O segundo concerto do Festival Terras Sem Sombra, dedicado a Davide Perez, está marcado para este sábado, 28 de Março, às 21h30, na Igreja Matriz de São Salvador, em Odemira. Reunindo um repertório e um conjunto de intérpretes de exceção, o concerto será – tal como os restantes que integram o FTSS – de entrada gratuita.
A organização está a cargo do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de
Beja. No domingo, uma ação de salvaguarda da biodiversidade chama a atenção para a preservação dos charcos temporários mediterrânicos.
O concerto, intulado “Davide Perez: Nápoles-Lisboa”, insere-se na 11ª edição do Festival Terras sem Sombra, que tem como tema O Magnum Mysterium – Diálogos Musicais no Sul da Europa (Séculos X-XXI).
O programa deste espetáculo, que oferece uma perspetiva da música do Sul da Europa, de Portugal a Malta, no século XVIII, desenvolve-se sob o signo da chamada escola napolitana.
O Município de Odemira, parceiro de iniciativa, recebe o festival com evidente agrado, após mais de uma década de ausência.
A carreira do principal compositor representado no programa, David(e) Perez (nasceu em Nápoles, em 1711, e faleceu em Lisboa, em 1778), encontra-se intimamente ligada a Portugal, pois foi contratado por D. José I para a corte de Lisboa, em 1752, como diretor musical e mestre das infantas, estreando logo no ano seguinte duas das suas óperas, Demofoonte e Adriano in Siria.
Descendente de uma família de origem espanhola, Perez estudou violino com Antonio Gallo, um dos melhores violinistas italianos da época, e contraponto com Francisco Mancini, mestre do Conservatório de Loreto.
Serviu como maestro na Real Capela Palatina, de Palermo, até 1748. Em 1752, quando se estabelece em Lisboa, depois da auspiciosa estreita da ópera Zenobia, em Milão, construía-se na nossa capital o Teatro de Ópera do Tejo, o qual, inaugurado em 1755, seria destruído nesse mesmo ano pelo terramoto.
Sendo maestro da Capela Real, o artista napolitano escreveu grande número de obras sacras. Veio a exercer igualmente uma extraordinária influência nos compositores portugueses que floresceram nos finais do século XVIII e nos princípios do XIX. Em todos eles, com destaque para Marcos Portugal, se nota o estro de Perez. A sua assinatura na Irmandade de Santa Cecília, a confraria dos músicos em Lisboa, data de 28 de Setembro de 1756.
Ensemble I Turchini e a redescoberta da música barroca do Sul da Europa
Quanto aos intérpretes, o grupo I Turchini é considerado o ensemble mais representativo de Nápoles e uma referência incontornável no panorama internacional da música barroca.
Fundado e dirigido por Antonio Florio, é formado por cantores e instrumentistas especializados na interpretação da música napolitana dos séculos XVII e XVIII, valorizando a descoberta de compositores desconhecidos.
A originalidade do repertório e a adesão a uma estrita prática do desempenho barroco faz de I Turchini uma das vanguardas da cena musical italiana e europeia.
De acordo com o autor das notas de programa deste concerto, o musicólogo Manuel Carlos de Brito, «a importância de Nápoles na história da música nasce não só da enorme influência e fama europeia dos seus conservatórios, como do facto de ter sido nessa época um dos principais centros de atividade operática na Península Itálica, aliada a uma igualmente intensa produção de música sacra, rivalizando num ou em ambos esses campos com outras grandes cidades de Itália».
«As relações tornaram-se muito próximas entre os dois tipos de música, visto que o estilo da música de igreja foi largamente contaminado pela linguagem da ópera, através da introdução de números vocais a solo que pelo seu estilo virtuosístico e muito ornamentado não se distinguem de verdadeiras árias de ópera, lado a lado com números corais que tendem a refletir e dar continuidade à tradição da polifonia sacra originária da Renascença», conclui o musicólogo.
A par de I Turchini, atuarão quatro grandes cantores da cena internacional: a soprano Valentina Varriale, a meio-soprano Daniela Salvo, o tenor Rosario Totaro e o baixo Giuseppe Naviglio.
Terras sem Sombra chama a atenção para os charcos temporários
Na manhã de domingo, 29 de Março, músicos e público, moradores e visitantes juntarão esforços para uma ação de voluntariado orientada para a salvaguarda da biodiversidade, tal como já é hábito no Festival Terras Sem Sombra.
Trata-se de uma iniciativa que conta com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina), da Liga para a Proteção da Natureza e da Escola Secundária Manuel Candeias Gonçalves, com o apoio da Câmara Municipal de Odemira.
Os Charcos Temporários Mediterrânicos são habitats notáveis. Apesar da sua raridade, encontram-se com relativa frequência no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Considerados prioritários pela Diretiva Habitats, albergam uma biodiversidade deveras significativa, adaptada às condições ecológicas extremas que alternam entre o encharcamento e a secura estival. Não obstante isto, encontram-se seriamente ameaçados por um conjunto de atividades humanas, desde a intensificação agrícola e a drenagem até à deposição de entulho e à pressão turística.
Numa atividade pioneira, os participantes vão levantar o véu em relação à biodiversidade destes sistemas, através de um passeio pedestre em torno de charcos temporários da Costa Sudoeste que estão a ser alvo do projeto Life – Charcos, coordenado pela Liga para a Proteção da Natureza.