É um círculo vicioso. As Moçoilas foram buscar à Serra as músicas tradicionais algarvias e voltam lá sempre que podem para as “devolver”. Mas a Serra insiste em dar-lhes mais material. Quando não se pode (e não se quer) vencer, o melhor é continuar a regressar à fonte de inspiração, como acontecerá hoje, sábado, dia 27 de Maio, e amanhã, domingo, em que a formação musical vai atuar em Alte (Loulé), Santo Estêvão (Tavira) e São Brás de Alportel.
O percurso deste grupo musical de vozes exclusivamente femininas começou há cerca de 23 anos, mas nem por isso a paixão pela tradição, no seu estado mais puro, esmoreceu. Para isso, também ajudou a entrada de sangue novo, nomeadamente de Teresa da Silva e Inês Rosa, que se juntaram a Margarida Guerreiro, que faz parte das Moçoilas desde o início, para dar novo impulso ao projeto.
As três artistas estiveram à conversa com o Sul Informação e com a Rádio Universitária do Algarve Rua FM (102.7 FM), como convidadas do programa Impressões, e falaram sobre este projeto, contaram o que têm andado a fazer e aquilo que querem realizar, no futuro.
Para já, o foco de Margarida Guerreiro, Inês Rosa e Teresa da Silva está nos três concertos deste fim-de-semana, que será especialmente atarefado. As Moçoilas começam por tocar este sábado no Festival Fusos, em Alte, onde vão partilhar o palco com o DJ Miguel Neto (Discossauro), uma nova experiência para o grupo.
«Vamos estar em Alte no Fusos, um festival de fusões artísticas, onde vamos atuar no sábado às 18h00. A nossa fusão é com o Miguel Neto, que faz algo muito diferente do que nós fazemos. Por isso, acho que vai ser uma fusão interessante», considerou Inês Rosa.
As Moçoilas voltam à estrada no dia seguinte, 28 de Maio, para atuar às 16h00 no evento Barro Cal, que está a decorrer em Santo Estêvão, no concelho de Tavira. Daqui, seguem para o concelho vizinho de São Brás de Alportel, onde subirão ao palco às 21h30, no âmbito da recriação histórica São Braz d’Alportel 1914.
As Moçoilas nasceram em 1994 da vontade de redescobrir a alma algarvia e «de a poder levar a outros lugares». «Foi, ao mesmo tempo, uma descoberta dessa alma algarvia, porque até aí, ela andava escondida. Não é que não surgisse, mas, de alguma forma, creio que ela emergiu muito das descobertas que fizemos e desta manifestação para o exterior», acredita Margarida Guerreiro.
«O grupo nasce no âmbito de um projeto de desenvolvimento local da associação In Loco, numa altura em que as pessoas tinham algum receio de se dizer serranas. Mas as pessoas começaram a querer dizer que eram da Serra. E isso foi fantástico, porque deu azo a uma série de coisas de orgulho, identidade e alma do Algarve interior», acrescentou.
E de onde veio tanto material? «Da Serra, das pessoas. Elas ainda hoje sabem muitas canções e cantigas. Havia uma série de recolhas – nós começámos com músicas do Hélder Raimundo e do Daniel Vieira, que andaram a recolher coisas – mas ainda hoje trazemos de lá músicas. Há pouco tempo estivemos a atuar no interior e vieram logo contar dois ou três segredos, daqueles fantásticos, das avós delas. Portanto, continuamos a explorar», resumiu Margarida Guerreiro.
E há uma vontade grande, da parte dos serranos, em partilhar as suas memórias. «Lembro-me particularmente da nossa ida a Pão Duro (Alcoutim), onde fomos muito bem recebidas», disse Teresa da Silva. «Foi uma experiência fabulosa. Estava a chover, quando chegámos, e as pessoas estavam à nossa espera com um cozinheiro, estivemos a cantar em conjunto enquanto a refeição se fazia. Cantaram connosco, cantaram para nós, dançaram, falámos a noite toda e prepararam as suas casas para nos acolher. Todas as senhoras fizeram um docinho», reforçou Inês Rosa.
Com uma Serra que recebe tão bem, não admira que as Moçoilas façam questão de lá regressar.
Ouça aqui a entrevista a Inês Rosa, Margarida Guerreiro e Teresa da Silva na íntegra: