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A exposição “Boliqueime a terra e as gentes”, que tem como curadores Francisco d’Oliveira Martins e Maria do Céu d’Oliveira Martins, é inaugurada no dia 25 de Março, às 10h00, com direito a uma conferência, e estará patente até dia 28 de Abril na Galeria de Arte do Convento Espírito Santo, em Loulé.

Guilherme d’Oliveira Martins, que foi ministro da Educação, das Finanças e da Presidência, e que é, agora, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, tem ligações a Boliqueime, de onde era natural a sua mãe.

«Ah! Boliqueime vem-nos à memória! A terra e as gentes merecem a nossa lembrança. Os azuis intensos e límpidos, os vermelhos da terra, os amarelos e os verdes das árvores – chamam-nos à vida. Estamos entre Barlavento e Sotavento – rigorosamente no centro algarvio, de leste para oeste e de norte para sul, onde a Serra abraça o Barrocal, descendo serenamente até ao mar, à longa frente de falésia que define a transição», diz.

«Lembro os verões da minha infância. E recordo os preparativos, o alvoroço, a expectativa, o gozo do reencontro. O avô Mateus vinha buscar-nos. A minha mãe providenciava tudo. O momento era único: a casa, as árvores, as flores, os animais, as coisas e sobretudo as pessoas. A lembrança juntava-se à surpresa. E a aventura começava na Estação de Sul e Sueste até ao Barreiro. O encontro com o Algarve exigia o caminho-de-ferro, e depois passou a obrigar, de automóvel, a longuíssima serra do Caldeirão…», refere.

«O comboio deixava-nos em Albufeira. E chegávamos à terra da promissão. Ficavam para trás a cidade, começava o ar livre, a imaginação, a autonomia, tudo. O primeiro almoço aguardava-nos – canja de galinha e arroz de cabidela, e antegozávamos essa oportunidade, que a avó Ana especialmente caprichava. Era a melhor cabidela do mundo. À distância, a saudade traz-nos os cheiros, os sabores, os sentimentos, os sorrisos especialmente gostosos e belos. Os sabores eram inesquecíveis, os figos secos, os doces de amêndoa, açúcar e ovos, os dom-rodrigos, os morgados e as peças de escultura da doçaria de massa de amêndoa – frutas e peixes recheados de ovos-moles», acrescenta.

«A minha avó fazia questão de os ter das diferentes qualidades, para que nunca faltassem em braçados e cestas. As amêndoas eram deliciosas e quanto às alfarrobas não suspeitávamos das suas mil utilidades. De Loulé, o avô falava-nos com entusiasmo do buliçoso comércio. António Aleixo e os seus poemas eram recordados», conta.

«Ao folhear a “Monografia do Concelho de Loulé”, de Ataíde de Oliveira, percebíamos a riqueza de um concelho marcado pela ligação à serra, através das vias dos almocreves e das memórias longínquas do Remexido», diz.

As mouras encantadas, o romanceiro, as lendas diziam-nos da multiplicidade de influências – e, quando lemos “O Dia dos Prodígios” de Lídia Jorge, entendemos os muitos mistérios e a enorme capacidade de efabulação desta gente fantástica. Maria Aliete Galhoz e José Ruivinho Brasão têm sido incansáveis na revelação desses mistérios. Boliqueime de hoje e de sempre – quantas memórias, quantas tradições!», conclui.

Esta exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 9h30 às 17h30, e ao sábado, das 9h30 às 16h00. A entrada é livre.

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