O realizador Benôit Jacquot escolheu o Algarve para rodar grande parte do seu novo filme, «Son Corps», «porque é um local muito bonito para filmar, com uma bela luz, a zona da costa é bonita e o campo também. Estavam aqui exatamente a localização [location] que eu estava à procura, que eu tinha imaginado».
Em entrevista ao Sul Informação, aquele que é atualmente um dos mais conhecidos diretores de cinema franceses admitiu que até já conhecia o Algarve antes destas filmagens. Mas «não é a mesma coisa conhecer um local apenas para passar algum tempo ou conhecer para trabalhar, para fazer um filme. Eu posso filmar locais onde nunca iria. Mas, neste caso, estou a filmar locais onde eu gostaria muito de passar o meu tempo, seja em que circunstância for», sublinha.
O realizador salienta que os locais escolhidos desempenham um papel importante no filme: «o mar, a costa, as aldeias, os locais como este em Monchique, são muito importantes. Eu escolho as minhas localizações como sítios onde as coisas devem ser e não poderia ser noutro sítio qualquer. Agora é aqui».
Mas, apesar de a a história «se passar em Portugal, obviamente», o filme não é um cartaz turístico e , por isso, «ninguém diz no filme: agora estamos no Algarve, agora estamos em Monchique».
No entanto, como salientou também em entrevista ao Sul Informação o ator principal Mathieu Amalric, «depois de ver este filme, toda a gente vai procurar por esta casa», referindo-se à casa à beira mar, junto à Praia da Marinha, no concelho de Lagoa. «Há qualquer coisa de muito profundo…esta casa é o paraíso. A casa desempenha um papel importante no filme», sustenta o ator que já ganhou dois Césares (o Óscar do cinema francês), o último dos quais pelo seu papel no filme «O Escafandro e a Borboleta».
Benoît Jacquot, que também já conta no seu currículo com muitos prémios e distinções, é conhecido por ser um dos mais prolíficos realizadores franceses, mantendo um impressionante ritmo de um filme por ano.
Neste caso, o filme «Son Corps» tem previsto um período muito curto de filmagens, de apenas quatro semanas. Até para Jacquot, este é um recorde: «Geralmente filmo os meus filmes em oito semanas, portanto este é metade», disse, na sua entrevista ao Sul Informação.
E porquê tão pouco tempo? «Porque era esse o propósito: fazer um filme no tempo mais rápido possível. Fiz um filme há pouco tempo, vou começar outro dentro de semanas. É uma agenda muita apertada para mim e para os atores. Mathieu Amalric só tinha estas datas para estar no filme, por isso fazemos tudo neste período tão curto».
Mas não é só por causa da falta de tempo, é também uma questão de estilo de trabalho. Mathieu Amalric explica: «Benoît gosta do facto de o filme ser filmado rapidamente, em quatro semanas. Ele acredita em algo que não é construído, se nós representarmos demasiado ele não gosta. Por isso, não fazemos demasiados takes, ele é alérgico a isso».
O filme, revela o realizador, deverá estar pronto na Primavera do próximo ano, a tempo de ser apresentado no Festival de Cannes, em Maio.
Para a escolha de Portugal para rodar este filme com um argumento livremente adaptado do romance “The Body Artist”, de Don DeLillo, um dos maiores escritores americanos, pesou muito o facto de Benoît Jacquot já conhecer o país e de conhecer muito bem o produtor português Paulo Branco, «há uns 20 ou 25 anos». «Paulo Branco, quando era novo, começou a trabalhar em Paris, e eu conheci-o então. É uma amizade muito longa», recorda na sua entrevista ao Sul Informação.
É mais fácil trabalhar com alguém que conhece? «Depende (risos). Nós conhecemo-nos muito bem, sabemos o que podemos dizer um ao outro, por isso, nesse sentido, é mais fácil. Mas ele conhece bem demais, que eu posso fazer isto ou aquilo, e eu sei demasiado bem que ele me vai pedir isto ou aquilo. Aí pode tornar-se difícil», admite.
Depois das quatro semanas de rodagem de «Son Corps», em Portugal, três das quais no Algarve, Jacquot partirá para outro projeto. O realizador revela ao nosso jornal que se trata de «um filme falado em inglês, que será filmado em Capri, baseado numa novela do escritor italiano Alberto Moravia, e que se chamará “Capri 34», por se passar em 1934».
«Um filme por ano, para mim, é a melhor maneira de fazer as coisas, é a minha maneira de respirar», constata o realizador.