“Ribat da Arrifana, cultura material e espiritualidade” é o título da exposição documental que abriu a 18 de Maio, Dia Internacional dos Museus, na sede da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur.
A mostra, que pode ser vista até 18 de Junho, apresenta cartazes, livros e artigos de jornal sobre este importante sítio arqueológico, recentemente classificado como monumento nacional.
O convento ou ribāt da Arrifana, situado na península da Ponta da Atalaia, a poente de Aljezur, foi fundado em cerca de 1130 (525 H), pelo místico e líder político-religioso Ibn Qasī.
«Ali procedia aquele mestre sufi à divulgação dos seus princípios doutrinários, à preparação dos seus correligionários para a guerra santa e tentava a aproximação a Deus, desenvolvendo importante problemática filosófica e ideológica, que haveria de conduzir à sua revolta contra Almorávidas ou Almoadas e à criação de estado teocrático», explicam Mário e Rosa Varela Gomes, o casal de arqueólogos que há mais de uma década descobriu e tem escavado este sítio arqueológico situado no litoral de Aljezur.
Local desde cedo citado, a sua localização precisa era, no entanto, desconhecida, até à identificação ocorrida em 2001. Desde então, escavações arqueológicas anuais, conduziram à descoberta dos restos de seis mesquitas, com constituição e dimensões diferentes, de celas e “vivendas”, tal como de minarete e de possível madrasa ou escola corânica.
Também se encontrou numeroso espólio, agora dado a conhecer, nomeadamente cerâmicas, utilizadas no quotidiano, armas de diferentes tipos, pequenos amuletos e inscrição de conteúdo religioso.
A alta plataforma litoral da Ponta da Atalaia encontra-se coberta por dunas e vegetação rasteira, sendo varrida pelos intensos ventos marítimos e estando grande parte dos dias envolta em denso nevoeiro. A paisagem é telúrica ouvindo-se a ação do mar, agitado ou calmo, mas investindo sem cessar contra as negras falésias caprichosamente recortadas.
Nos dias de céu limpo e luminoso, dali se avista largo trecho litoral, do cabo de São Vicente, no extremo sudoeste, ao cabo Sardão, na Costa Alentejana, como a imensidão oceânica.
«As características geográficas mencionadas, correspondem à necessidade de isolamento e de austeridade, imprescindíveis ao ascetismo, à contemplação da Natureza e à reflexão metafísica, fatores intrínsecos à mística sufi, seguida por Ibn Qasī, assim se propiciando o encontro com o transcendente», acrescentam os arqueólogos.
«É bem possível que naquele lugar, onde o mestre sufi ergueu o seu ribāt, também tenha escrito a célebre obra “Livro do Descalçar das Sandálias”», concluem Mário e Rosa Varela Gomes.