Há Peter Parker, um repórter fotográfico, que é também Homem-Aranha, Clark Kent, um jornalista, que tira os óculos e passa a Super-Homem, ou Bruce Wayne um milionário que, à noite, é Batman. Eliseu Correia não tem superpoderes, mas partilha com estes super heróis o facto de ter uma vida dupla: de dia é um empresário de sucesso e à noite, com um chapéu e óculos escuros, “transforma-se” em DJ, um dos “Bubba Brothers”.
A história da dupla de DJs algarvia Bubba Brothers tem dois anos de vida num ritmo frenético, que começou num bar de um amigo e, no dia 13 de Agosto, tem mais um capítulo: a atuação no Estádio Municipal de Leiria, no Leiria Dancefloor, evento por onde já passou, por exemplo, Bob Sinclair e onde, este ano, vão atuar Pete tha Zouk, ou Mastiksoul.
Eliseu Correia conta ao Sul Informação que «tudo começou por necessidade. Quando fizemos a primeira gala da EC Travel [empresa de Eliseu Correia] tinha a intenção de convidar um DJ para o afterhours, de renome. Contactei um, que eu não conhecia muito bem e pedi o valor do cachet. Ia tendo um AVC e fiquei com “o menino nas mãos”. Pensei: com esse valor, eu vou para ali duas ou três horas e vou eu pôr música e a malta vai achar muita piada àquilo. Na altura, o nome foi DJ ECSLBXXL e houve muita gente que não chegou a perceber quem era o DJ convidado».
O empresário já tinha sido DJ nos seus tempos de juventude e essa atuação «despertou-me o “bichinho”. Comprei uma mesa de mistura, fraquinha, para brincar em casa e continuei a pôr musica nas minhas galas, até que alguém me pergunta se eu quero pôr música numa festa de solidariedade em Albufeira e eu fui».
Depois surge o bar “2 Beer, or not 2 Beer”, no Montenegro, em Faro, e o convite de um amigo para tocar lá. Eliseu Correia conta que «o grande problema que tinha é que, como não trabalhamos com pens, só vinil e CDs, perdia muito tempo à procura de um CD, a pôr o outro CD, a ouvir o CD… e falei com um amigo de infância, o Justino Santos e disse-lhe: “tu, mais que ninguém, percebe da música que nós os dois gostamos. Não queres fazer uma brincadeira no “2 Beer?”» – e assim se reuniram o DJ EC e o MC Frog: os Bubba Brothers.
«Sempre gostei muito filme Blues Brothers e, por acaso, sou mais gordinho e ele [Justino Santos] mais magrinho. Lembrei-me: noite – buba, diversão, “Bubba brothers”. E comprámos um fatinho, com o chapéu, uma camisa branca, gravata preta, e fizemos um video muito básico que teve quase 20 mil visualizações. Ninguém nos conhecia e teve um efeito dominó, espalhou-se, tornou-se viral. A partir daí, começou-se a passar palavra, houve bares em Faro a contactarem-nos, a perguntar se não queríamos atuar lá», lembra Eliseu Correia.
O que começou como uma brincadeira começou a ganhar contornos mais sérios e Eliseu Correia decidiu aprofundar conhecimentos enquanto DJ. «Eu sabia que tecnicamente estava uma lástima e fui para Londres, para London Sound Academy, tirar um curso de DJ intensivo. Estive quatro dias fechado numa cave, oito horas por dia, a ser “torturado”. A partir daí, melhorámos consideravelmente e já passámos por Kadoc, Água Moments, Libertos, festivais… tanta coisa…».
Segundo Eliseu Correia, «só não fazemos mais atuações, porque nao podemos. Trabalhamos e não conseguimos, mas também não queremos porque temos tido o cuidado de selecionar as casas onde atuamos».
Conciliar a vida de empresário com a vida de DJ não é fácil. «A melhor frase que descreve isso é a de um amigo meu que uma vez me perguntou: “tu dormes? Pouco”, respondi. Um set novo são, no mínimo, entre a 15 a 20 horas de música, sentado numa sala com a mesa de mistura. Eu oiço música o dia todo, mesmo quando estou a trabalhar. Ponho uma playlist do Youtube e vou à procura de novos e velhos sons, estou sempre à procura de música».
Apesar de admitir que a atividade de DJ é uma «antítese com o que faço no dia-a-dia, isso faz com que a música seja o nosso anti-stress. Quando ponho música, não quero saber de mais nada, quando oiço música, estou completamente fora deste mundo. Sendo desgastante, quem corre por gosto não cansa e acho que, desde que pomos música, somos muito mais felizes».
Felicidade é o que a dupla de Djs está a sentir a poucos dias de atuar no Leiria Dancefloor: «Estamos em êxtase. Somos amadores, ponto final parágrafo. Não vivemos daquilo, fazemos por paixão. Já não durmo há algum tempo por causa disso».
Segundo Eliseu Correia, esta «é uma oportunidade única, atuar num festival que terá entre 10 a 15 mil pessoas. Eu sonhei com isso, disse a muita gente que tinha o sonho de poder pôr música num estádio».
Apesar da responsabilidade «de não desiludir quem nos convidou para pôr música», Eliseu Correia diz que «nesta atuação temos nada a perder. Sabemos que pode ser a grande porta de abertura para nos dar a conhecer fora das fronteiras desta terra que amamos e que se chama Algarve e vamos dar tudo».
Os Bubba Brothers serão os primeiros a atuar e isso traz-lhes «a atenção total. É o primeiro ato que vai ser visto. A adrenalina vai estar ao rubro, já passei o set pela minha cabeça umas 500 vezes. Estou seguro que, quando nos apanharmos num palco, num estádio, com som como deve ser, luzes como deve ser, e olharmos para baixo e vermos 4 ou 5 mil pessoas, só espero que não me acordem».
Com o estádio «check», como diz o empresário e DJ, os Bubba Brothers já olham para o futuro: «eu nasci a sonhar e tenho um sonho que é gravar o nosso próprio CD, com músicas próprias e vou para a Holanda, ainda este ano, para aprender com os melhores. Cada um tem a sua pancada e eu sempre vivi a vida por etapas e essa é a próxima. Outro grande sonho é os Bubba atuarem no estrangeiro, seja onde for. Seria fabuloso! Se pudesse escolher, ou Holanda, ou Inglaterra, ou Ibiza, nem que fosse na “Tasca do Ti Manel”, mas podíamos dizer que os Bubba atuaram em Ibiza», explica.
«Só se é DJ, se se colocar as pessoas a dançar. A noite só é boa se eu conseguir pegar num grupo de gente que não conheço de lado nenhum e se o puser a dançar com a minha música»: este é o superpoder dos Bubba Brothers.