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Guia GeológicoQuem entra numa igreja para a visitar, olha para as pedras dos arcos, pórticos e colunas, mas apenas para apreciar o estilo e a mestria de quem as esculpiu. Mas agora há um guia que quer pôr os visitantes a olhar de outra forma para as pedras, que até contam histórias bem mais antigas que o próprio monumento.

Se já teve a sorte de apanhar aberta e visitar a Igreja de São Sebastião, em Lagos, certamente nunca reparou nos fósseis com 150 milhões de anos que existem na rocha em que é feita a pia batismal. E quem fotografa o D. Sebastião, na baixa da cidade, talvez nunca tenha olhado bem para as quatro diferentes rochas que foram usadas pelo escultor João Cutileiro para fazer a estátua do rei menino.

Amanhã, no âmbito dos festejos do feriado municipal de Lagos e do sétimo aniversário do Centro Ciência Viva da cidade, este CCV vai lançar o «Guia de Geologia e Paleontologia Urbana de Lagos», da autoria de Luís Azevedo Rodrigues e Margarida Agostinho, que pretende, precisamente, dar a conhecer as rochas e os fósseis que fazem parte de igrejas, monumentos e outros edifícios e equipamentos urbanos.

Luís Azevedo Rodrigues: «o que queríamos é que as pessoas fossem visitar uma igreja ou as muralhas e olhassem também para os materiais geológicos que constroem esses monumentos»

Este é o primeiro de uma série de três guias a ser editados em 2016, sobre as três cidades algarvias com Centros Ciência Viva – Faro, Lagos e Tavira. Os de Faro e Tavira, segundo revelou Luís Azevedo Rodrigues ao Sul Informação, deverão ser lançados durante o próximo mês de Fevereiro.

O diretor do CCV de Lagos, ele próprio doutorado em Paleontologia, conta que a ideia de fazer estes guias surgiu quando era coordenador dos três Centros Ciência Viva existentes no Algarve, numa «tentativa de coordenar a sua intervenção e de os unir num projeto comum». A ideia, explica em entrevista ao nosso jornal, «foi criar um roteiro usado pelos CCV para divulgar a cidade, mas sob o ponto de vista geológico e paleontológico».

«O que queríamos é que as pessoas fossem, por exemplo, visitar uma igreja ou as muralhas e olhassem também para os materiais geológicos que constroem esses monumentos. Essas rochas têm uma história, uma cronologia, por vezes têm fósseis, outras vezes vieram de muito longe para serem usadas neste ou naquele edifício, fizeram um longo caminho para cá chegar».

Lagos_D Sebastião

 

E não se pense que é só nos monumentos que há milhões de anos da história da Terra à espera de serem descobertos. «Em Lagos, há rochas do Rajastão, um estado da Índia, em edifícios atuais. Em Tavira, uma vez entrei num café e vi o tampo, feito com um granito muito antigo, com vários milhares de milhões de anos, e que, para mais, é uma rocha que vem de muito longe, da Finlândia».

Nas cidades, salienta Luís Azevedo Rodrigues, há «várias as histórias e intérpretes do passado geológico da Terra». Por isso, explica, «este Guia permitirá que os visitantes de Lagos, nacionais e estrangeiros, façam uma visita mais completa à cidade, conhecendo alguns dos materiais que a construíram ao longo dos séculos até à atualidade».

Mas o Guia não se fica apenas pelos aspetos geológicos. «Em todos os três Guias, contámos com a colaboração da historiadora de arte Rita Manteigas, responsável pelos apontamentos complementares sobre cada paragem sugerida».

Luís Azevedo Rodrigues: «este Guia permitirá que os visitantes de Lagos, nacionais e estrangeiros, façam uma visita mais completa à cidade»

É que, sublinha Luís Azevedo Rodrigues, «há aqui duas cronologias muito diferentes, que é preciso colocar a par: a da geociência, das rochas e dos fósseis e a cronologia dos equipamentos urbanos. Ou seja, a cronologia da História da Terra e a da História Humana». Ou seja, «uma igreja pode ser muito antiga, por exemplo do século XIII, mas isso não significa que tenha sido construída com as rochas mais antigas, enquanto um café moderno pode ter rochas com muitos mais milhões de anos».

As paragens sugeridas são nove e o Sul Informação levanta aqui mais uma ponta do véu: até o próprio edifício do Centro Ciência Viva de Lagos faz parte do roteiro geológico da cidade.

Pormenor muito importante: estes livrinhos são efetivamente guias, muito visuais, com linguagem simples, grafismo muito atrativo, cheios de imagens, explicando tudo com simplicidade rigorosa. «São guias para um público normal, não especializado, para uma pessoa que quer fazer um passeio diferente pela cidade e olhar para as coisas de uma forma como nunca as viu».

Além disso, garante o diretor do CCV Lagos, estes guias «são para usar na visita aos monumentos, mas as pessoas também podem estar em casa, a lê-los». E quem sabe a preparar uma visita de campo (na cidade), levando o livrinho na mão.

Guia Geológico Lagos_esquema cronológico

A produção destes guias envolveu «uma equipa muito grande e muito empenhada». Desde logo, os dois autores e a historiadora de arte. Mas também o fotógrafo, os designers, os tradutores».

O «Guia de Geologia e Paleontologia Urbana de Lagos», bem como os de Tavira e de Faro, são livros bilingues, em português e inglês, com 124 páginas, sendo editados 1000 exemplares de cada.

Deverão custar entre 10 e 12 euros e estarão à venda nos Centros de Ciência Viva, bem como, eventualmente, em alguns postos de turismo e noutras estruturas.

Luís Azevedo Rodrigues revela que vão também ser cedidos exemplares às escolas. Entretanto, as equipas dos CCV algarvios já receberam formação para poderem orientar visitas educativas pelo património geológico e paleontológico.

Luís Azevedo Rodrigues : «Não é fácil os professores levarem os alunos para o campo. Mas agora podem simplesmente dar uma volta pela cidade e pô-los a olhar para as rochas»

Mas o diretor do CCV salienta que «os professores também poderão fazer essas visitas pelas suas cidades, pegando no Guia. Por vezes, não é fácil levar os alunos para o campo. Mas agora também podem simplesmente dar uma volta pela cidade e pô-los a olhar para as rochas».

É que, acrescenta, «estes livros permitem igualmente diversos níveis de exploração no ensino formal: da turma do 1º Ciclo que, por exemplo, em Estudo do Meio une saberes – científico, tecnológico e social – contribuindo para o desenvolvimento de algumas competências para a compreensão do mundo, ao Ensino Secundário, onde para além da Geologia, outras áreas do saber poderão ser unidas nestas saídas».

Mas o público primordial dos Guias de Geologia e Paleontologia são mesmo os turistas, nacionais e estrangeiros, que agora poderão olhar para o património histórico e arquitetónico sob um prisma completamente inovador. «Estes livros são também um contributo destas áreas científicas para a oferta turística do Algarve, pois promovem a diversificação e aumentam o seu valor acrescentado numa região onde o Turismo é vital», conclui o diretor do CCV Lagos.

 

sulinformacao

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