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Carlos NortonA nova associação cultural Fungo Azul, com sede em Lagos, está a desenvolver um inovador projeto de recolha de sons em toda a região algarvia, denominado Arquivo Sonoro Paisagístico do Algarve (ASPA).

“A Fungo Azul nasceu com vontade de trabalhar sobre o património cultural, quer seja material ou imaterial. Sobre a necessidade de o proteger, de o valorizar e de o promover”, afirma Nuno Murta, presidente da jovem associação. Um dos primeiros avanços é precisamente o ASPA.

Carlos Norton, mentor deste projeto, teve a ideia inicial há dez anos, quando começou a trabalhar na área do som e da rádio. “Na altura, o projeto era porventura demasiado inovador, ainda não se falava de património imaterial como acontece hoje. Durante este período, estudámos técnicas, materiais e tecnologias e investimos em equipamento. Em 2013, conseguimos os primeiros apoios para o projeto e em 2015 apresentámos a ideia à Direção Regional de Cultura do Algarve. Agora, passada a fase de preparação, conseguimos reunir as condições para avançar com o ASPA”.

Carlos Norton sublinha que “gravar uma região inteira é um trabalho pioneiro em Portugal e com poucos exemplos a nível mundial, mas é um trabalho que tem tanto de fascínio como de megalomania”. Norton é um músico e sonoplasta em residência artística no LAC, onde desenvolve trabalhos dedicados ao som, de onde se destaca o ASPA.

Ao todo, serão mais de 300 lugares onde o som ambiente vai ser registado, em locais variados que vão desde os ambientes rurais aos urbanos.

O levantamento servirá de registo de um som que é diverso e que está em mutação. “O som do mercado de Olhão não é hoje igual ao que era em 1960. Mas nem o som das salinas de Castro Marim se manteve inalterado. As condições físicas, ambientais e humanas estão em permanente evolução” acrescenta Carlos Norton, que promete que “esta será apenas a primeira fase, para registar e testemunhar a diversidade sonora ambiental do Algarve. Recolhas posteriores servirão para observar a evolução do som e esse é um dos objetivos a longo prazo da Fungo Azul”.

Fungo AzulMas a recolha não será apenas de carácter cultural, já que há também uma vertente lúdica, como salienta o mentor do ASPA: “alguém que esteja longe da terra natal, alguém de Faro que tenha passado a juventude sentado no cais a ler um livro, poderá repetir o momento, mesmo estando a milhares de quilómetros de distância, selecionando o ficheiro de som desse local e usando-o como banda sonora enquanto lê o livro em Melbourne, Singapura ou Maputo. É uma forma extraordinariamente bonita de matar saudades e de se fazer sentir em casa”.

Para que isto e muito mais possa acontecer, todos os ficheiros recolhidos serão livremente disponibilizados num mapa interativo, onde será possível aceder ao ficheiro de som, bem como ter a informação do momento de recolha.

“Não queremos produzir conteúdos destinados meramente ao estudo, para arquivar. O arquivo pode e deve ser vivo, as pessoas podem ouvir, roubar, utilizar o som como o entenderem. E até podem colaborar, dando sugestões de locais que gostariam que fossem alvo de recolha, para que este ASPA seja de todo o Algarve”, convida Nuno Murta.

Recentemente, a Fungo Azul assinou um protocolo de cooperação com a RUA FM, já que “a vontade de colaborar, juntar esforços, e valorizar mutuamente valências específicas de cada entidade é um caminho essencial para o bem comum – a nossa região”, confirma Nuno Murta.

O presidente da nova associação, também ele músico, acrescenta que esta é apenas uma de muitas das ideias a que a Fungo Azul já deu início ou que vai desenvolver a curto prazo, sempre de mãos dadas com outras associações e entidades algarvias.

O projeto ASPA é exemplo disso e, neste arranque, junta para já mais de uma dezena de associações, instituições e entidades oficiais, em parcerias que beneficiam mutuamente quem participa, mas acima de tudo o próprio projeto e como tal, o património imaterial da região.

O Projeto ASPA já deu início à fase de recolha e vai ser oficialmente lançado em Abril, estando prevista para o Outono a conclusão da primeira fase. Fica a promessa de que em breve os algarvios poderão “ouvir o ambiente” que os rodeia de forma bem diferente.

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