A exposição coletiva “Peregrinação. A partir dos painéis de São Vicente” abre este sábado, 3 de Setembro, às 16h00, na Fortaleza de Sagres, com obras de Ana Celorico Machado, Christoph Rumpf, Bettina Semmer, Joana Villaverde e Pedro Leitão.
Na abertura, serão lidos textos de Jacinto Palma Dias e haverá ainda uma performance culinária do cozinheiro José Pinheiro.
O objetivo da coletiva é, segundo os seus promotores, que o local retome «o seu papel de peregrinação e que, ao longo dum período de tempo, uma sucessão de intervenções plásticas lá deixassem a sua marca, como as camadas duma história que se faz, as marcas deixadas num local pelos passantes».
Os Painéis de S. Vicente e a zona do Promontório de Sagres têm em comum a figura do santo, que é a personagem central da obra considerada ícone da cultura portuguesa e dá nome ao cabo que fica nas imediações, onde o corpo do mártir terá repousado, guardado por corvos. É destas convergências que parte esta intervenção artística.
«Os painéis de S. Vicente, atribuídos a Nuno Gonçalves, são um ícone da cultura portuguesa, uma referência da história da pintura em Portugal e da História tout court», explica a Tertúlia – Associação Sócio-Cultural de Aljezur, que promove a iniciativa, em nota de imprensa.
«Desde a sua descoberta, no final do séc. XIX, têm sido objeto de atenção e estudo por parte de gente vinda de diferentes horizontes – historiadores obviamente, mas também intelectuais, escritores, artistas, cientistas, curiosos…podemos por isso dizer que são talvez a obra de arte mais conhecida e reconhecida em Portugal», acrescenta.
«A época e o tema retratados ligam-se ao século e à história da Expansão Portuguesa. E embora existam poucos dados da época que nos informem de forma exata sobre os painéis, eles representam algo do que foi e do que é Portugal», diz ainda a Tertúlia.
Por outro lado, «o Cabo de S. Vicente é um ponto último da peregrinação e do culto ao santo. Os registos do culto a S. Vicente indicam o cabo como o local onde a barca com os restos mortais do santo deram à costa, e ficaram depositados até Afonso Henriques os ter levado para Lisboa».
Por isso, a exposição coletiva, além de pretender devolver a Sagres o seu papel como local de peregrinação, agora por motivos artísticos,pretende ainda partir «de uma interação com o próprio monumento, remetendo para a ideia de descoberta, de estratificação do processo histórico e da sua leitura, numa reinterpretação que pretende fazer a ponte com a atualidade».
A mostra, integrada no programa de Divulgação e Valorização dos Monumentos do Algarve (DiVaM), promovido pela Direção Regional de Cultura em conjunto com diversos agentes culturais, é uma iniciativa da Tertúlia – Associação Sócio-Cultural de Aljezur e pode ser vista até 24 de Setembro.
Quem são os artistas?
Ana Celorico Machado
Mestre em Antropologia Social, tendo estudado na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Paris V como bolseira do governo francês.
Foi investigadora do Centre d’Études Tsiganes de Paris, professora adjunta na Universidade do Algarve e Visiting Scholar da University of Massachusetts at Amherst.
É co-autora de artigos e livros sobre os ciganos em Portugal, tendo posteriormente trabalhado nas áreas da Museologia e da Antropologia da Paisagem.
Depois de se instalar na Costa Vicentina, co-fundou e co-dirigiu a Escola Livre do Algarve.
Dedica-se atualmente à escrita, tradução e projetos de investigação ligados à história local e à etnografia.
Foi uma das convidadas nos projetos Até Onde a Vista Alcança e Fresh Wi(n)dow de Susana de Medeiros.
Pedro Leitão
Nascido no Porto (1973), viveu em Florença, Veneza, Londres (onde se destaca o projeto de Intervenção Social no Oasis Nature Garden – com o apoio da Fundação Gulbenkian) e Istambul antes de se estabelecer em S.Bartolomeu do Sul, Algarve, onde é membro fundador do coletivo The Beekeepeers.
