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A "delegação espanhola" na Corrida Fotográfica de Portimão
A “delegação espanhola” na Corrida Fotográfica de Portimão

Alfonso Feu Muro, um médico de Sevilha, participou na Corrida Fotográfica de Portimão pela primeira vez em 2014 e não ganhou nada. Pelos vistos gostou da experiência, porque este ano voltou e até trouxe cinco amigos com ele. Todos participaram na maratona em busca da melhores imagens do concelho, que decorreu no sábado, 23 de Maio, dia em que o Museu de Portimão, que organiza, completou sete anos.

Alfonso Feu, como o seu nome indica, faz parte do ramo espanhol da família Feu, fundadora da fábrica de conservas que hoje é a casa do Museu de Portimão. Numa das paredes exteriores do Museu, que aproveita os antigos edifícios da conserveira, ainda lá está o logotipo da Fábrica Feu, coisa que deixa o médico espanhol orgulhoso.

E foi precisamente por causa da família que Alfonso, no ano passado, conheceu o Museu. «Vim aqui a Portimão, no ano passado, a uma grande reunião da família Feu», contou ao Sul Informação.

Ele e quatro dos seus amigos espanhóis, vindos de Sevilha, Huelva e Ayamonte – um sexto elemento acompanhou no grupo, mas não participou na Corrida Fotográfica – dedicaram o sábado passado a descobrir os recantos da cidade de Portimão, ao sabor das pistas que, nos vários postos de controlo do certame, iam sendo dados aos 102 concorrentes.

«Me encanta, me encanta!», dizia uma das senhoras espanholas, abarcando com um gesto a zona ribeirinha de Alvor.

Apesar do entusiasmo com que empunhavam as suas máquinas fotográficas, mais ou menos sofisticadas, a “delegação espanhola”, como um dos bem dispostos membros do grupo se auto intitulou, teve algumas dificuldades em perceber o que se pretendia com os temas. «É comprar freguês! É tudo fresquinho!», dizia um dos temas. «O que é “freguês”»?, perguntava um deles.

Mas entre a tradução em inglês e uma explicação em portinhol, as coisas acabaram por funcionar.

Corrida Fotográfica_2015_5Ao longo do dia, a partir das 9h00 e tendo paragens em diversos pontos obrigatórios, para receber outra lista de temas surpresa, 102 fotógrafos registaram em imagens, com máquinas mais sofisticadas, equipadas com lentes, tripés e filtros, ou com aparelhos de bolso ou mesmo telemóveis smartphones, a sua visão de diversos pontos do concelho de Portimão.

A grande maioria dos concorrentes, além da “delegação espanhola”, eram algarvios – ou estrangeiros cá residentes -, mas houve também quem viesse de propósito de Coimbra ou do Barreiro.

Porque é que concorrem?, quis o Sul Informação saber. «Não é pelos prémios, que já não são tão bons como eram antes e nem sequer são em dinheiro», respondeu uma das concorrentes, de Faro. «É mais pelo gozo de andar aqui pelo concelho, a descobrir coisas de que nunca tínhamos ouvido falar ou a olhar para outras coisas com olhos de ver, com olhos de fotografar», acrescentou.

Que coisas? «Por exemplo, os restos das muralhas de Portimão», respondeu um concorrente residente na cidade. «Nem sabia que Portimão tinha tido um castelo, quanto mais que ainda restavam muralhas».

Entretanto, a vertente subaquática da Corrida Fotográfica só vai decorrer em Junho próximo, esperando melhores condições de mar para fazer imagens debaixo de água.

Em Dezembro, por altura do feriado municipal, depois do júri ter feito o seu difícil trabalho de escolha, serão então apresentados os prémios e inaugurada a exposição com as imagens vencedoras, no Museu de Portimão.

 

O barbeiro que era fotógrafo

O barbeiro fotógrafo António Marreiros junto a uma das suas fotos na exposição
O barbeiro fotógrafo António Marreiros junto a uma das suas fotos na exposição

Mas porque este 7º aniversário do Museu de Portimão parece ter tido como mote a fotografia, foi também ocasião para inaugurar a exposição “Barbearia, Poesia, Fotografia”, com o espólio de barbeiro e de fotógrafo de António Marreiros, que esteve presente na abertura da mostra, com o seu filho, também António Marreiros de seu nome.

«Já deixei de trabalhar há uns dois anos, mas ainda tenho dois clientes – o meu filho e o barbeiro que me corta o cabelo a mim», contou o homem que, durante décadas, na sua terra da Mexilhoeira Grande, juntou a arte de fazer barba e cortar cabelo à de registar em película a vida da terra. «Só casamentos fiz mais de 400», garante António Marreiros. «Tinha lá em casa caixas e caixas com os negativos. Dei tudo ao Museu, mas muita coisa perdeu-se, ao longo dos anos, foi-se estragando».

Esta mostra revela o percurso de vida, pessoal e profissional de um portimonense, nascido na freguesia da Mexilhoeira Grande, que, durante a procura de um ofício, se encontrou com a poesia e descobriu o gosto pela fotografia.

A exposição mostra algumas imagens do imenso espólio fotográfico, sobretudo sobre a freguesia da Mexilhoeira Grande e todas as zonas rurais do concelho de Portimão (fotografias que precisaram «de muito trabalho de restauro», salientou José Gameiro, diretor científico do Museu), bem como o seu estúdio e a própria barbearia de António Marreiros, que funcionou durante largos anos na Mexilhoeira Grande e que agora integra, por doação dele próprio, o espólio do Museu.

«Aquele ampliador que ali está, foi o meu pai que construiu, a partir de uma lente Carl Zeiss que lhe deram. Ele viu como era, fez um desenho e foi ao latoeiro para construir o ampliador. E funcionava muito bem, porque era o que ele usou durante todos estes anos», contou o filho, também António Marreiros, ao Sul Informação.

Timo Dillner, na inauguração da sua exposição «Mundos Novos»
Timo Dillner, na inauguração da sua exposição «Mundos Novos»

Depois desta inauguração, seguiu-se outra, a da exposição «Mundos Novos», de Timo Dillner. O artista alemão, a viver há mais de 17 anos no Algarve, dá a conhecer, através da instalação, pintura e escultura, a sua perspetiva sobre viagens a lugares inesperados, novas gentes e outros mitos.

A intensa jornada comemorativa já tinha começado ao fim do dia de sexta-feira, com a primeira iniciativa do ciclo de “Conversas com Portimão ao Fundo”, organizada pelo Museu de Portimão em colaboração com o Grupo de Amigos do Museu de Portimão. O tema foi “A minha Praia da Rocha”, contando com a presença de António Feu, que partilhou as suas estórias sobre a Praia da Rocha, entre 1945 e 1975.

No sábado, depois de cantar os parabéns ao Museu e de cortar o bolo, feito, como sempre, pela Vera Santos, funcionária do Museu que consegue transformar a massa de amêndoa numa obra de arte, foi a vez de terminar a jornada com uma degustação de conservas, de várias espécies, promovida pela Docapesca, e preparada pelo chefe José Moura, da Escola de Hotelaria de Portimão, e seus alunos. Uma delícia!

Fotos: Elisabete Rodrigues/Sul Informação

sulinformacao

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