The Hilliard Ensemble presenteou, no seu último concerto em Portugal, a repleta igreja matriz de Santiago do Cacém com uma interpretação de notável superioridade técnica de um programa extenso e completo, numa viagem desde o Românico ao Maneirismo.
Este fim-de-semana ficou marcado pela despedida do agrupamento vocal inglês dos palcos portugueses, após uma brilhante carreira de quatro décadas. O terceiro concerto inserido na 10ª edição do Festival Terras Sem Sombra integrou-se, deste modo, no ciclo de despedida de um dos mais notáveis grupos do seu género a nível internacional, que terminará a sua carreira no final deste ano.
A matriz de Santiago Maior foi testemunha de um concerto memorável, em que as quatro vozes se entrelaçaram e deram vida à seleção das quinze monodias e polifonias antigas, desde Pérotin (séc. XII) a William Cornysh (séc. XVI).
Como assinalou o professor Paolo Pinamonti, “ter o privilégio de assistir a um dos melhores grupos vocais do mundo, num cenário assinalável como a matriz de Santiago Maior, é, já por si, algo irrepetível. Se somarmos o facto de esta ser a última atuação em Portugal do grupo, estamos a falar de um concerto único e de uma qualidade excecional”.
No dia seguinte, os santiaguenses tiveram oportunidade de participar na ação de salvaguarda da biodiversidade promovida pelo Festival Terras Sem Sombra, em colaboração com o Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas do Alentejo (Reserva Natural das Lagoas de Santo André e Sancha), em prol do potencial ecoturístico do litoral português.
Os cerca de 1000 metros que compõem o Percurso do Salgueiral da Galiza preservam um bosque de salgueiros, de grande qualidade e raridade, em que a extensão das raízes à superfície do solo forma uma rede radicular suspensa de dimensão invulgar, que permite albergar espécies raras de flora e, também, diversas espécies da fauna local.
Festival Terras Sem Sombra segue rumo a Beja
O quarto concerto da 10ª edição do Festival de música sacra do Baixo Alentejo tomará lugar no próximo dia 10 de Maio, às 21h30, com a subida ao palco da igreja matriz de Beja do ensemble residente na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, Capella Duriensis.
Com direção musical de Jonathan Ayrest, o reportório interpretado dará ênfase a Béla Bartók, um dos compositores mais originais e mais versáteis da primeira metade do século XX, e aos portugueses João Lourenço Rebelo [1610-1661], Pêro de Gamboa [1563?-1638], Mestre da Capela da Sé de Braga e Fr. Manuel Cardoso [1566-1650].
No dia seguinte, o Festival promove uma ação de salvaguarda da biodiversidade dedicada ao montado de azinho. Este ecossistema encontra-se, atualmente, em franca regressão, fruto de más práticas culturais, problemas fitossanitários e perda de vitalidade económica, que se traduziram na diminuição de mais de 10 000 hectares dos povoamentos nos últimos 15 anos.
A atividade, que contará com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, incidirá na visita a explorações agro-silvo-pastoris, associadas ao Sítio da Rede Natura Guadiana.