Please ensure Javascript is enabled for purposes of website accessibility
Foto de Jandira Constantino

Mauro Amaral sempre viu «a música como coletivo», mas a experiência que foi ganhando ao tocar covers em bares ajudou-o a dar o passo de lançar o seu primeiro trabalho a solo. O EP «Somos», que integra cinco temas compostos e interpretados pelo cantor, ator e cineasta algarvio, foi apresentado no dia 15 de Dezembro, numa sessão que decorreu no Club Farense.

«Foi algo que nunca imaginei, sempre vi a música como coletivo, mas nos últimos tempos viraram-me toda a perspetiva que eu tinha», revelou Mauro Amaral, numa entrevista ao Musicália do Sul Informação. Ter-se aventurado a tocar covers em bares foi algo a que nunca se tinha atrevido «mas acabou por me ensinar mais do que tudo o que tentei fazer com originais» revelou.

Para o artista farense, este é um regresso ao início. «Quero recomeçar e assumir o desafio de encher todo o espaço com a minha música pessoal, sem o apoio dos outros, para depois crescer e trabalhar com os outros, claro», explicou.
O músico assume que este é um processo de passagem essencial para o que tem programado para o futuro.

«Finalmente me “livro” de algumas músicas muito antigas e posso realmente recomeçar e ir gravando mais músicas até em Maio ter um álbum inteiro cá fora». O calendário está marcado, resta-lhe percorrer o caminho para voltar a tocar em grupo. Para já, assume-se só, com a sua guitarra, não apenas nas gravações, mas também ao vivo – apenas numa das músicas teve um convidado e para fazer “vozes”.

Já quando toca ao vivo, em vez de se refugiar na tecnologia, Mauro Amaral deseja que as diversas camadas vocais das músicas sejam partilhadas pelo público, numa «energia que se pretende que se cole às das pessoas». E foi isso que aconteceu no lançamento. Por diversas vezes o público assumiu-se como músico, quer nas percussões quer nos backing vocals.

«As pessoas foram a orquestra e essa será a minha tendência, eu gosto que as pessoas me surpreendam nos concertos. Mais do que ser eu a surpreendê-las, espero que elas me surpreendam e isso aconteceu», disse.

Foto de Jandira Constantino

O ambiente do concerto de apresentação era caseiro, numa sala cheia de amigos e admiradores, mas pretende-se que a interação seja uma constante, mesmo fora dos locais habituais. Para o justificar o artista recorda uma frase do músico Zé Eduardo, destacando a semelhança, nas línguas francesa e inglesa do duplo significado de Jouer e Play: tocar e brincar (à) música.

«As pessoas vão para ouvir e serem seduzidas, toda a gente quer brincar e a energia é essa, brincarmos à música. Se conseguirmos quebrar a quarta parede, elas entram e querem sair de lá mais participantes», assegurou Mauro Amaral.

Das cinco músicas de «Somos», há duas novidades e três que foram escritas há muitos anos. “Rivolução” começou por ser um tema hardcore, reminiscência da sua primeira banda, recebeu uma nova roupagem nos Original Electro Groove e surge agora um pouco mais “despida”.

«A grande diferença é que a minha vontade agora já não é o gritar este tipo de coisas, embora seja complementarmente atual, agora interessa-me mais o caminho do reforço positivo, do que de crítica direta, já estou cota…» afirma.

E não é só o passar do tempo que justifica esta diferença. Para além de artista, Mauro Amaral há muito anos que faz parte do movimento associativo e, durante quase uma década, participou em projetos de voluntariado internacional, como membro da ARCA (Associação Recreativa e Cultural do Algarve). Essa experiência ajudou-o a encontrar-se.

«A grande diferença dos últimos 15 anos na minha vida é que antigamente tentava impor-me ao Mundo para me proteger e agora já percebi que tenho de estar mais aberto a escutar, do que a dizer. Agora já há uma maturidade diferente e uma consciência da insignificância».

“Tu” é uma tema antigo que fala de Amor, escrito aos 18 anos, numa fase “Pré-ARCA”, mas cuja estrutura inicial «está praticamente intocada, quis mantê-la». Já “Fado da Linha” foge um pouco ao estilo do músico e é uma das novidades. Fruto de uma curta experiência de trabalho na Grande Lisboa, que lhe quebrou a rotina e despertou a vontade de escrever novas canções, traz-nos uma viagem na linha de Cascais sob o «ponto de vista do comboio e não das pessoas».

”Movimento” foi a primeira música a ser conhecida nesta nova encarnação musical de Mauro Amaral e tem muito de autobiográfico. «Sou tipo tubarão, se parar não oxigeno, não consigo parar. Tenho a comichão de precisar de fazer coisas e irrita-me a não evolução da minha própria vida e dos meus projetos». A origem africana, a forçada vinda para capital da Metrópole e a procura por um local de fixação pode justificar esse «perpétuo movimento, como dizia Carlos Paredes».

Como ilustra Mauro Amaral, «não sou de sítio nenhum e estou sempre a tentar criar alguma coisa». Mesmo depois de se ter fixado em Faro, mudou-se para a Praia de Faro onde a inquietação o levou, não «a ajudar o pessoal a fazer associações», mas a retratar as suas vivências no documentário “Ilha”. Há 5 anos mudou-se para Bordeira, no interior do concelho, onde, afirma orgulhosamente, ter conseguido estar «2 anos e meio sem dizer nada, calminho e discreto».

Mas mais uma vez mais o movimento não parou e acabou por oferecer os préstimos ao grupo motard Os Indomáveis, é participante ativo na Ass. Valorizarte, faz parte das Charolas e já tem na calha um projeto (Aquatropia) para um Festival de Artes Performativas e Artes Visuais, com residências artísticas em Bordeira.

O quinto tema do primeiro EP de Mauro Amaral é “O Nosso Amor” que, não sendo a última faixa do disco é a escolhida para encerrar os concertos. «Não há nada que nos alimente mais do que o nosso amor. Quer queiramos ou não assumir, é a paixão que nos move, que é o nosso motor pessoal. Da paixão vem o Amor e do Amor o respeito e do respeito vem o crescimento e é esse ciclo infinito que já não tenho vergonha de assumir», enquadrou.

O tempo, agora, é de acalmia, no que toca a concertos, mas para 2017 estão a ser programadas mais datas, com a ida ao B.Leza em Lisboa a aguardar a marcação do dia certo. Até lá, podem passar pelo BandCamp e ir treinando as vozes: “O nosso amor, não tem fim!”.

sulinformacao

Também poderá gostar

Órgãos Antigos a Sul José Carlos Araújo

Ciclo “Órgãos Antigos a Sul” leva música barroca francesa à Igreja do Carmo

O ciclo “Órgãos Antigos a Sul” vai ter mais uma sessão no sábado, dia

Low Tech Groove

Low Tech Groove atuam no Cantaloupe Café de Olhão

O quarteto Low Tech Groove vai atuar no domingo, dia 7 de Janeiro, às

tspe-vp-culatra-08

Ciclo «The sardine photo experience» estreia-se na Tertúlia Algarvia com fotos de Vítor Pina

A Tertúlia Algarvia, restaurante e espaço cultural na Vila-Adentro de Faro, vai receber, ao