O terceiro concerto da 8ª edição do Festival Terras Sem Sombra está marcado para o próximo dia 5 de Maio, às 21h30, em Grândola, vila de grandes tradições musicais, pela voz do Ensemble Odhecaton.
Na igreja matriz de Nossa Senhora da Assunção, Paolo da Col irá convidar os ouvintes a viajar do “Instante ao Infinito”, percorrendo as partituras dos compositores Arvo Pärt, Wolfang Rihm, Salvatore Sciarrino e Gesualdo da Venosa, onde as dissonâncias, os cromatismos e as melodias tortuosas ilustrarão os tormentos da Paixão de Cristo.
Paolo Pinamonti, o responsável artístico do Terras sem Sombra, é conhecido pela inteligência com que põe em diálogo, de modo sensível, grandes compositores do passado e do presente.
Propõe assim, com este concerto, uma longa viagem entre um mestre genial da polifonia renascentista e algumas das mais belas páginas da criação contemporânea.
Tenebræ, trevas em latim, é o nome da cerimónia litúrgica celebrada nas últimas três noites da Semana Santa. Nesta celebração, a igreja encontrava-se apenas iluminada por velas, que iam sendo apagadas após cada leitura, até ao mergulho total nas trevas, símbolo da ignorância e momento de introspeção.
Serão as notas do Príncipe de Venosa, Gesualdo da Venosa, compositor do séc. XVI, que irão dar vida a esta encenação, numa obra escrita em 1611, composta por nove responsórios.
Passados quatro séculos, este tema permanece, nas Sieben Passions-Texte, peças compostas entre 2001 e 2006 por Wolfgang Rihm [1952-], um dos mais importantes compositores alemães da atualidade. Tenebræ factæ sunt e Tristis est anima mea descrevem, de modo sensorial, os últimos momentos de Cristo na cruz.
O agrupamento de vozes italiano, interpretará ainda o Responsorio delle tenebre, escrita em 2001 pelo compositor Salvatore Sciarrino [1947-], peça onde “a perfeição imaculada (cantochão) é afetada pela imperfeição humana (música abstrata)”, como descreve o maestro Filipe Carvalheiro.
Da Estónia até ao Alentejo viaja ainda a música do compositor Arvo Pärt (1935-), com a apresentação do De Profundis (1980) e a Summa (1977), que na verdade é um Credo ao qual o compositor mudou o nome para evitar problemas com o regime soviético.
Preservar um tesouro português: o sobreiro
As vozes unem-se, em Grândola, para a salvaguarda de um bem colectivo do maior significado ambiental, económico e social, o sobreiro.
No âmbito do programa de preservação ambiental desenvolvido pelo FTSS, a manhã do dia 6 será dedicada a uma ação de sensibilização para a defesa desta árvore e do seu ecossistema.
A iniciativa começa às 10h30, na Herdade das Barradas da Serra, e é realizada em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, o município grandolense, o WWF-World Wide Fund For Nature e duas ONG que promoveram a pioneira classificação do sobreiro como símbolo nacional – as associações Árvores de Portugal e Transumância e Natureza.
Com o envolvimento da ministra da Agricultura Assunção Cristas e dos alunos da Eco-Escola das Ameiras de Grândola, artistas e comunidade local, a colocação nos sobreiros de ninhos construídos com canudos de cortiça virgem, a verificação das caixas-ninho colocadas no ano passado pelos artistas do Terras Sem Sombra, a realização de uma tiragem de cortiça e outras atividades exploratórias da biodiversidade do montado (flora e fauna) são algumas das ações agendadas.
Como expressa José António Falcão, diretor-geral do Festival, tomando as palavras do deputado Miguel Freitas: “A partir de agora, sempre que se abaterem sobreiros, não se abate apenas uma espécie protegida, abate-se um símbolo da nação”.