Uma homenagem, por Luís Ene, a Rui Cabrita, ator com raízes em Messines, que faleceu em 2016, a abrir a 10ª edição do Festival T – Festival Internacional de Teatro de Albufeira, no dia 23, às 21h30, ou a entrega dos Prémios Vicente de Teatro, no dia 25, após a peça de teatro “A Noite antes da Floresta”, de Bernard-Marie Koltès, que subirá ao palco às 21h30, são algumas das iniciativas do Festival T que decorre de 23 a 27 de Março no Auditório Municipal de Albufeira.
Ator e encenador, com um vasto trabalho em várias áreas ligadas ao teatro, Rui Cabrita chegou a colaborar em duas situações com a c:t:c – Companhia de Teatro Contemporâneo, a organizadora deste festival.
Também no primeiro dia deste evento, depois esta homenagem, vai subir ao palco o espetáculo “O Sal de Marim”, com encenação e texto de Luísa Monteiro e interpretações de Cátia Cassapo, Josefa Lima, Larisa Maria e Cheila Correia e técnica de Miguel Martinho, da c:t:c.
Este é «um trabalho que parte da contemporaneidade para relevar a figura de Felipa de Sousa, a tavirense que dá nome ao principal Prémio Internacional dos Direitos dos Homossexuais», diz a Câmara de Albufeira.
«Como pano de fundo, estão as sucessivas condenações das mulheres homossexuais desde o degredo de Marim, pelo Santo Ofício, passando pelas casas de correção, as casas de saúde mental onde a prática mais comum era a dos choques elétricos, até aos encarceramentos nas caves por parte das próprias famílias», acrescenta.
O trabalho dramático resulta, assim, de pesquisas documentais e de testemunhos vivos de quem viveu essas realidades.
“O Menino da Burra”, de Luís Campião, com exibição às 21h30, será, no dia 24, sexta-feira, um dos atrativos.
Neste trabalho, o autor é também o intérprete do monólogo, fazendo-se acompanhar ao acordeão, ao vivo, por Samuel Pilar e contando com a técnica de Manuel Neiva.
Na taberna d’ “O Menino da Burra”, o filho de um ex-combatente da guerra colonial convida o seu pretenso freguês para uma aguardente especial: uma aguardente “capaz de levantar os mortos’”.
«A propósito da aguardente, a figura do taberneiro vai relatando episódios de vida do pai durante a sua passagem pela guerra. Num registo que procura resgatar para o palco a figura do contador de histórias, e baseado em alguns episódios reais, recolhidos através de entrevistas, “O Menino da Burra” aborda o trauma de guerra e as consequências do stresse pós-traumático nas suas “novas vítimas”», diz a autarquia albufeirense.
Sábado, dia 25, também será dia de Teatro em Albufeira: às 18h00, “Os Palavristas”, grupo algarvio que se dedica à escrita e fala da sua própria poesia, apresenta no foyer do Auditório Municipal o momento intitulado “Como Serejas”.
Para este título, o grupo diz que se inspirou na expressão “as conversas são como as cerejas, umas atrás das outras”. «O uso do neologismo serejas pretende provocar sensações diversas, apelando ao ser que é e será ininterruptamente, continuamente: este movimento sugere-nos um dos princípios do Futurismo, pelo que esta singela performance é um agradecimento aos “palavristas” anteriores a nós», explicam.
Já o espetáculo das 21h30 estará a cargo do “Teatro Estúdio Fontenova” e conta com o texto “A Noite antes da Floresta”, do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès, um dos mais apreciados nomes do teatro do século. XX.
Com interpretação de Eduardo Dias e encenação de José Maria Dias, a peça de Bernard-Marie Koltés apresenta o encontro de dois seres que vagueiam na noite, estrangeiros e marginalizados.
«A “Noite Antes da Floresta” é uma descida aos infernos. É a voz de um imigrante de um marginal de um excluído. Não sabemos o seu nome, nem quem é, somente que está sozinho e que fala, fala sem parar. Um vigoroso grito de amor que se perde numa noite fria e chuvosa», diz a Câmara de Albufeira.
Já quanto aos Prémios Vicente de Teatro, entregues logo de seguida, pretendem homenagear um Vicente, que não é Gil, mas… Beato Vicente, que nasceu no castelo de Albufeira.
