O Grupo dos Amigos do Museu de Portimão visitou este sábado, naquele que foi o seu primeiro Passeio Cultural do ano, o Museu da Pólvora Negra (em Barcarena, Oeiras) e a exposição «Amadeo Souza-Cardoso | Porto Lisboa / 2016-1916», no Museu Nacional de Arte Contemporânea ou Museu do Chiado.
No Museu da Pólvora Negra, que resulta da musealização da antiga fábrica de pólvora que aproveitava a força motriz das águas da Ribeira de Barcarena para o fabrico desse perigoso material, o GAMP foi recebido por Fernando Valério, dirigente do Grupo de Amigos do Museu da Pólvora Negra, bem como Maria Alexandra Fernandes, diretora do Núcleo de Património Histórico e Museológico da Câmara de Oeiras, que foi a guia da visita.
Integrado no complexo da Fábrica da Pólvora de Barcarena, o Museu ilustra a história daquela instituição, ao mesmo tempo que documenta os processos de fabrico da pólvora negra, a par da evolução das fontes de energia, então utilizadas.
Na primeira sala, faz-se uma introdução temática sobre o que é a pólvora, a sua origem, difusão e utilização. O segundo compartimento trata do uso da pólvora em Portugal até ao século XVIII, com especial destaque para a situação em Barcarena e ainda da importância das Ferrarias d’ El Rei, que ali se instalaram desde o reinado de D. João II.
A terceira sala é dedicada à Real Fábrica da Pólvora de Barcarena, inaugurada por António Cremer em 1729. Nela está uma das principais peças desde museu: a recuperação de um engenho de galgas para o encasque da pólvora.
A quarta sala é dedicada à atividade da Fábrica nos séculos XIX e XX. Passando pela evolução tecnológica a par do recurso a novas fontes de energia, abrangendo aspetos sociais e económicos mais recentes.
À tarde, depois do almoço no restaurante Maria Pimenta, situado no Museu da Pólvora Negra, foi tempo de rumar a Lisboa, ao Museu do Chiado, para mais uma visita guiada, desta vez à muito interessante exposição de Amadeo Souza-Cardoso, que recria a mostra que o próprio artista, há 100 anos, promoveu e comissariou no Porto e em Lisboa, causando, então, espanto e até escândalo, pelo arrojo das obras apresentadas.
Tendo curadoria de Marta Soares e Raquel Henriques da Silva, esta mostra, que já esteve patente no Porto, recorda os tempos em que, quando Amadeo de Souza-Cardoso regressou a Portugal no início da Primeira Guerra Mundial, era um pintor reconhecido nos meios da vanguarda, tendo participado em exposições coletivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres.
As exposições individuais que realizou em Portugal, em 1916, inserem-se nessa determinação de afirmação da carreira: a primeira decorreu no Porto, no Jardim Passos Manuel, de 1 a 12 de Novembro; a segunda, em Lisboa, na Liga Naval Portuguesa, de 4 a 18 de Dezembro. O Museu Nacional de Soares dos Reis evocou a exposição no Porto e agora o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado evoca a exposição em Lisboa.
Estas exposições provocaram escândalo e debate. Em Lisboa, a exposição proporcionou o encontro entre Amadeo e Almada Negreiros, entusiástico defensor de Amadeo. Foi neste contexto que Almada apresentou a exposição na Liga Naval como “mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a Índia”.
«O que se viu há cem anos e o que vemos hoje nas obras expostas? Como eram os espaços onde Amadeo expôs? Qual o papel de Amadeo enquanto “comissário” de si próprio? O que poderá ter motivado as reações mais violentas? O que se escreveu na imprensa? Que discussões houve em torno da pintura de vanguarda?» Estas são algumas das questões fundamentais desta exposição.
Foi mais uma visita cultural dos Amigos do Museu de Portimão, partilhada, como sempre, por gente de todas as idades e várias nacionalidades.
Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação