, estavam ainda autorizadas a contrair empréstimos amortizáveis em vinte anos.

A medida não teve, contudo os efeitos pretendidos. Em janeiro de 1951, durante a realização do II Congresso Regional Algarvio, o farense Amadeu Ferreira de Almeida, na sua tese “O Algarve carece de aviação civil”, defendia a organização imediata de um serviço de hidro-avionetas entre o Algarve e Lisboa, pois, “por culpa de oito municipalidades algarvias”, não avançava a construção do aeroporto.

Também o conferencista Julião Quintinha, em o “Turismo no Algarve”, elencava como fundamental a “renovação das diligências para a construção de um aero-porto em Faro”.

Com o incremento do turismo a nível europeu, bem como das recomendações internacionais para a estruturação de aeródromos, sem esquecer a própria evolução das aeronaves (características e meios de propulsão), a construção do aeródromo de Faro acabaria por ser preterida para dar lugar a um aeroporto.

Assim, as quatro faixas inicialmente previstas, com uma extensão de 1200 metros e custo aproximado de 15 mil contos, deram lugar, mais tarde, a uma pista principal de 1500 metros, transformada, em 1958, em duas pistas cruzadas: uma com uma extensão superior a 2000 metros, destinada à aviação comercial, e a outra de 750 metros, perpendicular à anterior, para a desportiva e de turismo.

Já em 1964, com a obra a decorrer, o projeto sofria novas alterações, entre as quais, o prolongamento da pista principal até aos 2400 metros, com a possibilidade de vir a atingir os 3000 metros.

Humberto Delgado (Fonte - biclaranja.blogs.sapo.pt)
Humberto Delgado (Fonte: biclaranja.blogs.sapo.pt)

Segundo o “Diário de Notícias” de 08/07/1965, a aquisição de terrenos, bem como os primeiros trabalhos para a construção da infraestrutura, foram iniciados em 1962. Em finais do ano seguinte, principiou-se a construção da pista, caminho de circulação e plataforma.

À data da inauguração, o aeroporto ocupava uma área de 1.436.000 metros quadrados, sendo constituído por uma pista de 2400 metros de comprimento, com 45 metros de largura, pavimentada em betão asfáltico.

Dotada de sinalização luminosa de forma a permitir operações noturnas, a pista apresentava ainda bermas laterais de 7,5 metros de largura, com pavimento aligeirado.

Um caminho de circulação com 235 x 150 metros estabelecia a ligação entre a pista e a plataforma de estacionamento, esta com 435 x 150 metros, permitindo dez postos de parqueamento.

A área total pavimentada, pista, caminho de circulação e plataforma de estacionamento, era de 222 mil metros quadrados. A aerogare a funcionar em instalações provisórias, as definitivas apenas estavam previstas para 1966-67, ocupava 1700 metros quadrados.

Dotado com a respetiva torre e centro de controlo aéreo, armazém e central elétrica de emergência, bem como equipamentos de telecomunicações, além de serviços de incêndio, socorro e salvamento, a construção do aeroporto implicou ainda novos acessos, bem como a deslocalização da estrada para a Praia de Faro.

O valor total dos investimentos, previstos no II Plano do Fomento, rondou cerca de 100 mil contos. Metade da verba destinou-se às obras de terraplanagem, pavimentação e drenagem da pista, caminho de circulação e plataformas.

Pista em construção
Pista em construção

Por sua vez, a construção de edifícios, sinalização luminosa, redes de distribuição de energia, importou em cerca de 17.300 contos. Já as despesas com o pessoal foram pouco mais de 4% do investimento total. Até dezembro de 1964, haviam sido gastos cerca de 66.126 contos, dos quais 11 mil se destinaram à aquisição de terrenos.

Concluídas as obras, a cerimónia de inauguração do aeroporto, à qual presidiria o chefe de Estado, o Almirante Américo Tomás, foi aprazada para um domingo, 11 de julho de 1965.

Por ironia, o mentor do grande aeródromo internacional de Faro e fundador da Transportadora Aérea Portuguesa (TAP), em 1945, o General Humberto Delgado, havia sido assassinado pela Polícia Política do regime cinco meses antes, depois de entrar em rota de colisão com Salazar, no início da década de 1950. Também Antero Cabral não conheceu a concretização do aeroporto, tendo falecido aos 65 anos de idade, em 1960.

O dia 11 de julho amanheceu festivo na capital algarvia. A cerimónia estava agendada para o meio dia, primeiro a inauguração da estrada e logo depois do aeroporto, com a aterragem do Super Constellation, “Infante D. Henrique”, da TAP.

O chefe de Estado, que inicialmente se previra viajar no avião inaugural, veio de véspera de carro, ficando alojado na Pousada de São Brás de Alportel. A concretização de um sonho de 20 anos era agora uma realidade.

Voo Inaugural (Fonte: www.airlowcost.info)
Voo Inaugural (Fonte: www.airlowcost.info)

(Continua)

 

Bibliografia
Blog: http://algarvehistoriacultura.blogspot.pt/
Jornal “O Século”, 8 e 10 de julho de 1965
Jornal “Diário de Notícias”, 8 e 10 julho de 1965
Resumo das teses, conferências e comunicações do II Congresso Regional Algarvio, 1950

 

Aurélio Nuno Cabrita
Aurélio Nuno Cabrita

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de História Local e Regional

 

 

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