Samuel Úria é o artista que se segue nos Serões da Primavera, em Santo Estêvão, Tavira. Neste segundo concerto do ciclo, o músico traz “Carga de Ombro”, para apresentar no palco da Casa do Povo de Santo Estêvão, esta sexta–feira, dia 28 de Abril, às 22h00.
É um regresso esperado a um território onde, apesar de até por cá ter dado poucos concertos, afirma já ter feito amigos e que há caras que, acredita, vai rever. «São pessoas que se dão ao trabalho de me ir ver e fazem questão de ter os meus discos , como é que não os hei-de de considerar como amigos?», revela Samuel Úria, em entrevista ao Musicália|Sul Informação.
O artista, que já veio ao Algarve com diferentes formatos – com banda e a solo – apresenta-se, desta vez, em duo com Miguel Ferreira, teclista de clã e produtor de “Carga de Ombro”, e promete um concerto festivo. «Apesar de ser apenas mais uma pessoa, o Miguel tem a genica e os recursos técnicos para tornar um concerto de duo em quase num concerto de banda».
A atuação não se irá basear apenas no último trabalho, uma vez que, sendo o 7º de uma carreira que começou em 2003, há já temas que se tornaram clássicos. Mas este disco tem tido uma maior projeção, o que o autor atribui a uma certa frescura que talvez tenha faltado aos anteriores.
«Eu ainda ando a tocar este disco de uma maneira que parece que não se esgotou, como outros discos, num espaço de um ano. Acho que tem a ver com a descoberta que as pessoas têm feito de canções diferentes, o que faz com que o disco continue a ser reavivado por esse interesse», comenta Samuel Úria.
O antigo professor de desenho, convertido agora a outra arte, viu o seu nome ganhar um pouco mais de projeção no último ano. Samuel Úria é hoje bem mais conhecido, mas, para o músico, não é algo que possa ser atribuído apenas à promoção e ao impacto dos temas de “Carga de Ombro”.
A sua participação no festival da canção «bem mais mediatizado que nos anos anteriores» e até um «nome algo estranho», que em tempos lhe pode ter trazido alguma infelicidade, ajudam a que fique mais facilmente retido na memória das pessoas.
A música de Samuel Úria não é feita apenas em nome próprio. São vários os colegas com quem tem trabalhado e que sobem consigo, no próximo mês, ao palco do Tivoli, em Lisboa, no que pode ser considerado como a celebração das conquistas até ao momento.
Manuela Azevedo, Ana Moura ou até as Golden Slambers, para quem escreveu o tema para o Festival da canção, são alguns dos convidados deste concerto especial.
«Tenho tido trabalho e desafios e alguns têm partido de outras pessoas. Essa amizade entre músicos, mais do que um conceito lamechas, tem, profissionalmente, as suas vantagens. O momento da música portuguesa é peculiarmente saudável, porque essas amizades têm-se consolidado em discos, em canções e em colaborações, o que é bom para os artistas e para a música portuguesa».
O músico sente-se um afortunado, porque estas interações com outras pessoas de maior ou melhor relevo que se entreajudam, ampliam a sua carreira.
Samuel Úria é um dos rostos da editora Flor Caveira, uma das promotoras que, no início do século, deu a conhecer alguns dos novos talentos nacionais, ajudando a dar uma nova vida à música portuguesa e a reconhecer o que é feito em Portugal.
Para quem fazia parte do movimento, é algo nem sempre fácil de perceber. «A altura em que tive de começar a concordar com a ideia de que tínhamos contribuído para essa mudança, foi quando uma geração imediatamente a seguir à nossa começou a citar-nos e a referenciar-nos enquanto papel fundamental para a música que estão a fazer. Há muitos que estão hoje a “dar cartas” e que, por exemplo na questão de cantarem em português, referem a Flor Caveira ou outras editoras pequenas da altura, e que, de alguma forma, reformularam o panorama da música portuguesa», reconhece compositor.
No início da sua carreira musical, Samuel Úria andou pelo punk, ska e trip-hop, mas foi-se deixando ir a reboque das canções e, nos últimos dez anos, tem-nas pensado sempre em contexto de disco, o que faz com que surjam «agarradas umas às outras» e, apesar de manter estilos diferentes, «há uma consolidação conceptual que tem de fazer sentido».
A escrita dita muitas vezes o caminho para onde segue a melodia, mas o autor garante que pode, deliberadamente, contrair o que a letra está a sugerir, «e uma canção que tenha uma letra mais difícil é a que tem de ser mais açucarada para que as pessoas a possam aceitar e não a estranhar.»
Afirmando querer vir ao Algarve trazendo, como palavras de ordem, a amizade e a integração, Samuel Úria deixou uma sugestão para terminar a sua entrevista ao Musicália|Sul Informação: o tema «Repressão», apresentado pelo autor como uma música «queixinhas», sobre «uma certa centralização lisboeta»…
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