A Sé Catedral de Beja foi pequena, este sábado à noite, para acolher todo o público que quis assistir ao concerto final da edição de 2016 do Festival Terras sem Sombra.
O ensemble vocal e instrumental de música antiga La Grande Chapelle, dirigido pelo maestro Albert Recasens, interpretou dezena e meia de peças de três compositores portugueses, que, nos tempos da união de Portugal e Espanha na denominada “Monarquia Hispânica” ou “Monarquia Católica” (1580-1640), fixaram residência em Madrid ou em Sevilha, no século XVII – Manuel Machado, Fr. Manuel Correa e Fr. Filipe da Madre de Deus .
A música deste trio de compositores portugueses em Espanha foi posta em confronto com a do espanhol Juan Hidalgo, harpista, à época, da Capela Real, o qual se tornara célebre por ser o criador, com Calderón de la Barca, das duas primeiras óperas espanholas.
O concerto teve por palco a catedral de Beja, recentemente restaurada, numa parceria no âmbito da associação de desenvolvimento Portas do Território, que junta a Câmara Municipal de Beja, a Diocese pacense e ainda a Santa Casa da Misericórdia local.
Antes do início do concerto propriamente dito, o vereador Manuel Oliveira salientou a importância da parceria das Portas do Território, para recuperar o rico património do concelho, e explicou que as obras recentes na Catedral se destinaram a recuperar a estrutura do edifício, mas também «introduziu subtis remodelações com registo arquitetónico contemporâneo». Os novos bancos, que foram estreados no concerto, são exemplo disso, assim como o órgão.
José António Falcão, diretor-geral do festival, acrescentou que as obras de requalificação, orientadas pelos arquitetos Augusto Costa e Miguel Malheiro, com a colaboração da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, decorreram em 2015 e 2016, tendo custado menos 360 mil euros do que o inicialmente orçamentado, uma situação pouco usual no país.
As obras, salientou, permitiram «apetrechar a catedral para os novos desafios pastorais que se colocam, à porta do terceiro milénio».
Durante o fim de semana, dedicado ao património cultural e natural, como é hábito do Terras sem Sombra, foi feita uma evocação, pelos seus amigos e colegas, de Armando Sevinate Pinto [1946-2015], que foi o primeiro presidente do Conselho de Curadores do Festival. E foi igualmente lembrado outro amigo do FTSS, Manuel de Castro e Brito, nascido em 1950, em Beja, e falecido em Março passado. Os familiares de ambos, aliás, foram convidados de honra do concerto.
No domingo de manhã, já com o sol bem alto e sob um calor abrasador, cerca de meia centena de pessoas, entre músicos, espectadores, membros das comunidades locais e da organização do festival, familiares dos homenageados e jornalistas, participaram numa ação para dar a conhecer a biodiversidade das ribeiras de Terges e Cobres, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana.
Os anfitriões desta iniciativa, que consistiu numa caminhada de cerca de cinco quilómetros, foram Pedro Rocha, biólogo e diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, e Paula Conduto Mira, arquiteta e uma das proprietárias da unidade de agroturismo, denominada Xistos, instalada na herdade do Monte da Ponte, onde é grande o respeito pela natureza e pela biodiversidade.
Tendo por mote Entre Ribeiras: Na Confluência das Ribeiras de Terges e Cobres – Turismo de Natureza e Sustentabilidade, o grupo de corajosos caminhantes enfrentou um sol de 35 graus para conhecer a beleza da galeria ripícola, constituída por loendros floridos, murtas, zambujeiros e outras plantas, do barranco por onde, nesta altura, pelo menos de forma visível, já não corre nem o Cobres, nem o Terges.
Ao longo das margens da ribeira agora quase seca, reduzida a pegos e à água que corre abaixo da superfície, grandes buracos indicavam a presença de texugos. Nas encostas, azinheiras centenárias, com as mariolas por baixo e uns tufos de rosmaninho-branco, chamaram a atenção dos caminhantes, sempre atentos às explicações de Pedro Rocha e Paula Mira.
A temperatura elevada e o tom amarelo das searas, contrastando com a relativa frescura dos vales e barrancos onde correm as ribeiras de Terges e Cobres, recordam que estes locais são verdadeiros «oásis», até ao nível da biodiversidade.
Com um concerto de alta qualidade e uma iniciativa mostrando como o turismo de natureza pode contribuir para a sustentabilidade, terminou mais uma edição do Festival Terras sem Sombra. Mas será que acabou mesmo?
É que no dia 2 de Julho, às 18h30, no Centro das Artes, em Sines, terá lugar a entrega do Prémio Internacional Terras sem Sombra, nas categorias de promoção da Música, valorização do Património Cultural e salvaguarda da Biodiversidade. As entidades ou pessoas premiadas serão oportunamente anunciadas. O programa inclui também uma interpretação musical.
Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação