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A ópera “O Castelo de Barba Azul”, de um grande compositor contemporâneo, o húngaro Béla Bartók (1881-1945), interpretada por grandes solistas da ópera da Hungria, é a proposta que se segue no Festival Terras sem Sombra, que neste próximo fim de semana da 8 e 9 de Abril chega a Castro Verde.

Com a temporada de 2017 do Terras sem Sombra, que tem como mote “Da Espiritualidade na Arte”, prestes a chegar a meio, o festival passa agora pela música de Béla Bartók, que dedicou extraordinária atenção à música e à literatura tradicionais, contribuindo decisivamente para renová-las, como fonte de inspiração da modernidade.

Para este fim de semana de festival, vai estar no terreno, mais uma vez, um programa único que, após a descoberta do centro histórico de Castro Verde, na tarde de sábado, propõe a fruição, na Basílica, em versão de concerto, de uma ópera essencial: O Castelo do Barba-Azul.

«Esta obra de Bártok, tendo como pano de fundo a intrigante história do Duque Barba-Azul, protótipo do egoísta, apela à reflexão sobre o papel das relações entre as pessoas na sociedade atual e o sentimento de solidão que as impregna», salienta a organização do festival.

No segundo dia, a ação de salvaguarda da biodiversidade leva a revisitar práticas ancestrais do Ciclo da Lã, profundamente ligadas à antiga transumância entre o Campo Branco e a Meseta Ibérica. Entre os convidados, estarão Klára Breuer, a embaixadora da Hungria em Portugal, e a sua família.

 

Monumentos, ruas e paisagens

O fim-de-semana arranca no sábado, dia 8 de Abril, com uma visita ao centro histórico de Castro Verde, orientada pelo historiador da arte José António Falcão, diretor do Departamento do Património da Diocese de Beja.

A iniciativa tem o ponto de encontro, às 14h30, na Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, que constitui o arranque do passeio.

Um périplo pelos monumentos e ruas da vila dará a conhecer as suas principais referências, como a igreja de Nossa Senhora dos Remédios, ligada pela tradição ao eremita que, segundo reza a lenda, incentivou D. Afonso Henriques, na véspera da batalha de Ourique, a prosseguir sem esmorecimento, ou o Museu da Lucerna, que guarda uma coleção de referência, no plano internacional, de lucernas de época romana (séculos I-III), descobertas em 1994 na localidade de Santa Bárbara dos Padrões.

Mas o foco principal da visita será a igreja da Misericórdia, edifício quinhentista que preserva, além de um notável conjunto de obras de talha, pintura sobre tela e escultura, um singularíssimo teto pintado.

Sem culto habitual, o imóvel, classificado como Monumento de Interesse Público, revela-se neste dia, em todo o seu esplendor, aos espectadores do Terras sem Sombra.

 

Um clássico contemporâneo: O Castelo de Barba Azul

De acordo com o repto de projetar do Terras sem Sombra até outras geografias, a escolha deste ano não pode ser mais excitante, uma vez que, em Castro Verde, vai estar representada a Academia Franz Liszt, de Budapeste, viveiro de brilhantes solistas.

A ópera em um ato O Castelo do Barba Azul, com música de Béla Bartók e libreto de Béla Balázs, inspirada num famoso conto de Charles Perrault, encerra uma reflexão profunda sobre a sociedade atual e a dificuldade de integração do indivíduo, tantas vezes condenado pelo seu próprio individualismo à solidão.

Um tema que se ajusta muito bem ao programa do festival nesta 13ª edição, dedicada à redescoberta dos laços entre cultura e religião. Conta-se, para isto, com artistas excecionais, todos oriundos daquele famoso centro musical.

Apollónia Szolnoki é uma referência entre os solistas da Ópera Nacional de Budapeste. Possui um currículo notável como meio-soprano. Inúmeros cantores líricos mudam de registo vocal ao longo da carreira e a voz desta profissional não foi exceção: subiu de tom e ficou mais dramática.

Papéis como o de Donna Elvira, em Don Giovanni – que chegou a interpretar nos Teatros Nacionais de Miskolc e de Debrecen –, e Sieglinde, em As Valquírias, estão entre os seus papéis de eleição.

Antal Cseh, baixo-barítono, apresenta-se regularmente no Teatro Nacional de Szeged, atuando também com frequência na Ópera de Budapeste, onde tem interpretado primeiros papéis, com grande aplauso do público e da crítica.

Foi distinguido com o Prémio Vaszy Viktor, o Prémio Szeged e o Prémio Dömötör ao melhor cantor de Ópera, tendo-se salientado em concursos internacionais e nacionais (Nikola Cvejics, Simándy József, Erkel Ferenc, etc.).

O pianista András Rákai é um acompanhante de escol, privilegiado por muitos cantores da Europa e da América do Norte. Tem desenvolvido o seu trabalho em teatros, concursos e festivais internacionais, em particular na Hungria, com destaque para os Teatros Nacionais de Szeged e de Miskolc, o Teatro Bartók, de Dunaújváros, o Szeged Open-air Festival e a Armel Opera Competition.

 

Memórias da Pastorícia e da Transumância: O Ciclo da Lã no Campo Branco

As contingências da economia global em nada têm beneficiado o mercado nacional da lã. Outrora um produto de elevada riqueza, o seu rendimento mal cobre, atualmente, os custos da tosquia, o que coloca muitos problemas aos criadores de rebanhos.

Porém, no contexto da paisagem cultural de Castro Verde (cuja importância, do ponto de vista da conservação da natureza, está subjacente na recente candidatura a Reserva da Biosfera, apresentada à UNESCO), a ovelha é um elemento preponderante – e a lã um dos seus produtos mais nobres.

Fiel à intenção de promover o conhecimento, a salvaguarda e a valorização do “Ciclo da Lã”, o Terras sem Sombra acompanha uma tosquia tradicional das ovelhas autóctones da região (raças merina e campaniça), em que os voluntários do festival irão colaborar, instruindo-se também no método tradicional de dobar a lã, e visita o recém-inaugurado pólo de Lombador, dedicado à tecelagem, na freguesia de Santa Bárbara de Padrões, do Museu da Ruralidade.

Um fio condutor para aprofundar a reflexão, iniciada já em 2003, sobre o património da transumância, no plano nacional e peninsular, em terras do Campo Branco, onde a pastorícia e as atividades a ela associadas constituem uma referência fundamental para o entendimento deste inland do Baixo Alentejo.

A ação começa às 10 horas e, tal como as demais iniciativas do Terras sem Sombra, é de acesso livre.

Todas estas iniciativas de mais um fim de semana de Festival Terras sem Sombra são promovidas pelo Departamento do Património da Diocese de Beja e a Associação Pedra Angular, em parceria com o Município de Castro Verde e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

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