Há uma arquiteta algarvia, que vive na Austrália e já passou pelo Japão, que está entre a restrita short list dos 12 finalistas do concurso internacional «2015 ATW Tapestry Design Prize for Architects».
Trata-se de Laura Mártires, que nasceu em Faro, viveu em Odemira e em Tavira, na adolescência, e estudou na Faculdade de Arquitetura de Lisboa, e já vive em Melbourne, na Austrália, há mais de cinco anos, onde, com o seu marido John Doyle, também arquiteto, dirige o atelier INDEX Architecture.
Quem quiser pode dar uma ajuda ao projeto da algarvia, votando online aqui, para o People’s Choice Award (atenção que o projeto dela aparece como Index Architecture | Laura Marties, assim mesmo, com a falta de uma letra no nome). A votação online tem de ser feita até às 10h00 locais de 22 de Junho (com a diferença horária, o melhor é não arriscar, e votar no máximo até às 22h00 portuguesas de dia 21), sendo que o resultado será anunciado no dia 25.
Para saber mais sobre mais esta arquiteta portuguesa na alta roda mundial, o Sul Informação falou com Laura, que contou que «depois de acabar a Faculdade, fui fazer um estágio académico para o Japão, onde acabei por voltar, para fazer um mestrado na Universidade de Tóquio».
«Foi lá que conheci o meu atual marido e parceiro no atelier, que é australiano. Na altura em que saímos do Japão – um ano depois da crise económica ter começado- o mercado de trabalho para arquitetos na Europa estava demasiado saturado, por isso decidimos casar e mudar-nos para Melbourne, onde formámos um atelier, do qual somos os dois diretores», adiantou Laura Mártires.
«O John é também ‘Lecturer’ no departamento de Arquitetura da Universidade RMIT e eu dou aulas aos alunos de arquitetura em varias universidades, mas em part-time (Monash University, RMIT e Universidade de Melbourne). De momento, estamos no processo de mudar o nome ao atelier para se chamar “Mártires Doyle” e o novo website estará em breve atualizado», acrescentou.
O concurso no qual Laura integra a lista de 12 finalistas não é propriamente de arquitetura, mas de arte, já que se destina a conceber uma tapeçaria para colocar no Pavilhão da Austrália, na Bienal de Veneza.
Na sua entrevista ao Sul Informação, Laura explicou que, «nós, no atelier, participamos em imensos concursos, normalmente concursos de ideias de arquitetura. É uma das formas de nos mantermos atualizados e, de certa forma, quando começamos o atelier não tínhamos muito trabalho e mantinhamo-nos ocupados com os concursos. O nosso portefólio de projetos é enorme por causa da obsessão com a arquitetura e de nunca ter parado de projetar, mesmo quando o trabalho ‘real’ era escasso».
No entanto, sublinha esta algarvia expatriada, «este concurso foi um pouco diferente, porque é um concurso para arquitetos, mas para um objeto de arte, neste caso uma tapeçaria onde o tema era Arquitetura».
E de onde lhe veio a inspiração para esta peça, que tem alguma coisa de Vieira da Silva? «A inspiração para a proposta vem de uma série de desenhos que já ando a fazer há uns anos, baseados em mapas de cidades», responde Laura.
«Desde que tirei o curso de Arquitetura e Planeamento Urbano na FA, que gosto imenso de mapas de cidades, dos padrões e malhas urbanas e recentemente (há dois anos) comecei a desenhar umas peças pessoais inspiradas em mapas. Foi daí que surgiu a ideia de colecionar uma série de mapas de cidades metropolitanas do mundo inteiro, sobrepô-los até criar uma série de linhas e objetos complexos, e, depois daí, editar o resultado para criar uma espécie de cidade invisível. Que não existe, mas que nasce a partir de algo completamente real. Uma espécie de utopia», acrescentou.
«Talvez o livro “Invisible Cities”, de Italo Calvino, tenha sido algo responsável por esta ideia de criar algo impossível ou de criar uma utopia a partir de algo bastante real e cru. Mas acho que é essa a magia das cidades, são organismos independentes que evoluem e estão em constante ‘movimento’», considerou ainda Laura Mártires.
O facto de ser portuguesa influencia o seu trabalho? «Não sei se o facto de ser portuguesa influencia o meu trabalho, porque trabalho com o meu parceiro e outros arquitetos daqui e no estrangeiro, mas penso que influencia sempre um pouco», admitiu.
«Mesmo indiretamente, há certas formas de pensar ou certos estilos arquitetónicos e tendências estéticas que estão diretamente relacionadas com o nosso pais e a nossa forma de fazer arquitetura. Infelizmente, Melbourne não fica em Portugal e não é possível traduzir algo que funciona perfeitamente num clima/cultura como o nosso para aqui…ainda não calhou termos um projeto em Portugal, mas isso seria talvez a oportunidade de mostrar o nosso lado mais lusitano!», disse.
Laura Mártires está neste momento a tratar de se naturalizar australiana, mas garante que não rejeita as suas raízes portuguesas e algarvias, antes pelo contrário.
«Estou prestes a ficar com dupla cidadania (Australiana/Portuguesa) porque, de momento, estou como residente permanente, mas faltam-me alguns direitos (como, por exemplo, votar nas eleições). Ao obter cidadania, não há risco de me mandarem embora, porque nunca se sabe como o governo vai mudar as suas políticas. É mais uma segurança!», contou.
Mas Laura salienta que mantém «contacto com Portugal, a família e os amigos e tenho aqui em Melbourne uma comunidade portuguesa que até é bastante grande!»
«Quando me mudei para cá, não conhecia ninguém, mas há cerca de três anos começou a vir imensa gente da minha idade e mais novos e agora somos uma comunidade bastante ativa», garantiu.
Quanto ao seu Algarve natal, «está sempre no meu coração, é onde consigo relaxar completamente e me sinto em casa. E tem o melhor clima do mundo!» Para matar as saudades, Laura Mártires volta ao Algarve daqui a três semanas, a 27 de Junho, acompanhada pelo marido, «para a visita anual». E pode ser que, na bagagem, a arquiteta traga um prémio internacional.