O povoado dos Perdigões, na Herdade do Esporão, ocupado entre os anos 4000 e 3000 a.C., vai poder ser visitado nos dias 24 e 26 de julho, durante as escavações que estão a decorrer neste complexo arqueológico situado a cerca de um quilometro de Reguengos de Monsaraz.
A Herdade do Esporão, o Município de Reguengos de Monsaraz e a ERA Arqueologia organizam na quinta-feira um Dia Aberto para crianças, com visita ao Museu da Torre do Esporão às 9h30 e duas horas mais tarde ao povoado dos Perdigões.
No sábado, todos os interessados que pretendam participar no Dia Aberto, podem encontrar-se às 9h00 na Praça da Liberdade e a autarquia fornecerá transporte para as atividades.
O programa inicia-se às 9h30 com a visita aos Perdigões acompanhada pelo diretor do Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia, António Valera, e pela equipa de arqueólogos que está a trabalhar no complexo arqueológico.
Pelas 10h30, os participantes vão conhecer a exposição que está patente na Torre do Esporão com as peças que foram encontradas no povoado dos Perdigões, numa visita que será orientada pela equipa de investigação.
Às 12h00, realiza-se uma palestra no Auditório do Enoturismo com o título “O que nos dizem as práticas funerárias sobre quem viveu nos Perdigões”, proferida por António Valera, seguindo-se a visita às caves e à adega da Herdade do Esporão.
As escavações no complexo arqueológico foram retomadas este mês pelas equipas da ERA Arqueologia e da Universidade de Málaga, novamente com a colaboração da Universidade de Bradford no âmbito do seu programa de formação académica. Steven Emslie, da Universidade da Carolina do Norte, que está a desenvolver estudos de isótopos estáveis em restos humanos dos Perdigões, juntar-se-á à equipa da ERA e a investigadores da Universidade de Alcalá de Henares (Primitiva Bueno e Rodrigo Balbín), que vão colaborar com a equipa de Málaga na remoção e estudo da estela-menir que se encontra fragmentada numa fossa.
O povoado dos Perdigões é um grande complexo de recintos delimitados por grandes fossos (estruturas escavadas na rocha), com necrópoles (cemitérios) e um cromeleque de menires associado (recintos cerimoniais circulares compostos por grandes blocos de pedra colocado ao alto), que teve início no final do Neolítico (há cerca de 5500 anos) e durou até ao início da Idade do Bronze (há cerca de 4000 anos), representando 1.500 anos de história.
O sítio terá tido um papel muito importante para as comunidades que habitavam aquela área na Pré-história e seria, provavelmente, um local utilizado para a prática de cerimónias rituais relacionadas com o culto dos mortos e dos antepassados.
São os vestígios dessas práticas que têm vindo a ser postas a descoberto pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia, que desenvolve há 17 anos campanhas de escavação no local.
Várias estruturas negativas tipo fosso estão a ser intervencionadas e datadas, mas um dos aspetos mais significativos é a presença de contextos funerários de cremações humanas datados de há cerca de 4500 anos.
Práticas funerárias consideradas pouco comuns na época e que levantam interessantes questões sobre as visões do mundo e do ser humano que estariam em transformação.
Associadas a estes contextos de cremações humanas tem vindo a ser registado um notável conjunto de estatuetas antropomórficas em marfim, de grande naturalismo e beleza estética que, conhecidas noutros contextos do sul peninsular aparecem pela primeira vez em território nacional. O seu significado é assunto de debate entre os especialistas, podendo representar divindades, pessoas ou estatutos sociais concretos, grupos de identidade ou parentesco.