É, provavelmente, o monumento mais marcante de Faro e aquele cuja imagem é automaticamente associada à capital algarvia.
O Arco da Vila, a entrada para a Cidade Velha junto ao Jardim Manuel Bívar, só é conhecido por fora, pela larga maioria das pessoas. Uma situação que irá mudar muito em breve, já que se está a ultimar a intervenção que permitirá a residentes e visitantes conhecer por dentro, mas também “por cima”, esta obra de arte arquitetónica.
A Câmara de Faro e a Região de Turismo do Algarve juntaram-se para renovar o Posto de Turismo de Faro, aproveitando para, ao mesmo tempo, tornar visitável o edifício que o acolhe, o do Arco da Vila. Mais do que proporcionar a descoberta de um monumento enorme valor patrimonial, bem como a vista única que proporciona, sobre a Vila-Adentro e sobre a Ria Formosa, este novo espaço museológico vai dar a conhecer a história de Faro e, particularmente, deste Arco, uma obra que simboliza o renascimento da cidade, após o terramoto 1 de Novembro de 1755.
«Fizemos uma parceria com a RTA no sentido de o requalificar e irá abrir muito brevemente com o triplo da área e com novas valências. Por cima do Posto de Turismo, funcionavam os serviços de Cultura da Câmara, que saíram de lá para dar lugar a um centro interpretativo», segundo o presidente da Câmara de Faro Rogério Bacalhau.
Assim, quem se dirigir ao novo Posto de Turismo de Faro, que deverá reabrir na sua localização original antes do final do ano (atualmente funciona no Museu Municipal), pode visitar o segundo piso do edifício, que será transformado em centro interpretativo e sair para o exterior, para visitar a parte exterior, incluindo a torre do relógio e os mirantes.
Um espaço amplo, que o Sul Informação teve a oportunidade de visitar, guiado pelo diretor do Museu Municipal de Faro Marco Lopes. E, apesar do Arco da Vila e a sua envolvente serem bem familiares para qualquer pessoa que conheça Faro, a perspetiva que a visita proporciona, nomeadamente a oportunidade de conhecer de perto os elementos arquitetónicos que compõem esta porta da Vila-Adentro, tornam-se numa experiência de autêntica descoberta, capaz de surpreender qualquer um (veja a fotogaleria abaixo).
Proporcionar uma experiência que seja, ao mesmo tempo, educativa e agradável, é o grande objetivo do projeto museológico que o Museu de Faro idealizou para o Arco da Vila.
«A ideia deste centro interpretativo é que o Arco da Vila seja o elemento central da história que é aqui narrada. Queremos revelar quem encomendou a obra, o arquiteto que projetou o edifício e, também, o estilo artístico que está aqui em causa, com as suas especificidades. Mas não daremos ênfase, apenas, à arquitetura e à questão artística, também iremos explorar o património imaterial a ele associado», segundo Marco Lopes.
Além do monumento, «que é uma coisa magnifica e, por assim dizer, o emblema da cidade de Faro», também serão dadas a conhecer «as duas lendas a ele associadas, através de um documentário»: a de Santa Maria de Faro e a de São Tomás de Aquino, «cuja figura está por cima da porta da cidade» e que é protagonista «de uma lenda deliciosa».
O centro começa no piso térreo do edifício, dentro do Posto de Turismo propriamente dito e segue, escada acima, para o primeiro piso, onde existe uma mezzanine. Até chegar ao segundo andar, os visitantes poderão conhecer a história de Faro, de forma sucinta, «para que se perceba que nada disto acontece por acaso, já que isto era uma porta da cidade, que pertencia a um sistema defensivo».
O segundo piso será inteiramente dedicado ao Terramoto de 1755 e ao Arco da Vila. Além de peças e documentos associados a este período negro da história de Faro e de Portugal, serão focadas as figuras de D. Francisco Gomes de Avelar, que mandou construir o Arco, e de Xavier Fabri, um arquiteto que o então Bispo de Faro foi buscar a Itália e era um dos mais conceituados, a nível internacional, da época.
«Este dado não deixa de ser curioso, porque o Algarve era uma região periférica, e mais periférica ficou após o terramoto, com a destruição e a pobreza que gerou. No entanto, Gomes de Avelar foi buscar um arquiteto que estava na berra, que chegou a viver com ele no Paço Episcopal. Além de ter conhecimentos, o Bispo era um homem culto e um mecenas», enquadrou o diretor do Museu de Faro.
Todos os elementos do centro interpretativo vão ter legendas em português, inglês e espanhol. O material necessário para a instalação da exposição permanente já está, neste momento, escolhido ou a ser produzido. Além desta zona, haverá a possibilidade de visitar o Salão Nobre do antigo Governo Civil de Faro, numa ala diferente do mesmo edifício, ao abrigo de um acordo assinado entre a autarquia e o Ministério da Administração Interna.
Este será um dos principais elemento patrimoniais de uma zona da cidade repleta de história. Daí que haja um esforço, por parte da autarquia, para o recuperar, piscando o olho aos turistas.
«Temos vindo a apostar na requalificação do nosso património. Gostaríamos de fazer muito mais, mas os recursos são limitados. Ainda assim, este ano já conseguimos recuperar toda a muralha da Cidade Velha, um projeto que já devia ter sido realizado há mais de dez anos, já que estava muito degradada e algumas pedras já tinham caído. Nos próximos anos, estamos descansados quanto a isso», ilustrou, por outro lado, Rogério Bacalhau.
Durante o Verão, já tinha sido feita uma intervenção no próprio Arco da Vila, que se encontrava «muito degradado», bem como na Rua da Misericórdia, a do Posto de Turismo, que foi requalificada. Este exemplo dado pela autarquia está a contagiar os proprietários, já que «houve muito investimento privado na recuperação de edifícios na Baixa da Cidade».
Veja todas as fotos (Hugo Rodrigues/Sul informação):