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«É como alguém que partiu para o mar e não voltou». É a partir do quadro da quase portimonense Teresa Dias Coelho, pertença da coleção da Fundação Calouste Gulbenkian (que se pode ver acima), que foi «construída toda a trama» da exposição “Lugares Paisagens Viagens”, que abre no próximo dia 8 de Dezembro, às 18h00, no Museu de Portimão.

José Gameiro, curador da exposição, explicou ao Sul Informação que «é num discurso artístico, estético, cultural e geográfico que esta iniciativa desafia e convida à descoberta de novas e imprevistas “Viagens”, em que, num oportuno e complementar diálogo, às obras das coleções da Fundação Calouste Gulbenkian se juntam peças pertencentes ao acervo do próprio Museu de Portimão e dos colecionadores locais Gita Honwana Welch, George Welch e Álvaro Pires».

No Museu de Portimão, a mostra “Lugares Paisagens Viagens”, saída do inédito cruzamento entre as propostas visuais em exibição e estimulada pelo encontro de tempos e espaços tão diferenciados, tem, porém, «uma inesperada ajuda e a companhia de um muito especial e ilustre “guia” natural de Portimão – Manuel Teixeira Gomes», também ele «compulsivo viajante e um especial observador de lugares, gentes, territórios e paisagens, escritor de uma intensa e epistolar plasticidade verbal e visual, frequentador assíduo de museus, galerias e antiquários, participante ativo de tertúlias artísticas e literárias, paralelamente ao seu desempenho mais institucional, como diplomata e antigo Presidente da República Portuguesa, surge no desempenho desta missão».

Assim, além de obras da coleção pessoal de Teixeira Gomes, que integram o acervo do Museu de Portimão, ao longo da exposição haverá «onze curtas citações retiradas dos seus livros», que irão surpreender, «estabelecendo conexões, redescobrindo pontos de contacto, alargando possíveis interpretações, num inesperado diálogo com as obras dos vários autores e coleções da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu de Portimão e de colecionadores locais, contrapondo ou aproximando um eventual sentido literário à plasticidade das imagens».

Da coleção do próprio Calouste Gulbenkian, poderá apreciar-se, por exemplo, uma vista de Marselha do século XIX, uma tapeçaria antiga ou a escultura «Dromedário da Argélia», em estreito diálogo com um busto romano que pertenceu a Teixeira Gomes, que, aliás, escolheu o exílio nesse país do Norte de África e aí acabou por morrer.

Da coleção contemporânea da Gulbenkian, além da já referida pintura de Teresa Dias Coelho, haverá uma peça estranhamente imponente de Ana Vidigal, a marcar o centro da exposição e a remeter para a dimensão epistolar de Manuel Teixeira Gomes.

Da coleção do casal Welch, estará patente, por exemplo, uma obra de Malangatana, enquanto da coleção de Álvaro Pires serão apresentadas peças de José de Guimarães ou de Cruzeiro Seixas.

“Porto em Ruínas”, pintura da coleção de Manuel Teixeira Gomes, depositada no Museu de Portimão

José Gameiro explicou ainda que esta mostra integra o projeto “Gulbenkian Itinerante”, que decorre, «em parceria com cinco instituições nacionais, num modelo dinâmico, desenvolvido em prol do desenvolvimento cultural». Além do Museu de Portimão, o projeto da Gulbenkian integra mais duas instituições no Sul do país – o Museu Municipal de Tavira e o Centro de Artes de Sines -, bem como outras duas no Norte – o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, de Bragança (também em conjugação com o Espaço Miguel Torga, em Sabrosa) e ainda o Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco.

«É uma nova perspetiva que a Fundação Gulbenkian está a concretizar: não nos impõe exposições “chave-na-mão”, como tem acontecido com outras instituições semelhantes, em que nós apenas abríamos as portas e acolhíamos o que eles nos queriam trazer. Neste novo projeto, há um verdadeiro trabalho em diálogo com cada uma das cinco instituições em todo o país, nomeadamente o Museu de Portimão. É uma itinerância, como a Gulbenkian fazia há décadas com as suas bibliotecas, mas em que nós também trazemos livros», acrescentou o curador da exposição algarvia.

A mostra, integrada nas Comemorações do Dia da Cidade, poderá depois ser visitada até dia 3 de Março, à terça-feira, das 14h30 às 18h00, e de quarta-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. Aos sábados, o Museu de Portimão tem entrada gratuita entre as 10h00 e as 14h00.

Inaugurado em 2008, o Museu de Portimão recebeu, nesse ano, uma menção honrosa na categoria “Melhor Museu Português”, pela Associação Portuguesa de Museologia, e, no ano seguinte, pelo Turismo de Portugal, na categoria “Novo Evento Público”.

Em 2010, foi distinguido internacionalmente com o prémio “Museu Conselho da Europa” e, em 2011, com o prémio “DASA – Mundo do Trabalho 2011”.

Ainda nesse ano, foi premiado pelo filme “À conversa com Manuel Teixeira Gomes”, no Festival Tour Film Brazil 2011, realizado em Florianópolis, com a “Arara de Prata – Jovens Talentos”. Em 2015, voltou a ser distinguido pela Associação Portuguesa de Museologia com o prémio “Inovação e Criatividade”, pelo projeto “A nossa cultura sai à rua”.

sulinformacao

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