A imagem da edição de 2016 da Feira Medieval de Silves, que este ano terá como figura de inspiração Ibn Qasî, já está a ser produzida. Mais uma vez, o fotógrafo responsável é André Boto, que contou com a colaboração de mais de meia centena de voluntários e ainda de Anita Oliveira (do salão de cabeleireiro Anita), que realizou, também por mais um ano, a caracterização das personagens.
Na sessão fotográfica, foram usados achados arqueológicos, que pertencem ao Museu Municipal de Arqueologia de Silves, «procurando dar um cunho o mais próximo possível daquilo que seria a realidade vivida no quotidiano da cidade, pelos seus habitantes, ao tempo em que Ibne Qasî percorria o território» de Silves, explicou ao Sul Informação uma fonte da organização.
As cenas criadas procuram dar a conhecer vários ambientes locais (o olhar do público poderá descobrir, quando tudo estiver concluído, espaços que certamente conhece, desde o Museu de Arqueologia, o Castelo, entre outros) e atividades que ocorreriam no quotidiano das pessoas que aqui terão vivido na época que se retrata.
Quanto aos participantes da sessão, todos voluntários, candidataram-se mais de 50 pessoas, após a Câmara de Silves ter lançado um desafio através do Facebook. Colaboraram pessoas de várias faixas etárias, que habitualmente participam na feira, seja como visitantes, seja como figurantes ou parte integrante de alguma das atividades que ali se desenvolvem (taberneiros, artesãos, etc.).
Na edição deste ano da Feira Medieval de Silves, que vai decorrer entre 12 e 22 de Agosto, será retratado um período da história da cidade que ocorre na primeira metade do século XII. É uma época politicamente conturbada, em que o poder deambula, com rapidez, entre vários atores políticos e militares.
Neste cenário político, no comando, estão os intolerantes Almorávidas, tribo aguerrida do Norte de África; pequenos poderes instituídos localmente que pretendem autonomizar-se; e os também norte africanos Almóadas, decididos a reunificar o poder a partir do seu centro político sediado em Marraquexe.
É neste ambiente pesado e hostil, em que prepondera o jogo político, que as alianças e os pactos acontecem, ao sabor das conveniências dos que, muitas vezes, escondem a sua ambição sob a capa da religião.
Figura central e incontornável da história local é Ibn Qasî, que nasce em Silves em data indeterminada, no seio de uma família abastada de raízes cristãs não muito longínquas.
A morte súbita dos pais quando ainda jovem fá-lo trocar a sua vida de prazeres por uma postura séria e responsável. Reafirma a sua devoção ao islamismo, vende os bens que herda da família, doa metade do dinheiro aos pobres e com o restante constrói um convento destinado a monges guerreiros (rîbat), não longe de Silves (tudo indica que seja o rîbat da Arrifana, na costa de Aljezur), que virá a ser sede da doutrina que funda com suporte espiritual no sufismo: o muridismo.
Ibn Qasî percorre o Gharb a difundir a sua doutrina e capta a atenção de populações que se revêm no seu pensamento, formando-se núcleos locais de apoio também em Mértola e Niebla.
Diz-se que assume o título de Madhí (Messias) e que a ele são atribuídos feitos divinos como a viagem a Meca numa só noite.
A doutrina múrida contraria, no entanto, alguns dos princípios do islamismo e a censura muçulmana persegue e condena os múridas. Ibn Qasî decide extravasar a contestação doutrinária e inicia uma guerra política que lhe permite aceder ao governo das mais importantes cidades do Gharb de então: Mértola e Silves.
Estes feitos dependeram, contudo, das estratégias políticas que empreende e que o levam a alternar as alianças, ora com almóadas, ora de novo com almorávidas.
É, no entanto, a sua aliança com D. Afonso Henriques, senhor de Portugal, que afronta os dominantes almóadas, mas sobretudo desgosta as classes possidentes muçulmanas, que, em Silves, até aí o haviam apoiado. A conspiração e a antevisão da sua própria morte pululam o seu espírito consciente de que estaria a desafiar o próprio destino.
Ibn Qasî é assassinado por um grupo de conspiradores, liderado por Ibn Al-Mundhîr, um dos seus apoiantes de longa data, senhor de Silves que com ele se havia incompatibilizado. O mestre murída é decapitado, espetada a sua cabeça na lança oferecida por D. Afonso Henriques e passeada pelas ruas da cidade com o grito: “Eis aqui o Madhí dos cristãos”.
Todos estes episódios serão não só revividos na Feira Medieval de Silves, em Agosto, como foram já recriados em imagens, pela objetiva do fotógrafo André Boto.
Entretanto, o prazo de inscrição para voluntários que desejem colaborar com a organização da XIII Feira Medieval de Silves foi alargado até ao dia 30 de junho.
Os interessados poderão fazer as suas inscrições clicando aqui.
Quem desejar inscrever-se, deverá ter mais de 16 anos, disponibilidade, motivação, espírito de equipa e responsabilidade e poderá vir a colaborar em áreas diversas, como o controlo de entradas, a animação, o acompanhamento de espetáculos, entre outras.