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A eira do senhor Sequeira situa-se no alto de uma colina, com a aldeia de Santo Estêvão a seus pés e vistas desafogadas para a planície de pomares de sequeiro e de laranjeiras da Luz de Tavira, a Ria Formosa e o mar, ao fundo. De há pouco tempo para cá, avista-se ainda a mancha de plástico das estufas da agricultura intensiva, que estão a invadir a paisagem do Sotavento algarvio.

Esta eira, que serviu para debulhar os cereais, aproveitando o vento lá do alto para ajudar nessa tarefa agrícola sazonal, é um dos locais onde, durante três dias, de 26 a 28 de Maio, terá lugar a primeira edição da Barro Cal – 1ª Festa Feira do Barrocal Algarvio, um projeto cultural e artístico de valorização do território, dos patrimónios e das pessoas.

Eduardo Sequeira, o tal senhor Sequeira que é dono do espaço, diz que, apesar de a eira, com chão feito de ladrilho de Santa Catarina, já não servir para a sua função primordial, tenta sempre «mantê-la em bom estado». Hoje é sobretudo «por causa da vista». «Parece que estamos no altar do Algarve», comenta, em conversa com o Sul Informação, durante o lanche que, na semana passada, serviu para apresentar esta primeira edição da Barro Cal, que começa amanhã.

A quinta do Vale da Palmeira, onde se situa a eira, tem agora 40 hectares e é propriedade de Eduardo Sequeira. Mas já teve pelo menos o dobro, quando pertencia ao bisavô de D. Maria do Rosário Valagão, que também lá estava na apresentação, sentada no muro caiado.

Antes, a quinta produzia azeitona para azeite, frutos secos (alfarroba e amêndoa, sobretudo), e havia uns seis fornos de cal, aproveitando o calcário do terreno. Hoje, segundo Eduardo Sequeira, produz sobretudo alfarroba, azeitona de mesa e laranja. E ainda há dois fornos de cal, mas que já nada produzem. Ainda assim, uma das atividades da 1ª Festa Feira do Barrocal Algarvio será um passeio pedestre em busca das memórias desses fornos de cal.

Jorge Queiroz, diretor do Museu de Tavira e dirigente da AGECAL (Associação dos Gestores Culturais do Algarve), que promove a iniciativa e até tem sede em Santo Estêvão, explica que o lanche – feito com os bolos, os petiscos, as frutas, os vinhos e até a cerveja artesanal oferecida pelos habitantes da aldeia – era «um convívio com as pessoas locais, antes da feira propriamente dita». Ali ao lado, a dar o tom da festa, o acordeonista e algumas das senhoras a cantar ensaiavam a marcha de Santo Estêvão.

«Este é um processo de gestão cultural aplicada, para demonstrar como os recursos culturais podem contribuir para o desenvolvimento local», acrescenta Jorge Queiroz, que faz questão de sublinhar que «este é um processo ao contrário: o que importa são as pessoas de Santo Estêvão, os seus saberes, as suas iniciativas, a AGECAL está em segundo plano, apenas serve para dar corpo à organização. Somos apenas propiciadores para o que as pessoas vão fazer».

O programa (que pode ser consultado em pormenor em baixo) inclui coisas como cantar no campo (com as Moçoilas) ou dançar no campo (com Filipa Rodriguez), fazer e lançar papagaios, bem como passeios à descoberta das plantas medicinais, da arquitetura tradicional e das platibandas, das plantas e frutos usados no fabrico de licores, da igreja paroquial de Santo Estêvão.

Haverá ainda um almoço de piquenique partilhado (no domingo), um seminário sobre «O campo como recurso natural», bem como, às 18h00 de amanhã, a abertura das exposições sobre o Barrocal, da autoria da AGECAL, do fotógrafo Filipe da Palma (património), de José Filipe (fauna e flora) e da colec«ção de acordeões de Vítor Faleiro (às 18 horas).

E, apesar de a organização salientar que isso não é o mais importante desta festa de aldeia, haverá música com nomes sonantes, mas bem de acordo com o espírito: Né Ladeiras (sexta-feira, 26 de Maio, às 21h30) e Júlio Pereira (sábado, à mesma hora). Como não podia deixar de ser numa verdadeira festa de aldeia, tudo terminará com um baile, a partir das 19h00 de domingo, com a música tradicional de Mito Algarvio.

É claro que, além das atividades, haverá muito mais para ver, comprar, comer e beber, em barraquinhas montadas pelas ruas da aldeia de Santo Estêvão. Quem por lá estará será Sebastião Afonso, da cerveja artesanal algarvia Moura, que até é de Santo Estêvão, ou a D. Natália Pereira, que também é da aldeia e irá vender os seus bolinhos de amêndoa, de alfarroba e não só. O Sul Informação provou-os no lanche e garante que são deliciosos. mas haverá muito mais para degustar e comprar.

A AGECAL, explicou Emanuel Sancho, diretor do Museu do Trajo de São Brás de Alportel e também dirigente da associação, é formada por voluntários. «Com esta festa Barro Cal, queremos retribuir o acolhimento que nos dispensaram na aldeia».

Emanuel Sancho é o principal responsável por uma exposição – de depois será itinerante – e que pretende «desvendar esta questão do que é o Barrocal. Se formos aos dicionários antigos, é mato de pedras, onde se faz uma agricultura muito pobre. Mas é bem mais do que isso!».

Na exposição, que será estreada amanhã, sexta-feira, no seminário de abertura da festa, serão apresentados «os aspetos científicos, da literatura, dos viajantes estrangeiros que por aqui passaram e escreveram sobre o barrocal algarvio. Vamos ter também testemunhos e vivências, em vídeo, com a colaboração de pessoas que são aqui da aldeia de Santo Estêvão, como a D. Tolentina ou a D. Maria do Rosário. Mas também iremos olhar para o futuro: quais são as ameaças? a desertificação? a plastificação trazida pela agricultura intensiva?».

Emanuel Sancho deixa uma mensagem de esperança, falando das «gerações mais jovens que estão a lutar contra a maré, nomeadamente apostando em produtos locais». E será também um pouco disso que, a partir de amanhã e até domingo, poderá ser conhecido, degustado, experimentado e até comprado em Santo Estêvão.

Como diz a organização da iniciativa, «a “Barro Cal” assume uma função lúdica e educativa, de reaprendizagem de saberes, de relação equilibrada entre o homem e a natureza, de sensibilização das atuais e futuras gerações para as múltiplas fontes de conhecimento e disciplinas artísticas».

Trata-se, por isso, de «uma festa que fomenta o gosto pelo campo, o reencontro com os valores ancestrais, a dança, a música, a oralidade, a brincadeira, o convívio e a partilha». Num fim de semana em que há inúmeras propostas de uma ponta à outra do Algarve, deixe-se encantar pela genuinidade de Santo Estêvão, esta aldeia do interior do concelho de Tavira, com cerca de duas dezenas de habitantes e onde ainda se respiram os bons ares do barrocal algarvio.

A 1ª Festa Feira do Barrocal Algarvio é uma organização da AGECAL, que conta com o apoio do Município de Tavira, da Freguesia de Luz de Tavira e Santo Estêvão, assim como do Programa 365 Algarve. Colabora, ainda, com esta iniciativa a Casa do Povo de Santo Estêvão.

Clique aqui para conhecer o programa da Barro Cal na íntegra

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

sulinformacao

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