A Direção Geral das Artes comunicou na semana passada a abertura dos concursos de apoio às Artes, lançando consigo o anúncio de que, no que ao Algarve diz respeito, se avizinham tempos difíceis para as poucas estruturas culturais que ainda nos restam.
O anúncio de abertura, que poderá ser consultado no site da Dgartes, aponta um investimento global nos apoios diretos para o ano de 2013 no valor de 5 350 000 euros, face aos 5 630 000 de 2011 do último concurso que abriu. Estas contas, que deixam de fora um 2012 onde simplesmente reinou o vazio, poderiam até parecer ordeiras, se analisássemos este corte em percentagem global, no entanto a sua divisão por regiões representa uma injustificável decisão de deixar o Alentejo e Algarve fortemente penalizados.
Ao colocar os dados em gráfico, é possível constatar que estas duas regiões, e em especial o Algarve, são colocadas no fim da tabela, com cortes discricionários nada transparentes na sua fórmula de cálculo. Se não, veja-se que, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo viu o seu montante aumentar na ordem dos 6,9% e o Centro manteve a fasquia, o Norte sofreu um corte na ordem dos 6,2% , o Alentejo 32,8% e o Algarve 35,7%.
Estes valores são o prenúncio do vazio e o anúncio da revolta. Não há Estado sem respeito e equidade e a crise não pode bater à porta de todos usando capas diferentes.
A cultura no Algarve tem sido alvo de arbitrariedade da aplicação de políticas públicas, na medida em que, à semelhança do que se passa pelo país fora, planeamento e gestão cultural é coisa que não há. Nem nos tempos que correm, nem no tempo das vacas gordas, onde o esbanjamento sem rei nem roque construiu uma cultura envenenada pelas conveniências do Estado, oferecida aos cidadãos embrulhada com pólvora por aqueles que nos (des)governam.
Sem financiamento, a cultura sucumbe e não adianta pedir que olhem as estatísticas e as diretivas europeias que colocam a cultura como uma das áreas onde investir em tempo de crise. Não vale a pena, eles estão cegos!
Vivemos num país que anulou o Ministério da Cultura e pariu uma nova estrutura que não tem fórmula legal para se fazer representar. Na presidência do Conselho de Ministros, severamente condicionado pelos agiotas que seguem o triunvirato, está o secretário de Estado sem Secretaria, tentando urdir uma teia envenenada, cinzenta e peganhosa que não augura nada de bom.
Essa teia foi construída por aqueles que nas últimas décadas, olharam a cultura como um talk show onde a política e o planeamento facilmente se confundiram com as noites quentes nas festas VIP algarvias, onde os “pinhos” do costume desfilaram, criando sonhos cor de rosa com duplos “L”, trazendo a reboque um Ministro da Cultura sem visão (como todos os outros), e agitando assim os gabinetes ministeriais.
Tão famoso se tornou este sonho de vender um Algarve sem sedimentar a sua cultura. Pelo meio, milhões de investimento num Allgarve que instalou a confusão no meio cultural algarvio, quando, sem nexo, investiu desmesuradamente em projetos que, pese embora as suas qualidades, não saíram de uma política cultural e de uma visão a longo prazo, nem de uma vontade em contribuir para o desenvolvimento das estruturas de criação artística da região aplicando dinheiros públicos.
Esta análise confrangedora, mesmo que metafórica, é o que nos resta. E olhar agora estes cortes significa fazer um regresso ao passado, onde muitos defenderam que o Algarve deveria receber menos apoios na cultura, devido ao dinheiro investido no Allgarve.
Autor: Jorge Rocha é Artista e Produtor independente