Participou em várias exposições individuais e coletivas com destaque para “The Beahaviour of Being” na Cob Gallery, Londres (2015), “Escola Europeia de Imaginação Social” no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA) com curadoria de Franco Berardi, “Human Landscapes”, na Alan Gallery, Istambul.
O seu principal focus e motor é a pintura; com prática regular na escrita, edição, intervenção social, ilustração, vídeo e curadoria.
O seu percurso académico inclui um mestrado em Psicologia pela Universidade do Porto, formação em Fotografia, Cinema, Teatro; Pós- Graduação em Playwork, passagem pela graduação de Belas-Artes do Goldsmith´s College, Londres.
Bettina Semmer
Nascida em Düsseldorf, possui um extenso currículo na área da arte contemporânea- exposições internacionais, filmes e intervenções artísticas.
Os seus estudos com Sigmar Polke e Gehard Richter e, também, na área do Cinema, em Hamburgo, deram forma ao seu trabalho, um trabalho de interrogação e re-afirmação da pintura como meio(médium).
As suas atividades recentes incluem murais e workshops em campos de refugiados do Sahara Ocidental perto de Tindouf (Argélia), intervenções na cidade de Potsdam (The Good Life, 2015) e uma participação na plataforma “Os anos 80 – Pintura figurativa na Alemanha”, no reconhecido Städel Museum, em Frankfurt, e no Groninger Museum, na Holanda. Trabalha também como curadora e dirige o espaço Semmer-Berlin.
Jacinto Palma Dias (Castro Marim, 1945)
Licenciado em História Univ. Paris VIII em 1973. Publica “O Algarve Revisitado”, Loulé/Lisboa em 1994. Em 1999 publica “A Metáfora da Água, da Terra e da Luz na mitologia do Algarve arcaico”.
Enquanto na primeira publicação se tratou da civilização material, nesta última estudou-se a cultura imaterial, e será assim que nos aparecerá a cultural imaterial impregnada de um cristianismo de teor moçárabe. E, claro, o S. Vicente.
Na sequência desta publicação, a Associação Álvaro de Campos, de Tavira, organizou um acontecimento no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, em que Jacinto Palma Dias discorreu sobre os painéis de S.Vicente de Nuno Gonçalves.
Publicações recentes: “Algarve 3D” bem como “Estéticas e Inestéticas no Algarve contemporâneo”.
Abandonará em seguida o Algarve como tema para se dedicar a Portugal pelo que “Portugal Antes de Portugal” já está no prelo.
Joana Villaverde (1970)
Vive e trabalha entre Lisboa e Avis, Alentejo.
Expõe regularmente desde 1998.
Algumas das suas exposições: Animals Nightmare – Avis, Lisboa; Je Vous Garde – Pavilhão Branco, Museu da Cidade, Lisboa; Iron and Fire, Formato Comodo, Madrid; Desenhos – Sala do Veado, Lisboa; Identidades–continuação #4, Sociedade de Belas Artes Lisboa, Fundação EDP, NYC Scope Art Fair, Black & White Gallery; You Took From Me All the Air So I Cant Breathe, Nova Iorque, residente na Location One, como Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
Artista residente durante dois meses na Guest House da Fundação Qattan Rammallh, em Jericó, Palestine. Participou em Ramallah na conferência Benjamin Palestine. Em todas as suas estadias na Palestina organizou workshops de desenho na International Art Academy, Ramallah.
Colabora também de forma regular em teatro, onde fez cenários para peças representadas: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Cornucópia, Centro Cultural de Belém, Culturgest, Teatro Nacional Sao João e Teatro do Bairro, para o qual faz a maioria dos desenhos dos cartazes e programas mensais.
É co-autora, com Mafalda Ivo Cruz, do livro “Emma” editado pela Cavalo de Ferro.
O seu trabalho está representado na Fundação EDP, na Diocese de Beja e em diversas colecções particulares, nos EUA, em Portugal , Espanha, Franca, Bélgica e Palestina.