A escritora algarvia Lídia Jorge foi esta quarta-feira distinguida com o Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura 2014, atribuído pelo Ministério da Cultura espanhol e pela Secretaria de Estado da Cultura portuguesa.
Lídia Jorge foi premiada por «criar uma relação e vínculo de união entre Portugal e Espanha através da sua contribuição para o conhecimento mútuo de ambos os países», mas também «pelo valor da sua obra literária, que aborda algumas das questões fundamentais do nosso tempo», sublinhou o Grupo Leya, que é proprietário da D. Quixote, editora de Lídia Jorge.
O prémio, no montante de 75 mil euros, foi atribuído por unanimidade por um júri composto por especialistas dos dois países, refere uma nota dos gabinetes dos secretários de Estado da Cultura de Portugal, Jorge Barreto Xavier, e de Espanha, José María Lassalle.
O júri era constituído pelos portugueses José Bragança de Miranda, professor da Universidade Nova de Lisboa, as escritoras Patrícia Reis e Inês Pedrosa, e a diretora da Companhia Nacional de Teatro Clássico Helena Pimenta, bem como pelos espanhóis Trinidad Basarrate, conselheiro de Educação e Cultura da Extremadura, e Alfonso Saez, professor da Universidade de Évora.
O Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura bianual foi criado em 2006 pelas tutelas da Cultura nos dois países, de modo a premiar a obra de uma personalidade «que tenha contribuído para melhorar a comunicação e cooperação cultural entre Portugal e Espanha, reforçando os laços entre os dois países«.
O prémio já distinguiu o poeta e tradutor português José Bento (2006), ao professor e escritor Perfecto Cuadrado (2008), ao arquiteto Álvaro Siza (2010) e ao realizador Carlos Saura (2012).
Lídia Jorge nasceu em Boliqueime, Algarve, em 1946. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, tendo sido professora do Ensino Secundário. Foi nessa condição que passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da Guerra Colonial.
Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e integrou o Conselho Geral da Universidade do Algarve.
A publicação do seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios (1980) constituiu um acontecimento num período em que se inaugurava uma nova fase da literatura portuguesa.
Seguiram-se os romances O Cais das Merendas (1982) e Notícia da Cidade Silvestre (1984), ambos distinguidos com o Prémio Literário Município de Lisboa.
Mas foi com A Costa dos Murmúrios (1988), livro que reflete a experiência colonial passada em África colonial, que a autora confirmou o seu destacado lugar no panorama das letras portuguesas.
Depois dos romances A Última Dona (1992) e O Jardim sem Limites (1995), seguiu-se O Vale da Paixão (1998), galardoado com o Prémio Dom Dinis da Fundação Casa de Mateus, o Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio de Ficção do PEN Clube, e em 2000, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (Escritor Europeu do Ano).
Lídia Jorge publicou ainda O Vento Assobiando nas Gruas (2002), romance que mereceu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d’Escritas.
Combateremos a Sombra, publicado em Portugal em 2007, recebeu em França o Prémio Michel Brisset 2008, atribuído pela Associação dos Psiquiatras Franceses.
Com chancela da Editora Sextante, publicou em 2009, o livro de ensaios Contrato Sentimental, reflexão crítica sobre o futuro de Portugal. Seguiu-se-lhe o romance A Noite das Mulheres Cantoras (2011) e, em Março de 2014, Os Memoráveis, o seu mais recente romance. Este romance foi apresentado nesse mesmo mês, numa sessão no palco do Teatro Municipal de Portimão.
Lídia Jorge publicou antologias de contos, Marido e Outros Contos (1997), O Belo Adormecido (2003), e Praça de Londres (2008), além das edições separadas de A Instrumentalina (1992) e O Conto do Nadador (1992).
A sua peça de teatro A Maçon foi levada à cena no Teatro Nacional Dona Maria II, em 1997, com encenação de Carlos Avilez.
Também uma adaptação teatral de O Dia dos Prodígios foi realizada e encenada por Cucha Carvalheiro, no Teatro da Trindade, em Lisboa. O romance A Costa dos Murmúrios foi adaptado (2004) ao cinema por Margarida Cardoso.
Os romances de Lídia Jorge encontram-se traduzidos em diversas línguas. A agência literária que a representa tem sede em Frankfurt.
Obras suas, além de edições no Brasil, estão traduzidas em mais de vinte línguas, designadamente nas línguas inglesa, francesa, alemã, holandesa, espanhola, sueca, hebraica, italiana e grega, e constituem objeto de estudo nos meios universitários portugueses e estrangeiros, tendo-lhes sido dedicadas várias obras de carácter ensaístico.
O Presidente da República Francesa Jacques Chirac, a 13 de abril de 2005, condecorou-a com a Ordem das Artes e Letras de França, no grau “Chevalier”, a que se acrescentou posteriormente o grau de “Officier”.
Em 2006, a autora foi distinguida na Alemanha, com a primeira edição do Prémio de Literatura Albatros da Fundação Günter Grass, atribuído pelo conjunto da sua obra.
Em Portugal, o Presidente da República Jorge Sampaio, a 9 de março de 2009, condecorou-a com a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
A Universidade do Algarve, a 15 de dezembro de 2010, atribuiu-lhe o doutoramento Honoris Causa, em sessão solene no Grande Auditório do Campus de Gambelas.
A União Latina, a 5 de maio de 2011, atribuiu-lhe o Prémio da Latinidade, João Neves da Fontoura. A Associacióin de Escritores en Lingua Gallega atribuiu-lhe em Maio de 2013 o título de Escritora Galega Universal.
A assinalar o 30º aniversário da publicação de O Dia dos Prodígios, a Câmara Municipal de Loulé promoveu a exposição bio-bibliográfica Trinta Anos de Escrita Publicada, entre novembro de 2010 e março de 2011, no Convento de Santo António.
Em Portugal, à exceção do livro de ensaios Contrato Sentimental, todos os seus livros têm a chancela das Publicações Dom Quixote.