Promover uma relação de identidade com a paisagem cultural e potenciar a educação artística e patrimonial junto de jovens e crianças de instituições algarvias de acolhimento são os objetivos do Projeto «Lugares Mágicos – a paisagem algarvia», cuja segunda edição está a decorrer desde fevereiro até novembro, numa iniciativa da Direção Regional da Cultura do Algarve em parceria com a Associação Atelier Educativo e o apoio da FNAC Algarveshopping.
Este projeto foi iniciado em 2010, no âmbito do Ano Europeu da Pobreza e Exclusão Social, e baseia-se na promoção de uma relação direta entre artistas/criadores e crianças de diferentes idades e proveniências, a partir da vivência de lugares únicos do património cultural e natural do Algarve.
«Pensar, criar e registar/construir o território são os objetivos de “Lugares Mágicos”, projeto que se firma na crença de que podemos ser transformados através da relação com os outros e com o lugar. Mantendo o conceito de viver, praticar e sentir a cultura, esta II fase do projeto incidirá na exploração da riqueza e diversidade da paisagem cultural algarvia», explica a Direção Regional de Cultura.
«E se um dia as escolas se tornassem numa “espécie” de academias, com ateliês de desenho, pintura, dança, teatro, cinema?.. E se essas academias valorizassem de igual maneira as artes, a matemática e o Português?.. As crianças tornavam-se certamente adultos mais felizes», salienta Tânia Nunes, da Associação Atelier Educativo.
Este é precisamente um dos pontos de partida do Projeto «Lugares Mágicos – a paisagem algarvia» e, para lhe dar corpo, este ano serão realizados cinco ateliês nas áreas de desenho, pintura, fotografia e dança, com a participação de cerca de 70 crianças e jovens de toda a região.
O primeiro ateliê, de desenho e pintura e denominado «A linha do Guadiana», é coordenado por Pedro Leitão, e está a decorrer nos meses de fevereiro e março, com com os jovens do Centro de Acolhimento Gente Pequena, de Vila Real de Santo António.
Serão visitados o Farol de Vila Real de Santo António, o Museu de Guerreiros do Rio, e o Castelo de Castro Marim.
Outro ateliê, de fotografia, tem como tema «A construção milenar da paisagem», sendo coordenado pelo fotógrafo Vasco Célio. Vai decorrer em abril e maio, com os jovens da instituição Bom Samaritano, sediada em Portimão. Os temas de exploração serão o Castelo de Alvor, o Castelo de Paderne, as Muralhas de Portimão, o Menir dos Gregórios, a Quinta de Marim (Chalet João Lúcio) e o Castelo/Muralhas de Faro e Ria Formosa.
Haverá ainda um outro ateliê com o mesmo tema, em outubro e novembro, desta vez com a participação das jovens da Casa de Proteção às Raparigas de Faro , aos domingos, e com os jovens da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira Lar Gaivota, aos sábados, neste caso tendo como tema de exploração o Castelo de Paderne.
«As linhas da nossa paisagem» são o tema do ateliê de dança, dirigido pela coreógrafa e bailarina Maria Alcobia, que vai decorrer em maio e junho, com os jovens do Centro de Assistência Social Lucinda Animo dos Santos, em Lagos. A Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, em Vila do Bispo, será o pretexto deste ateliê.
Uma utopia ou talvez não
«Infelizmente a maioria das escolas públicas e colégios privados sobrevalorizam o desempenho escolar, baseando-se principalmente na avaliação das disciplinas de português e matemática. Ou seja, quem não for bom nestas disciplinas será sempre estigmatizado e possivelmente sentir-se-á inferior em relação aos que conseguem tirar resultados médios ou satisfatórios. Uma injustiça. Podem adorar dançar, cantar, desenhar, fotografar, fazer desporto, e fazê-lo bem, mas como estas áreas estão em segundo plano o reconhecimento individual e coletivo não é feito», salienta Tânia Nunes, da Associação Atelier Educativo, parceira e motor do projeto «Lugares Mágicos».
«A Educação tal como a concebo, deverá ser integrativa, aceitando as diferenças, motivações e interesses de cada um, e participativa, no sentido de estar aberta ao Conhecimento», acrescenta.
Tânia Nunes admite que tudo isto poderá ser uma utopia, mas defende que «as escolas deveriam promover incessantemente o acesso à cultura, bom cinema, visitas a exposições, óperas, espetáculos de dança, museus, monumentos, experiências devidamente enquadradas, deviam fazer mais parte da vida escolar».
Por seu lado, Dália Paulo, diretora regional de Cultura, considera que «a cultura não se deve afirmar. Deve viver-se, praticar-se e sentir-se».
A responsável acrescenta que «foi com este espírito construtor que a Direção Regional de Cultura do Algarve desafiou o Atelier Educativo a conceber um projeto de Educação Artística, inserido no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social; desta forma nasceram os Lugares Mágicos», que este ano voltam a acontecer.
«Partindo da nossa Paisagem Cultural, Lugares Mágicos foi desenhado conjugando, desde logo, o património edificado (monumentos) e a criação artística num objetivo comum: potenciar olhares, diálogos e experiências ao público-alvo, num exercício pleno de cidadania», explica também Dália Paulo.
«Este projeto assenta ainda na abertura e recetividade da sociedade civil e das instituições que o acolheram e o moldaram, aportando-lhe a respiração necessária para o tornar numa oportunidade de fazer a diferença na vida dos seus utentes», acrescenta a diretora regional, salientando que os utentes dos ateliês são «pessoas muito especiais que, com o brilho no olhar, a alegria contagiante, o orgulho em saber-fazer e em criar nos dão força e ânimo para continuar».
O Sul Informação é media partner deste Projeto «Lugares Mágicos».