João Marco é professor de cinema. A dada altura, achando que “já tinha feito algumas coisas” na área, quis fazer uma coisa diferente: “contar uma história com princípio, meio e fim”. Vai daí, resolve fazer um filme – mais precisamente uma longa metragem. Onde? No Algarve – mais precisamente, em Faro. Insólito? Bem… está feito. Sem dinheiros envolvidos – mas com orçamento, por entre investimento pessoal e vários apoios logísticos – o filme “Além de Ti”, coproduzido pelo Te-Atrito ante-estreia este sábado, no auditório da Biblioteca Municipal de Faro.
Começar é que é difícil – foi o que temeu João Marco. Por isso, começou “pela equipa artística”. Embora à partida não conhecesse nenhum dos atores pessoalmente, conseguiu reunir uma equipa de dez atores – incluindo Joana Costa, Sofia Reis e Mário Spencer, ator profissional com vasta experiência em teatro, nomeadamente na ACTA, A Companhia de Teatro do Algarve.
E o mais difícil tornou-se, assim, fácil – mesmo tendo em conta que ninguém ia ser remunerado: a motivação e o desafio de fazer cinema falaram mais alto. João Marco conta, por exemplo, que “depois de teatro e televisão, Mário Spencer sempre quis fazer cinema”.
Da mobilização de uma enorme equipa saiu “Além de Ti”, que o realizador descreve como “um filme sobre as diferenças nas visões do mundo”. “Não é um filme para participar em festivais, os filmes que ganham festivais têm todos uma plástica muito semelhante”, explica João Marco ao Sul Informação.
“Eu utilizo alguns mecanismos, o do trânsito, da metrópole [ndr: embora o filme seja quase todo rodado em Faro], até para trazer um imaginário do cinema norte-americano, que é aquele a que as pessoas estão habituadas a ver, ou seja, este é, à partida, [mas só à partida] um filme que pode ser colado ao cinema comercial – não para fazer dinheiro, mas sim para ter público. Depois, e pelo caminho que o filme seguiu em termos de argumento, cai sob um ponto de vista autoral, que é também aquele em que acredito”, explica o realizador que rodou com a sua equipa o filme em 25 dias no Verão passado.
Depois da ante-estreia, João Marco revela que o filme já está inscrito (e pré-inscrito) para vários festivais, incluindo o muito reconhecido Indielisboa (festival de cinema independente) e espera fazer uma digressão e várias exibições – se possível através dos Cineclubes – em todo o País.
“O objetivo é que o filme [ndr: de 92 minutos] seja visto. Antes, estava um pouco apreensivo com o resultado e com o que as pessoas iam achar. Agora, não. Estou satisfeito e quero é que as pessoas vejam, quantas mais melhor. Depois, se gostam ou não, já me interessa menos. A verdade é que está feito. E o objetivo é melhorar”, diz o realizador.
Agora que o bebé está cá fora, e porque acha que “no Algarve não há vontade de criar” e “que é preciso fazer, para que não se pense que é fácil fazer as coisas e criticar sem nunca ter feito nada”, João Marco já tem um plano: fazer mais. E mais. E já está portanto a trabalhar no próximo projeto. Novidades para breve (numa sala de cinema perto de si).
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