Na 1ª edição deste galardão serão distinguidos, em diversas categorias, «os atores locais que passaram ao longo destes 10 anos pelo Festival T, assim como alguns organismos afetos a este encontro», informa a Câmara de Albufeira.
No futuro, o Prémio Vicente de Teatro irá distinguir atores, encenadores e dramaturgos do Algarve.
Nascido em 1590, o Beato Vicente foi mandado, aos 14 anos, para Lisboa, estudar Artes, como caligrafia, desenho, oratória e música.
«Começou a ser falado na Lisboa de 1612 não só por ser um jovem bem-parecido e sempre seguido por pessoas amigas das artes e do riso, mas também pelas suas capacidades naturais de liderança. Toca vários instrumentos, canta e compõe, desenha com mestria, é desenvolto com as línguas estrangeiras e ainda se divertia na arte da esgrima. Fazia das ruas o seu palco privilegiado», conta a Câmara de Albufeira.
«Mais tarde cursa Medicina, interessa-se pelo mundo da edição e com isso acaba rendido à Teologia, no Convento da Graça, da Ordem de Santo Agostinho. Em 1617, já com 27 anos,é ordenado padre e fez-se ao mundo. Foi um dos mártires de Nagasaki, onde, além de ser um líder do povo japonês, também se dedicava a costurar quimonos para as meninas desfavorecidas das aldeias», acrescenta.
O domingo, dia 26, começa às 11h00 com “A Galinha dos Ovos Coloridos”, um espetáculo para maiores de 3 anos e que promete arrancar gargalhadas aos mais novos, com a assinatura de Tânia Silva e Igor Arrais, do grupo “Fera Cultural”.
A performance “Os Outros”, que também vai subir ao palco no dia 26, é, tal como “A Galinha dos Ovos Coloridos”, dedicada ao público mais jovem. A encenadora é Maria Marques, e conta com interpretações de Anaísa Neves, Beatriz Santinho, Bianca Goulart, Carolina Santinho e Nicoleta Janau, alunas do 8ºano da escola Professora Diamantina Negrão – Agrupamento de Ferreiras. Ambos os espetáculos têm entrada livre para crianças até aos 12 anos.
Ainda no domingo, há duas sessões do espetáculo “Três Irmãs”, às 17h00 e 21h00, a partir de textos de Luísa Monteiro, Valério Romão e Rui Pina Coelho, que se inspiraram na obra homónima de Anton Tchekov.
Esta produção da “UmColetivo” foi vencedora do “Melhor Espetáculo do Ano” pela TimeOut/Lisboa. Cátia Terrinca, a atriz que interpreta as três personagens (Irina, Macha e Olga), foi, por sua vez, considerada “A Melhor Atriz do Ano”.
O espetáculo terá duas sessões pois cada uma comporta apenas 40 pessoas, que serão conduzidas para a cave de estacionamento automóvel contígua ao Auditório, percorrerão as zonas de saída de emergência até ao palco e daqui assistirão ao último monólogo no foyer.
Na segunda-feira, Dia Mundial do Teatro (27 de Março), às 21h30, haverá “O Milagre”, com entrada livre, assinado por Luísa Monteiro, com interpretações de José Sousa, João Sousa, Inês Colaço e Roberto Leandro e técnica de Miguel Martinho.
Este é, para a Câmara de Albufeira, «um espetáculo sem palavras, construído a partir de didascálias e que trata da vida de três pastorinhos que se entediam com o tempo passado entre as ovelhas».
Sobre este trabalho, diz Luísa Monteiro: «O chamado “milagre” ocorrido em 1917, seduz-me pelo que contém de maravilhoso. Os portugueses são extraordinários criadores de mitos! O que fizeram às crianças, é a outra face da história. Imagino regularmente o que seria uma infância entre a aridez daqueles montes. Mas a infância é criadora de encantamentos, vive da brincadeira, tem riso dentro do silêncio, estrelas e uivos na imaginação. Creio no riso como a face mais visível e concreta de Deus. […] é um resgate do espectro dessas infâncias, do riso póstumo».
O Festival T é uma organização da c:t:c, com o Município de Albufeira e conta com o apoio do 365 Algarve.
Os bilhetes podem ser adquiridos no Centro de Informação Autárquico ao Consumidor (CIAC) e Biblioteca Municipal Lídia Jorge (nos dias úteis 9h00 às 16h30) ou no Auditório Municipal de Albufeira (no dia do espetáculo das 19h30 às 21h15). A entrada para cada espetáculo custa 4 euros.